domingo, 22 de dezembro de 2013

Resposta aos leitores

É bem verdade que por vezes demoro imenso tempo para escrever, e peço desculpa a todos que aguardam noticias minhas de forma ansiosa. Não era  minha intenção provocar esse tipo de reação. Há muitas vezes que olho para a página do blogger, que está nos meus favoritos, e penso: "devia escrever qualquer coisa..." mas depois, por um motivo ou outro, não sinto a inspiração que gosto de sentir para o fazer... Mas agradeço humildemente a chamada de atenção.

Respondendo ao que alguém perguntava: "como está a correr o estágio?":

O meu estágio de medicina interna terminou esta sexta feira. Durante dois meses, acordei todos os dias da semana às 7h20, para garantir que jamais me atrasaria (apesar de viver a 10 minutos a pé do hospital). Os meus tutores eram rigorosos nos horários e a única vez que cheguei às 8h32 (sem mentiras, foi mesmo às 8h32), ouvi um sermão do tamanho do mundo! Foi a primeira e a última, e nem vale a pena dizer que não foi culpa minha o atraso...
Eu sou claramente uma pessoa cirúrgica. Gosto de "fazer", ver "acontecer", "intervir directamente". Sempre fui e sempre serei assim em Medicina. Por isso internar uma alguém para estudar uns determinados sintomas esquisitos ou internar um velhinho que vai precisar de 10 dias de antibiotico para curar a pneumonia, é muito interessante, realmente é e respeito imenso os colegas que o fazem, mas não me realiza. O meu momento auge do dia (em termos médicos) era quando eu tinha de ir fazer gasometrias (acto médico que consiste em tirar sangue de uma artéria)! E nos dias em que não havia "gasosas" para fazer, ou não havia consultas com o prof. para assistir ou urgências para fazer, parecia que tudo passava devagar.
Apesar disso, entrei todos os dias naquela enfermaria com um sorriso no rosto, com um "bom dia" cheio e pleno e a esperança de poder ajudar alguém. Diversos foram os casos de pessoas que me disseram frases que me enchiam o coração para a semana inteira e foi por elas que fiz este estágio, e certamente foi graças a elas que consegui uma boa nota... Nunca me irei esquecer do Sr. José, de 75 anos, que me disse numa segunda-feira quando cheguei perto da cama dele: "oh senhora doutora, estou aqui cansado de pensar em si, a ver quando me viria ver...". E ele não me queria fazer nenhum pergunta, não queria queixar-se de nada, só queria "conversar" comigo... e lá ficamos os dois à conversa um bom bocadinho... As velhinhas a cantar, algumas tocadas pela sua demencia, a dizer tudo quanto pensam... 
O que mais gostei foram sem dúvida "os meus velhinhos", como me costumava referir a eles... Sempre achei tão sábia a velhice, tão inocente e tão vivida, e só espero puder lá chegar.

E o que menos gostei e mais me doeu foi ver que alguns médicos se tornam insensíveis aos gemidos de alguém, ficam chateados quando um senhor demenciado, que não sabe bem o que está a fazer, tira as sondas nasais ou o soro, ou insiste em levantar-se sozinho nu para ir ao wc... Peço ao universo que não deixe que a rotina, as frustrações da vida, ou qualquer outra coisa me torne numa médica fria e "habituada" ao sofrimento dos outros, como se isso não pudesse ser mudado, como se não houvesse esperança...

Agora que esta etapa já foi concluída, aproveito as férias para dormir até às 11h, para estudar à tarde o "harrison" e para aproveitar o calor da lareira e dos pais à noite. Mata-se saudades do afilhado (que entretanto já tem 10 meses), e espera-se com entusiasmo e calma o novo ano, as novas etapas que por aí virão...
O próximo estágio é Psiquiatria, durante um mês. E depois disso, é ESPANHA.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

O ensinamento de Buda

Como sabem, esta caminhada espiritual começou já há algum tempo. Creio que foram mais os dias que permaneci parada do que a andar para a frente. Talvez houvesse alguns dias em que olhei para trás.

Quando nos apercebemos que não estamos bem num determinado meio, ou tradição, ou grupo, não é fácil admitir que o mais importante é mudar, nem é propriamente banal fazê-lo. 
Eu procurei informação e graças à maravilhosa internet, isso foi o que não faltou. E quanto mais lia, menos entendia. As coisas não faziam sentido e parecia vago e vazio demais apegar-me a algo sem ter uma fonte fidedigna. E parecia tudo tão complicado! Para ser budista é preciso meditar todos os dias, e ter um mestre e ter um mala, e refugiar-nos nos mosteiros silenciosos do Alasca e mais uma enorme lista de coisas?! Que raio de budista era eu que não fazia metade dessas coisas? Então não era nada?! Que enorme buraco espiritual...
Resolvi perder o amor a uns euros e finalmente encomendei o livro "O Ensinamento de Buda", recomendado pela União Budista Portuguesa. Agora sim, já entendo, as minhas questões foram respondidas.

"Há pessoas que acreditam que o Budismo é um sistema tão elevado e sublime que não pode ser praticado por homens e mulheres comuns neste nosso atarefado quotidianoe que nos precisamos de retirar para um mosteiro...se quisermos ser um bom budista. (...) O Caminho do Meio, que constitui o modo de vida budista, destina-se a todos. (...) A crença comum segundo a qual, para seguir o ensinamento de Buda, temos de nos retirar da vida, é uma concepção errada, e é na verdade um mecanismo de defesa inconsciente contra a sua própria prática." 

"Todos os Homens têm a potencialidade de vir a ser um Buda, se o desejarem e nisso se empenharem."

"As obrigações mínimas de um budista laico são (1) não destruir vida; (2) não roubar; (3) não cometer adultério; (4) não mentir; (5) não beber bebidas intoxicantes."

"Não há rituais externos que um Budista tenha de desempenhar."

 E meditar não é nada do que as pessoas pensam ser - aprendi recentemente o conceito, directamente das origens. 
 Agora sim, sinto que comecei a caminhar.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Mestre!

Ontem alguém me dizia "então? esse amanhã conto como foi nunca mais chega..." e eu ri-me bastante ao ler o comentário. Pensei "realmente, que falta a minha!" Por isso hoje, das primeiras coisas que estou a fazer, é tentar remediar essa situação!

Acho que não escrevi antes porque isso implicava parar para pensar em todo este percurso percorrido, em todas as pessoas que conheci e chamei de "amigos", em todas as dificuldades ultrapassadas...Além disso, as coisas correram tão bem que nem sei como vou explicar como foi o dia, sem parecer uma presunçosa. =/

Depois de ter apresentado o meu powerpoint em voz baixa, média e alta, aos soluções e depois sem interrupções cinquenta vezes, e de ter treinado possíveis respostas mil e uma vezes, o despertador tocou para aquela manhã tão esperada. Lá vesti a roupa nova que tinha arranjado: metade no shopping, metade no guarda fatos da  minha irmã.Quando cheguei aos auditórios do hospital, onde teria lugar a defesa, o átrio estava invadido de propaganda cirúrgica e estava a decorrer um congresso nos auditórios vizinhos. Senti-me grata por aquele barulho de fundo, que quase não me deixava ouvir os meus próprios pensamentos de aflição. Apareceu uma amiga minha para me dar um abraço e dizer aquelas palavras que todos gostamos de ouvir, mas ninguém acredita: "vai correr tudo bem!". Depois apareceu o arguente do jurado, já perto das 9h. Por fim, o meu namorado e depois a minha amiga e colega de quarto - as únicas duas pessoas que se disponibilizaram a ir assistir à defesa e que eu permiti. Às 9h em ponto os restantes jurados e assim que o auditório ficou livre, disseram "vamos indo" e eu percebi que era mesmo agora.
A presidente do júri começou por apresentar as regras do jogo: eu teria 15 minutos para fazer uma apresentação sobre a minha tese, depois o arguente iria comentar o que achasse pertinente e faria uma lista de perguntas. Eu teria depois o mesmo tempo que ele teria demorado para responder às questões, sem necessidade de o fazer pela ordem que ele as colocou. Depois os restantes jurados fariam as suas apreciações criticas. Após a explicação, disse: "quando quiser, pode começar".
A apresentação correu muito bem. Não me esqueci de referir nada do que queria, falei com calma e voz bem projectada. Cometi o erro de olhar para a minha pequena assistência no final, e tive de controlar as lágrimas nos olhos quando os vi sorrirem felizes.
O Prof. elogiou imenso o trabalho, a forma como foi desenvolvido, fez a tal lista de perguntas. Eu estive sentada em frente a ele a responder. Nunca numa "oral" estive tão tranquila, tão assertiva.
Os restantes jurados também só elogiaram o trabalho. No final decidiram "por unanimidade" a minha nota.

Recebi imensos telefonemas e abraços e beijinhos e tudo a que se tem direito quando se defende uma tese de mestrado com sucesso. Tive inclusive o restante dia de folga, vejam lá! Fui ao cinema ver "dá tempo ao tempo" e andei a passear pela baixa de Coimbra, e assim se passou o dia que gravei num cantinho especial da memória.

Depois ficou a sensação: "de hoje a um ano, faço o meu exame de especialidade", que não me assusta, mas que guardo para os momentos de preguiça.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Quase...quase... Mestre

Passou cerca de um mês desde a última vez que escrevi, e desde o início do estágio de Medicina.
Nem eu dei pelo tempo passar, e já estava a meio de Novembro, já os enfeites de Natal estavam postos em todos os lugares comerciais e é quase impossível não pensar "lá se foi mais um ano".

Amanhã é um dia muito importante para os colegas mais velhos que terminaram o curso em Julho deste ano - fazem a prova de seriação nacional, o apelidado "Harrison", que lhes vai permitir depois escolher uma especialidade.
Por isso, de amanhã a um ano, será a minha vez. Não deixa de ser reconfortante pensar que "ainda" falta um ano. Nos momentos de stresse, pensa-se que "já só" falta um ano...
Mas mais importante que pensar no que acontecerá em 2014, será pensar que amanhã o dia é importante para mim por si só - defendo a minha Tese de Mestrado.

Já treinei a apresentação váaaaarias vezes! Já li a tese váaaaarias vezes (algumas vá, que aquilo é grandinho)... E já me preparei para as perguntas que quase de certeza me irão perguntar (que são sempre relativas a resultados não esperados e a resultados inovadores... essas duas coisas, não falha!).
Arranjei uma roupinha mais clássica, como manda a tradição, e já suspirei umas quantas vezes, ora porque o tempo passa devagar demais, ora porque passou a voar!

Falta então esperar mais umas quantas horas, rezar para que ninguém me perturbe a noite de descansa, incluindo eu mesma e a minha mania de não desligar o cérebro em situações de ansiedade.
Amanhã conto como foi.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Novo estágio - Medicina Interna

Na passada 6ª feira terminei o estágio de medicina geral e familiar. Foram 2 meses de muitas consultas, muitas histórias, muitos desabafos, uma nova perspectiva sobre a especialidade.
Aprendi muito, fiz boas relações que certamente perdurarão, e no final e para me encher o coração, recebi muitos elogios (que sabem sempre tão bem).

Ontem começou o estágio de Medicina Interna. Passo de uma especialidade geral não hospitalar para uma geral hospitalar, com internamento, urgências, etc. A coisa não correu lá muito bem logo no 1º dia - ficamos com um tutor que não sabia que iria ter alunos e não apareceu... 3h de espera até que alguém caridoso nos mandou embora.
Hoje as coisas já estavam orientadas. O tutor apareceu e disse com quem iríamos ficar no dia a dia. Gostei bastante do ambiente interpessoal, de ajuda e de ensino. Adoro ouvir a frase "quando tiveres dúvidas, diz" porque acho que isso é que faz sentido, especialmente em anos clínicos e tão importantes como este. A partir de amanhã serei responsável por 2 doentes. Terei de conversar com eles para saber como passaram a noite, saber os seus parâmetros vitais, anotar as suas queixas, fazer o exame objetivo que achar necessário, e depois colocar toda essa informação no processo clínico do doente. Sempre que entrar novos doentes, terei de colher a história. Daqui a algum tempo, já me vai ser pedido que adeqúe o plano terapêutico e faça sugestões no seu estudo. Por outras palavras, e citando os meus responsáveis: "aqui vocês serão como médicos mesmo, bastante autónomos, e nós estaremos aqui sempre para ajudar." Pareceu-me uma boa estratégica.
No meio de tudo isto, tive a sorte de ficar com uma menina de ERASMUS espanhola. Por isso tenho falado com ela em espanhol, e ela comigo em português, e corrigimo-nos uma à outra e eu faço umas traduçõezinhas para os restantes médicos quando ela fala rápido. Melhor treino que este não poderia ter, visto que já só faltam 3 meses para eu ir para Espanha...

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Último Cortejo da Latada

Ontem à noite, depois da minha habitual dose de estudos diários incompletos (porque isto de traçar objetivos e cumpri-los no que toca a este assunto não é comigo), permiti-me apreciar a noite.
Durante todos estes anos que vivi na residência, a minha cama era sempre a do lado da janela; este ano, pela primeira vez, estou do lado da porta do quarto, e por isso tenho como visão quando estou na cama o "lá fora".
Não sei como se diz aquela coisa da casa estar virada para norte ou para sudoeste ou lá o que seja...nem sei aplicar essas teorias geográficas, como a grande maioria das mulheres que sofrem de desorientação espacial. Só sei que estamos posicionados de uma forma que quando chove, a água bate diretamente no vidro da janela. As luzes amarelas da cidade brilham mais nestas noites para mim, porque a água a escorrer, associada ao meu astigmatismo, fazem-as parecer mais fortes. O efeito do vento nas pequenas árvores do nosso jardim, e nos sacos de papel esquecidos por alguém, formaram um cenário intrigante, como uma dança de folhas e pequenos pedacinhos brancos na relva... A rua tinha poucos carros estacionados, um silêncio mundano que eu adoro. 
Pensei na minha antiga colega de quarto, no que ela pensaria ao ver noites como as de ontem, quando se sentava na sua cama do lado da porta... Pensei no quanto ela me ensinou, no quanto eu cresci desde então. Pensei que hoje seria o último cortejo da latada a que eu assistiria enquanto estudante. Senti saudades dos tempos que já passaram, mas não fiquei triste. Vivi tudo o que queria viver até hoje, e não me arrependo do que deixei por fazer, porque tudo o que não fiz, foi por opção...

Manda a tradição que os finalistas voltem ao cortejo da latada como caloiros, e voltem a vestir-se com fatos originais e engraçados... Creio que manda a tradição que percebamos que quando um ciclo retorma ao seu início, fechando-o, está para terminar uma etapa da nossa vida.
Hoje vou ao cortejo com esta consciência e esta alegria, porque foi (e continuará a ser até ao final com certeza), uma das etapas mais felizes e mais gratificantes da minha vida. 
Se virem algum ovo estrelado a passar poderei ser eu!

sábado, 5 de outubro de 2013

Tese de Mestrado

Nunca antes me tinha acontecido ter de ficar sem almoçar para conseguir terminar alguma coisa, nunca fui pessoa de deixar as coisas para os últimos minutos, mas para tudo há uma primeira vez, dizem. Ontem foi o dia em que tive de trocar a paz de uma refeição pelo stresse de ver pela quinquagésima vez se os textos estavam todos certos, se as páginas estavam bem, se o índice não tinha erros, se todas as palavras que era suposto estar em itálico, realmente estavam. Tive de ajudar o senhor da reprografia a ordenar as folhas, e tive de correr desalmadamente rua abaixo, rua acima, (enquanto a resistência física permitiu)... Eram 15h50 quando finalmente cheguei à porta do BEDEL do hospital. A senhora disse: "já me ia embora agora mesmo!" Eu respondi-lhe que só era suposto fechar às 16h, que ainda estava dentro do horário. Após tanto esforço ainda tive de ouvi-la dizer "pois, mas faltam só 10 minutos para as 4, não tenho internet e já não me apetece estar mais aqui...".
Respirei fundo, ignorei a sua falta de profissionalismo, e só lhe disse: Vim entregar a minha tese de Mestrado..."

Quando vim embora, vinha leve e frágil, não sei se pelo cansaço nas pernas ou pelo alívio do peso nos ombros. E pensei de forma rápida em todas as tardes que tive de ir para o Instituto trabalhar, em todas as noites que ficava a adiantar trabalho para o dia seguinte, no que tinha aprendido ao desenvolver esta tese, nas pequenas vitórias que ela me proporcionou. Olhei para a capa de um exemplar de tese que tirei para mim e que tinha na mão e vi um erro na capa... Cheguei a casa e vi com mais calma todo o texto, e reparei em mais um erro, e mais outro, pormenores insignificantes talvez. Chorei. Tanto trabalho e ainda me escaparam alguns erros?
Depois tudo isso passou, e ficou de novo só o cansaço e o alívio. Ofereci a mim mesma um enorme bolo e um sumo na estação de comboio - era o meu almoço e a minha recompensa a curto prazo. Passei pelas brasas na viagem, e às 23h30 já eu dormia tranquila....até hoje bem tarde.

É como eu sempre digo aos colegas mais novos, há duas formas de encarar a Tese de Mestrado:
- ou se faz algo simples, rápido e sem grande interesse e fica-se com o assunto "arrumado" (se tivermos em conta que só vale 6 créditos e que é um ano em que se tem imenso para fazer);
- ou se faz um trabalho que realmente se gosta, que tem relevo científico, que dá realmente trabalho (tendo em conta que é aquele determinado projeto que nos vais atribuir a designação de "Mestre", que é contabilizado no curriculum de forma independente do curso). Se assim for, escolham algo que gostem, invistam em vocês mesmos, façam um artigo que possa ser publicado depois....

...Eu optei por fazer algo que me deu realmente muito gosto.

sábado, 14 de setembro de 2013

Médico ou amigo?

Passaram-se já 2 semanas desde o tal 1º dia esgotante. Estes não foram mais calmos, posso assegurar. Continuar a levantar cedo, estar toda a manhã no centro de saúde, tardes e noites inteiras em frente ao computador. Ontem chegamos à conclusão que precisávamos de mais uma semana, por isso a minha tutora ficou de ligar para a faculdade a pedir para eu entregar a tese só em Outubro. Parecendo que não, esses 7 dias vão fazer muita diferença...

Entretanto as minhas manhãs têm enchido o meu coração. A grande maioria das pessoas que entram naquele consultório, além de se queixarem de uma dor qualquer, ou da dificuldade em dormir, ou de outra coisa qualquer, normalmente trazem uma história para contar, alguma situação escondida por detrás daquelas dores sem sentido e estão simplesmente à espera que o médico lhes pergunte "então e o resto, como vai a família/a vida?". Já ouvi de tudo. Pais desiludidos com os filhos, casais em crise matrimonial, desemprego, saudades da companheira de uma vida que já partiu...
E depois vêm as manhãs em que vamos aos domicílios, porque há velhinhos acamados que não podem ir ao centro de saúde, porque há velhinhos em lares de idosos, porque um médico de família trabalha para a comunidade. E é espectacular a forma como eles ficam contentes quando vêem que não ficaram esquecidos. Há muitos que não podem saber o dia em que vamos lá, senão ficam tão ansiosos dias antes que isso até lhes faz mal à saúde...

Apesar de não saber se medicina geral e familiar seria uma boa opção para mim, devo admitir que quem realmente gostar do que faz num centro de saúde, pode realmente ajudar as pessoas, pode dar conselhos e opiniões, pode ser um amigo.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

"1º dia"

Hoje tive um dia esgotante. Já não estava habituada ao ritmo, nem estava a contar ter de parecer um saltitão de um lado para o outro, em diferentes pontos da cidade, com horários apertados, para honrar todos os compromissos.

De manhã estive no centro de saúde, como seria de esperar. Adorei a tutora que me calhou, não só pela sua simpatia, mas também pelo profissionalismo que demonstrou em todas as situações. Felizmente para mim, e pelo menos por enquanto, não partilho o consultório dela com mais ninguém. Não estou com mais nenhum colega do 6º ano e ela não tem internos do ano comum, nem internos de especialidade, que por muito queridos que sejam todos, por vezes são tantos que já nos atrapalhamos uns aos outros e uns fazem as coisas e os outros ficam só a olhar. Por isso tudo o que há para fazer, fica para mim. Desde a parte chata da informática e dos computadores que estão sempre a bloquear, até à palpação de barriguinhas e coisas mais médicas. Percebi que ia ganhar muito "traquejo", como se costuma dizer.

À tarde lá estive eu, desde as 14h às 17h30, em frente ao computador e fazer tratamento dos dados estatísticos, completar tabelas, rever e voltar a rever números e estrelinhas de significância... E assim se vai fazendo uma tese, devagar...

Cheguei a casa e já não tinha mais força nas pernas. Liguei agora o Pc porque o trabalho não terminou. Na verdade, tenho à minha frente mais um montão de tabelas e coisas feias que tenho de traduzir para conclusões bonitas. Mas como sempre fui ao mail e vi que me tinham deixado alguns comentários, um deles particularmente simpático de uma colega mais nova de outra faculdade, que hoje, logo hoje em que eu estava tão cansada, revolveu "dar-me força". E eu não poderia deixar escapar a oportunidade de lhe dizer "obrigada", a ela e a todos os que me ajudam, quando leêm e comentam os meus posts, quando simplesmente só leêm na vertical, porque é muito reconfortante saber que aquilo que escrevo serve de alento a outras pessoas, porque é muito bom ler umas frases de coragem de pessoas que nunca vimos nem conhecemos. Como se ficasse uma mensagem no ar, uma hipótese de que talvez um dia nos poderemos cruzar...


A todos e a cada um em particular, por me ajudar ou por deixar que eu o ajude, um obrigada muito sincero.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Que comece o 6º ano!

A abertura solene do 6º ano estava marcada para as 9h. Lá fui eu, e acredito que a maioria das pessoas do meu ano, cheios de receio e entusiasmo. Já não dá para adiar mais. Agora não ficamos a olhar para os outros e imaginar "quando formos grandes...", agora somos nós os "grandes".
O discurso dos senhores professores foi simpático, de boas-vindas, fomos tratados como "os colegas mais novos", integrados num mundo que na verdade desconhecemos... Lá para o meio, o famoso professor de cirurgia fez questão de dizer que tínhamos a obrigação de saber executar "actos de enfermagem", que tínhamos este ano para corrigir as lacunas que pudessem existir da nossa formação prática e teórica, etc etc etc durante meia hora. Senti-me pequena. Senti que hão imensas lacunas. Senti medo de novo e durante todo o dia, apercebi-me da realidade da dureza do 6º ano, porque afinal, "somos quase médicos"... E como o mesmo professor disse: "vocês já sabiam no que se estavam a meter, por isso não se queixem!"...

Depois desta realidade chocante, outra ainda mais pesada anunciada da seguinte forma: "hoje à tarde já haverão aulas teórico-práticas. O grupo que começa com clínica geral deve estar no centro de saúde Norton de Matos Às 14h para a aula de saúde pública, e depois às 16h30 haverá a aula de medicina geral e familiar"... Yahhh...pois... no 6º ano não só temos estágios de manhã, uma tese para fazer e entregar e defender, estudar para o exame de especialidade e...pois como poderíamos esquecer...temos seminários de uma tarde inteira todas as 4ªs feiras e temos "aulas teórico-práticas" sobre a área em que estamos a estagiar, uma vez por semana, toda a tarde... Ora bem, menos 2 tarde na contagem.
Esta foi a tal realidade "pesada", a falta de tempo, os imensos trabalhos e trabalhinhos e apresentaçoezinhas e coisinhas que valem 0,4 e 0,3% da nota final e que no total valem imenso e que dão immmmmmmmenso trabalho.

Depois deste longo dia, ainda tive de chegar à residência e arrumar todas as minhas tralhas no meu minúsculo quartinho partilhado. Acreditem, demorei algum tempo, diria horas, a conseguir fazer com que o quarto ficasse habitável.

Agora assim de forma mais esquematizada:
- começo o 6º ano com o estágio de clínica geral e familiar, como já se devem ter apercebido pelo texto. Estarei 2 meses a acompanhar uma médica num centro de saúde (que por sorte é super perto da minha residência).
- 27 de setembro é suposto entregar a minha tese (existem 3 fases para entrega, e esta é a data limite da 1ª. Pretendo arrumar o assunto da tese o quanto antes.)
- tenho ainda que fazer um poster e submetê-lo para o congresso nacional de Psiquiatria até dia 10 de Setembro (sim, 10, daqui a 8 dias) sobre a minha tese...

O que significa que o 6º ano realmente começou! E que comece!...


segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Viagem - Parte 2

Já deveria ter escrito antes, não era?
Oh mas sabem como é...escrever textos num ipod pequeno..aquilo encrava e depois apaga-se tudo e é uma chatice. Esperei para ter o PC de novo... Sim, já cheguei a Portugal no dia 7 mas todos temos direito ao nosso momento de preguiça literária, não?

Ora bem, estive 5 dias em Londres, numa casinha nos arredores de uns conhecidos...mas eles tambéme estavam de férias, por isso na prática tive a casa inteira à disposição. Emigrantes portugueses têm inclusive TV em portugues, por isso matei saudades dos maravilhosos programas da hora "nobre" - as novelinhas.
Nos 2 primeiros dias visitamos uns 4 museus, já nem sei bem. Já não podia das pernas, sinceramente e estava a desanimar. Onde andava o Big Ben??? No dia seguinte lá estava ele, bem bonito quanto o pintam. Optamos por comprar um passe, daqueles que dá pra entrar num montão de coisas e acho que foi uma boa jogada, Assim aproveitamos mais e não andavamos sempre a fazer contas. As jóias da coroa são encantadoras para qualquer mulher, deva dizer-se. 
A cidade surpreendeu-me. Ao início não gostei e continuei o resto da viagem a dizer que não tinha gostado. Agora já com os ânimos mais calmos acho que sim, é giríssima, mas não tanto quanto o que eu pensava. Aquela paixão que escrevia no outro dia, desapareceu. Mas como acabamos por visitar imensas coisas, incluindo o zoo e lojas de jogos e bowling, foi mesmo muito divertido, e por isso e por todo o conforto que tivemos, posso dizer que gostei imenso.

Mas o melhor viria depois... Suécia. Bem, Estocolmo é mesmo outro nível, outra mentalidade, outro modo de estar na vida. As pessoas andam todas de bicicleta ou transportes públicos. As ruas tinham tanto trânsito como as ruas de Coimbra ao Domingo. Dava gosto olhar em volta, porque era tudo tão limpo, tão organizado, tão bem pensado... As pessoas aproveitavam os 20 graus de temperatura como se fossem uns 35, e andavam de clações e tops e coisas assim, e eu, friorenta, sempre com o casaco atras. Nem calcei sandálias lá! Imensa gente a correr ao final do dia, andar de patins, a jogar jogos com os filhos nos parques... Enfim, adorei mesmo. Esta sim, é a minha cidade de sonho. Também lá fiquei em casa de familiares, por isso também deu para comer arroz e coisas assim... O Vasa museu é um prazer que qualquer pessoa deve conhecer!!!!
Tirando a dificuldade de falar ingles com a dona da casa e os preços escandalosamente elevados, tudo impecável!

Depois desta maravilha, e daquele sentimento de "não quero ir embora...vá lá ficamos aqui até setembro...", qualquer cidade que viesse depois seria uma "cenita de nada" em comparação. Esta porbre desgraça caiu sobre Barcelona. Já muito cansados, e com imensas saudades do aconchego de casa, não gostamos muito daquele enorme impacto que sentimos. As diferenças com a suécia era muitas... Senti-se que se estava num país mediterrâneo em todos os aspectos... Os preços mais baixos, o chão sujo e cheio de chicletes, os roubos na praia, o trânsito, o calor abafado... Houve lugares que gostei, claro, e foi bom dar ums mergulhos num mar um bocadinho mais quente e mais salgado que a minha praia de Espinho, mas não é cidade à qual pretenda voltar.

No final e em forma de resumo: acho que ficou bem claro que usei imensos adjectivos positivos. Foi uma experiência mesmo enriquecedora. Sinto muito orgulho desta aventura!
Deixo aqui umas fotos daquilo que mais adorei.

 O mercado de Budapeste e a vista sobre a cidade.


O coliseu de Roma à noite, e os tectos da basílica de San Pietro.

 Os parques de Londres e o Big Ben, visto do rio.

O parque Guell e o mercado de "La Rambla" de Barcelona.

 O Vasa Museum




 As maravilhosas paisagens de Estocolmo.






quinta-feira, 25 de julho de 2013

Viagem!

Como prometido, la se arranja um bocado de tempo e net para escrever como tem sido eta aventura.

Roma foi tudo aquilo que eu estava à espera e talvez mais. A emocao que senti ao entrar no coliseu foi como uma bafada de at fresco. Tal grande, tao antigo e eu ali. Foi a demonstracao de um objectivo realizado e a uma grande sensacao de recompensa por todo o esforço que existiu por detras desta viagem, tanto em termos de estudos e curso como a nivel financeiro, porque foi eu que arranjei o dinheiro para atudo isto.
Os dias por italia passaram rapido. Visitei todos os monumentos que gostava, assim como os museus. Atrevo-me a dizer que andei alguns quilometros.
Dediquei no calendario um dia para o vaticano. Estive 2h a admirar a basilica de sao pietro e nem dei pelo passar do tempo. Tao rica, tao pormenorizada... Achei que nao se enquadrava no espirito de simplicidade que supostamente era o anunciado por jesus, mas isso é apenas uma opiniao pessoal.
Os museus do vaticano.... Bem vale a pena gastr esse dinheiro... Tao grande e tanto patrimonio... Havia salas que estam completamente pintadas. Esculturas, tapecarias, pinturas, quadros, as obras de miguel angelo na capela sistina.... Nao ha palavraa no meio de tanta arte e cultura.
La ninguem pagava bilhetes de autocarro, e nos fizemos igual... "em roma sê romano"... E isso foi optimo para as e oconomias e para as pernas.
Vim embora com um gostinho bom, contente com a escolha da cidade.

Budapete nao teve esse grande impacto, nem é tao grande quanto roma, claro. Os pontos altos da cidade para mim foram a citaleda, o ponto alto da cidade, as maravilhosas termas com agua a 38 graus (onde passei um dia inteiro) e o lindo mercado municipal e parlamento. Os gelados sao super baratos, assim como a cidade em si. Em 4 diaa gastei 80 euros ja com tudo incluido.

Neste momento estou em londres. Amo esta cidade, nao sei porque, embora ainda naoa tenha visto nada. Cheguei ontem do aeroporto as 2h da manha. Mas creio que as minhas expectatiavas nao vao ser defraudadas.

Em breve escrevo mais. Agora? Vou conhecer esta cidade...









segunda-feira, 15 de julho de 2013

Inter-nuvens...começa AMANHA

O título diz tudo: amanhã vou apanhar o comboio para Lisboa, e de lá, voarei para Roma. E assim começarão 3 semanas de pura descontração, de cultura, de piscinas, de merecidas férias... Eu, a pessoa mais organizada que poderiam conhecer, não poderei planear nada, além das datas/horas dos aviões e as estadias, e estou a adorar a ideia de viver estes dias sem regras, sem relógio, sem pressão. 

Ainda não partilhei convosco isto, mas este ano foi de extrema importância para mim a nível pessoal. Creio que cresci neste ano, conheci-me mais do que na soma dos restantes que já vivi. Tenho plena consciência e certeza da decisão que tomei quando mudei de religião, tenho trabalhado os meus medos, os meus defeitos e embora ainda haja muito para moldar ainda... A minha família aumentou, e tenho agora a alegria imensa de ser madrinha de uma bebe lindo, actualmente com 4 meses. Também foi maravilhoso em termos "profissionais". Atingi objectivos que anceava há muito e não poderia estar mais feliz com o conjunto de coisas que vivi e adquiri.
Por tudo isso, creio que esta viagem só vem acrescentar mais um marco de vitória ao ano, uma vez que andei a juntar dinheiro para ela durante 3 anos... Olhar para a mochila já feita, cheia de roupas e de coisas, e pensar "é amanhã", traz-me uma sensação...

Prometo ir deixando aqui uns comentários e fotos dos lugares onde passar.
Boas férias a todos!

terça-feira, 9 de julho de 2013

Último ano do curso!

Ontem fiz o último exame, da última época de exames do meu curso! Posso considerar desde já que alcancei o 6º ano.

"ai...Medicina..é um curso muito difícil não é?"
A minha opinião: é dífícil porque é longo, porque saimos da faculdade com 24 anos e já metade dos nossos amigos terminaram os seus cursos há anos, alguns até já casaram, porque nas épocas de exames passamos 2 meses seguidos a estudar intensivamente, porque temos exames orais para fazer e porque temos a enorme pressão de "um dia vou tratar pessoas e vou ser responsável por aquilo que lhes faço/deixo de fazer". à parte do difícil, creio que não poderia ser mais interessante.

Mudar de rotina é o melhor que podemos conseguir. Não só ir avançando nos anos, mas atingir as diferentes metinhas. Para mim entrar nos anos clínicos (4º e 5º) foi uma, agora, chegar ao ano dos estágios, do erasmus, do estudo do Harrison, da defesa da tese é outra etapa e isso revitalizou-me! Ontem senti-me tão feliz e tão leve que não poderei descrever. Hoje adormeci sem qualquer preocupação...

Por falar em tese: vou aproveitar o resto da semana para avançar na minha. Tinha alguma "esperança" que a minha tutora não pudesse, só porque já estava a precisar de ir para casa... Mas ela pode e vendo bem, ainda bem que é assim, claro, porque vou adiantar muito trabalho. Pensemos que falta pouco para 6ª feira à noite!!!

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Mini horta

Não sei bem porquê, mas nas épocas de exames são sempre bombardeada de ideias pela minha mente! E é incrivelmente chato não as puder desenvolver porque tenho de estudar!
Triste cina que eu resolvi finalizar numdestes últimos fins de semana em que me apanhei com mais folga - fiz uma mini horinha no passeio de minha casa.
Não tem muita coisa, na verdade quase nada, mas já vai dar para comer alho frances, beringela, cougette, couve roxa e bróculos caseiros, 100% biológicos! =P

Vejam lá se não ficou super giro!

segunda-feira, 3 de junho de 2013

1ª Publicação Científica

Como habitual, chegamos ao final de um semestre e eu começo a escrever menos, a deixar de ler por prazer, passo mais fins de semana em Coimbra do que aqueles que gostaria e sinto mais dores lombares, por estar todo o dia sentada... Já não é novidade que existem as épocas de exames. A grande questão desta vez é que É A MINHA ÚLTIMA ÉPOCA DE EXAMES! (Isto contando que tudo corre bem...)

À parte deste pequeno enorme pormenor, partilhar convosco outra etapa/objectivo, como queiram chamar...
Há 2 semanas fui apresentar um poster num congresso internacional. Chegamos lá e fomos informadas (eu, a minha tutora e outra colega) que os posteres estavam a ser apresentados em português. Não percebi muito bem porquê, visto que habia outras nacionalidades presentes... Então eu tive que escolher entre o conforto da minha língua, ou uma representação mais "profissional" do instituto onde estou a desenvolver a tese. A poucos minutos de chamarem o meu nome eu ainda estava "Português ou Inglês? Já treinaste em inglês, não custa assim tanto... oh mas se fizeres má figura...". Escolhi inglês. Enchi-me de coragem e lá fui eu. Correu bem, creio que posso dizer assim. No final de todas as apresentações o júri fez-me uma pergunta e depois elogiou o trabalho. Senti-me entrar no mundo "científico"... Tive a confirmação que entrara quando na revista "Atención Primária" sairam publicados os meus dois artigos científicos, um deles como primeira autora, o outro como segunda. Ver aquele "Castro J. et al" foi qualquer coisa que não sei explicar, não só pela conquista em si, mas por tê-lo feito numa área que realmente gosto.

A pedido de um leitor, aqui fica o link para os trabalhos:
COGNITIVE EMOTIONS REGULATION QUESTIONNAIRE:VALIDATION OF THE PORTUGUESE VERSION (página 162 da revista, 31 do pdf)
http://apps.elsevier.es/watermark/ctl_servlet?_f=10&pident_articulo=90201504&pident_usuario=0&pcontactid&pident_revista=27&ty=30&accion=L&origen=elsevier&web=www.elsevier.es&lan=en&fichero=27v45nEsp.Congresoa90201504pdf001.pdf


quarta-feira, 8 de maio de 2013

Queima das Fitas

Para quem me tem vindo a acompanhar, já deve ter visto algumas coisas escritas sobre a queima das fitas. Todos os ano há uma e portanto isso é e será sempre um tema sobre o qual poderei escrever. No entanto, este ano, além de todo o sentimentalismo inerente ao momento, pretendo fazer uma crítica.
Estou no 5º ano - o ano de se abanar as fitas em cima de carros alegóricos, cheias de sátiras sociais e políticas, com alguma perversidade à mistura em algum deles. Pessoas que já viveram essa experiência, dizem ter sido o melhor dia de todo o seu curso. Falam da interação com as pessoas, do orgulho de ter finalmente algo verdadeiramente importante na pasta, falam da amizade e do trabalho que está por detrás da construção do próprio carro...
Eu, apesar de estar no 5º ano, optei por não participar.
"ah e tal, somos jovens...é só um dia...é só um dia..." diriam alguns.
Embora respeite a liberdade dos outros, eu não concordo.
Não concordo com o milhares de euros que se gastam para fazer os carros e para os rechear com toda a espécie de possibilidades alcoólicas (cerca de 5 mil euros por carro, uns mais outros menos, dependendo do número de pessoas que o faz e do seu tamanho). Não concordo que o cortejo da queima das fitas não seja mais do que um chuveiro de cerveja, onde os alunos, meios bêbado, ou inteiramente bêbados em alguns casos, insistam em molhar os turistas e os próprios colegas. Não me agrada a ideia de saber que todo aquele trabalho é destruído no final do cortejo em poucos minutos.
No início do curso, seguia o cortejo com a capa colocada aos ombros, em sinal de respeito e orgulho pela tradição da Academia de Coimbra. Actualmente, nem de capa e batina as pessoas andam, muitas delas abandonam estes preciosos elementos do traje académico, perdendo-os ou trocando-os depois. A capa nem sequer é devidamente traçada no única momento exigido - ao passar pelo júri do concurso. Do desrespeito pela serenata já nem vale a pena falar, e nem é o objetivo deste post.
Pessoas mais velhas, da geração dos meus pais, dizem que antigamente o Cortejo não era cerveja nem exagero. Era o momento de mostrar à sociedade os novos doutores e os alunos comportavam-se como tal, desfilando com esse mesmo orgulho. Sempre existiu brincadeira, mas não desperdício.
Associando o fato do país atravessar uma grave crise económica, não posso deixar de perguntar também: "de onde vem todo esse dinheiro?" As pessoas vão queixando-se da triste realidade que a família vive, muitos colegas têm de contrair empréstimos para terminar o curso, alguns saem mesmo da faculdade por não poder suportar as despesas de viver longe de casa, na grande maioria dos casos. As bolsas de estudo, infelizmente para muitos, só cobrem mesmo as propinas. A grande maioria nem bolsa tem.
O dinheiro? O dinheiro que se gasta numa tarde de Domingo vem de vários sítios: no caso da Medicina os elementos do carro pagam cotas mensais, normalmente durante 2 anos, que variam de 10 a 5 euros. Cada pessoa é responsável por arranjar 150 a 200 euros de patrocínicos (patrocínios esses que pedem à pobre família, aos amigos, ao senhor José da mercearia lá da terra, etc...). Organizam "rastreios" à populção que são "gratuitos", mas que na verdade não são mais que chamaris de dinheiro, porque as pessoas, em troca da generosidade dos futuros médicos, que ali estão ao dispor a medir a tensão arterial e a glicémia, a pesar e a fazer o incrível cálculo do IMC, dão umas moedinhas ou umas notinhas. Não é raro se ouvir comentários do género "foi lá um senhor que só deu 20 centimos! mais valia não ter ido...". Depois há a venda de brindes - canetas, porta-chaves, carteirinhas, etc e cada pessoa tem de conseguir vender um "x" número de cada coisa.  E ainda há a organização de jantares e festas, na esperança de no final haver algum lucro.
No meio de tudo isto, quem não vender o que é suposto, tem de pagar o dinheiro equivalente do seu bolso. Do seu bolso, não sei se será a expressão, porque na verdade todo o dinheiro que dispendem sai, na esmagadora maioria dos casos, do dinheiro da mesada que os pais depositam na sua conta. Uma "excelente" estratégia, eu diria, mas pra que fim?

Já não é segredo para ninguém que vim para Medicina porque queria ser Médica Sem Fronteiras. Uma vez escrevi para eles a perguntar como tudo se processava e responderam, carinhosamente, a encorajar-me a tirar o curso de Medicina, que seria o primeiro passo. No final dizeram "ficaremos à tua espera".
Quando chegou a hora de começar a pensar em organizar o carro, eu propus a alguns amigos que tentássemos arranjar o dinheiro das formas mais honestas possiveis, visto que todos nós temos algum talento, e em vez de o gastarmos numa tarde, que o usássemos numa viagem de 3 semanas por exemplo, a algum lugar remoto onde fosse necessária a ajuda de simples finalistas de Medicina. Ninguém gostou da ideia... E eu sozinha, nada fiz também.
Porque realmente respeito muito os meus amigos, não pude deixar de acompanhar o carro deles em todo o percurso do cortejo, mantendo uma margem de segurança em relação à tal chuva de álcool. 
No final, quando vi com eles o seu carro a ser destruído, não puder deixar de pensar que poderiamos ter feito outra escolha e que, aquele dinheiro todo poderia ter sido usado para algum fim mais humanitário. 
Não os culpo de forma alguma, e compreendo sinceramente que a onda da "dita tradição", do "toda a gente o faz" e do "é uma vez na vida" por vezes seja muito forte. E também não pensem que não sou pessoa de gastar dinheiro, a forreta lá da turma que não alinhou. Nada disso, e a prova é que este verão vou gastar as minhas economias numa viagem pela Europa. O que questiono no meio disto tudo é o sentido das coisas, a durabilidade, e infelizmente tenho a certeza que muitos só o fazem porque não gostam e não sabem ser diferentes.

sábado, 20 de abril de 2013

Porque devo continuar - resposta a um leitor!

Este blog foi criado com a intenção da partilha: de conhecimento, de experiências, de dúvidas e medos. Por isso são sempre bem-vindas todas as opiniões e questões que possam ter. Pode não ser logo, mas respondo sempre.

Abordaram-me sobre o porquê de se continuar, o porquê de querer tirar medicina, já tendo outro curso e uma carreira.
Bem eu creio que consigo entender. Eu tenho apenas 20 e poucos anos e já me sinto cansada desta vida. Estou mais que pronta pra seguir em frente, dar o passo pra etapa seguinte, tanto a nivel pessoal como profissional (entenda-se aqui que não sei tudo, claro, pelo contrario, mas quero seguir). E às vezes sinto-me "presa" a esta vida que escolhi, porque efectivamente não posso fazer nada mais além do que é suposto. Também quero ter a minha casinha, porque viver durante 5 anos num espaço que não é nosso, mas ao mesmo tempo é nosso, é estranho. Também quero casar e ter filhos, eu diria, como qualquer mulher que tem esse tal "relógio" activo.

O que eu proponho que pensem é no seguinte:
Às vezes queremos tanto uma coisa e depois quando a alcançamos, pensamos "porque queria isto?". É bom refletir sobre isso... seria orgulho? Seria uma necessidade de mostrar a nós mesmos que conseguimos alcançar aquilo? Ou realmente queriamos e continuamos a querer determinada coisa?
Penso que a pergunta fundamental deverá ser: como serei mais feliz? A estudar mais 6 anos e depois a tirar uma especialidade mais outros 5 anos? Ou posso aceitar o que vida já me deu e ser feliz sem o curso de Medicina, mas tendo outras coisas sem ter de as adiar, como filhos?

Não quero de forma alguma desmoralizar ninguém. Proponho apenas que se sentem, cruzem as pernas à chinés, coloquem a coluna recta, fechem os olhos e se descubram. Isso é o mais importante.
As duvidas podem ser só fruto do cansaço, podem ser o medo a falar. Se assim for, e se no vosso coraçao concluirem isso, vão ver quando abrirem de novo os olhos, já não vão sentir isso. Pode demorar. Não pensem que meditar é imediato. As respostas chegam consoante estamos preparados para elas. Quanto mais nos conhecermos, mais rápido as descobrimos.

Há cerca de 3 a 4 meses atrás, já não sei bem, fiz isto que proponho. Não sei se cheguei a escrever sobre isso ou não. Precisei de 4 dias de meditação (não inteiros claro). Descobri um defeito enorme em mim, que não sabia até então que o tinha. Depois de o conhecer, de lhe dar as boas-vindas (porque faz parte de mim e não o posso nem devo negar), comecei a entender de onde chegavam todas as minhas dúvidas, o meu cansaço e o meu stress. Ainda não consegui mudar esse tal "pormenor" em mim, mas saber que ele existe e o que faz à minha visão do mundo, permiti-me que lhe peça "por favor, deixa a minha mente mais clara por uns segundos, não interfiras, para saber o que está a acontecer"... E assim é....

domingo, 7 de abril de 2013

Saber desisitir

Hoje alguém publicou na sua rede social a seguinte ideia: "Saber desisitir. Abandonar ou não - é muitas vezes a questão..."
Isso inevitavelmente levou-me a pensar na minha condição - vivo numa residência universitária, numa ala que já foi o paraíso e que agora não passa de um simples "lugar" onde as pessoas dormem e comem, sem pensarem nas outras com quem vivem... Infelizmente o lixo cheio, a reciclagem cheia, a louça por lavar e por colocar nos respectivos lugares, o imenso barulho às horas de refeição já são uma constante. Fico com dores de cabeça quando vou jantar porque as colegas resolvem falar de uma ponta para a outra da cozinha (e a nossa cozinha é enorme), depois vem outra que, para ouvir a TV no meio daquela feira, mete o volume quase no máximo...
O que tenho andado a pensar é: devo sair? Não seria suposto ter de sair de uma residência para ter paz, porque se os preços são mais baixos, se é uma residência dos serviços de alojamentos da universidade, as regras e as punições deveriam ser aplicadas! O próximo ano é o último, o verdadeiro... Vai ser trabalhar de setembro a novembro do ano seguinte sem grandes pausas! Tese de Mestrado para apresentar e defender, estágios práticos todas as manhãs, seminários (infelizmente) 2x/semana, e claro, o único e derradeiro exame de especialidade... Preciso de paz!
Sugestões de um cantinho do céu em coimbra, barato?

quarta-feira, 27 de março de 2013

Inter-nuvens

Pois bem, 
para todos os que possam estar interessados em fazer um interrail, aqui fica uma boa questão para pensar: "compensa relamente fazê-lo de comboio?"

Eu pesquisei tudo o que habia para pesquisar, fiz contas e mais contas e não me esqueci de nenhuma taxa extra nem de nenhum pormenor e conclui que comprar um passe de interrail, por mais fascinante que pudesse ser passar em imensos países, não compensaria. E a palavra chava é mesmo "passar". Como temos dias limites para fazer as viagens, não se pode perder imenso tempo num pais, a não ser que se esteja disposto a dar 260 euros por um passe razoável para "visitar" 4 ou 5 países. Passar ou visitar leva uma diferença consideravel. E se é para visitar, porque não poupar o corpo de uma cansaço exagerado?

Ponderando tudo isto, comprei 6 viagens de avião sem reserva de mala. Vou apenas levar daquelas malas com medidas próprias para o porão. 
Lisboa - Roma
Roma - Budapeste
Budapeste - Londres
Londres - Estocolmo
Estocolmo - Barcelona
Barcelona - Lisboa

Consegui assim juntar países diferentes entre si (e quando digo diferentes refiro-me a cultura mesmo, à geografia, tendo em conta que vou ao mediterraneo, a europa central, gra-bretanha, um país nórdico e a vizinha espanha).

Outro factor importantissímo? 
Poupança nas estadias! Terei alojamento em casa de conhecidos em Estocolmo, Londres e Barcelona. E com isso pouparei imenso dinheiro, que vai dar para outras coisas, como entrar em todos os museus que queira, mesmo que se pague, vai dar para me dar ao luxo de comer uma piza num restaurante italiano, certamente!

Posto isto, creio que devo começar a chamar à minha viagem de 3 semanas um inter-nuvens. =P

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Uma looonga semana! Uma vida nova...

Na última semana não tive tempo para respirar tranquilamente. A minha agenda estava completamente preenchida. Nas horas livres depois do jantar, não conseguia fazer mais nada senão deitar-me na cama e parar o cérebro, ou seja, ver tv. Houve dias em que às 22h30 já estava a dormir. 
Em resumo posso dizer-vos que as minhas aulas de espanhol já começaram. Aquele novo hábito de ter de ir para o pólo 1, para a Faculdade de Letras, ao final do dia, duas vezes por semana já me cansava mentalmente, antes mesmo de chegarem as 3ªs e as 5ªs. Mas estou a gostar. Gosto da professora, dos colegas e do meu grupinho de 3 "futuros médicos", como a prof nos chama quando quer a atenção de todos. Para dizer a verdade, essas são as horas nas quais nos permitimos um pouco de rebeldia. Rimos imenso do sotaque pouco castelhano uns dos outros, estamos sempre virados para trás na conversa e lá no meio disso tudo vamos dizendo umas coisitas em espanhol.
A 2ª tarde e a 3ª manhã são os únicos momentos livres do horário...momentos esses que foram totalmente ocupados com a tese. Temos o objectivo de apresentar parte do trabalho que está desenvolvido em 2 congressos internacionais e estamos a "despachar" trabalho agora que vamos tendo mais tempo. Temos de fazer o tratamento de dados e os posteres em inglês. Trabalho demorado, devo dizer, mas incrivelmente recompensador. Aconcelho vivamente todos os colegas a fazerem um trabalho de investigação clínica que realmente gostem! Aproveitem para aprender a trabalhar com o SPSS, ou relembrem, melhor dizendo. Fiquei realmente feliz quando na semana passado conseguimos tirar a primeira conclusão do trabalho. Conseguimos fazer algo novo, algo genuíno, e isso para mim é muito melhor do que qualquer trabalho de revisão científica!
A juntar a toda esta agitação, o final da semana começou com 2 turnos seguidos na Cruz Vermelha! E digo-vos que o que menos gosto é ser chamada às 5h45 da manhã para transportar bêbedos para o hospital... Trabalho necessário claro, especialemente se tivermos em conta os imensos casos sociais que encontramos, mas incrivelemente difícil se considerarmos as horas e o frio que ainda faz.
Sábado de manhã foi apanhar o primeiro comboio e voar até ao hospital: o meu sobrinho foi "incentivado a nascer"... Qual mudança de lua qual quê! Nada que um misoprostrol não resolva! Às 19h20 estava a chorar pela primeira vez e com ele, os pais e eu, emocionados com o momento! Nunca antes tinha sentido uma alegria tão inata como aquela, como quando segurei aquele pequeno bebé e lhe disse: "olá meu amor, eu sou a tua madrinha!"

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Novos passos, subindo degraus...

Hoje foi um dia do qual vale a pena referir!
Além da mudança óbvia de visual, através de uns novos e inevitáveis óculos, finalizei novas etapas, e iniciei as imediatamente seguintes...

...Entrei no programa ERASMUS! Já há muito que queria fazer isso e fui adiando por diversos motivos, mas este era a última hipótese! Ou ia no 6º ano, ou não dava mais! E pronto, vou para Córdoba 3 meses fazer 2 estágios!

Uma outra etapa finalizada foi a introdução de todos os dados da minha tese (testes e re-testes) e foi uma sensação óptima! Ver as coisas a que nos propomos darem certo, andarem para a frente, é muito gratificante, mesmo que implique horas de trabalho. Acho até que depois já nem nos lembramos disso, não?

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

FÉRIAS!

Após cerca de 5 semanas intensivas de estudo (incluindo o querido Natal) finalmente terminei hoje, às 17h30, o último exame do semestre, Pediatria. Exame ideal para terminar, visto que a minha irmã está agora com 37 semanas e por isso a qualquer momento o meu sobrinho nasce... Creio que depois estes conhecimentos vão dar jeito, quando ela me interrogar mil vezes sobre o que é normal e o que não é...  Entretanto nesta época deu para coleccionar notas arredondadas para baixo por causa dos "vírgula quatro"...15,4...16,4...15,4... Foi mesmo irritante! Apeteceu dizer "a sério?"

Hoje também comprei a minha mochila de viagem para o meu interrail! Tem exactamente as medidas permitidas no avião e é super ergonómica, excelente para pessoas com frequentes dores de coluna e tem imensos bolsos! E já deu pra tirar ideias de como fazer aquelas malinhas super discretas de colocar por baixo da roupa para andar com documentos e dinheiro! 
Vai mesmo acontecer, acho fantástico pensar nisso... Por falar nisso, creio que ainda hoje compro os bilhetes de avião! (Digamos que o meu interrail vai ter avião, autocarro e comboio, muito diversificado portanto!)

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Natal

Estas "férias" de Natal passaram a voar, por um lado, e por outro pareceram nunca mais terminar... Estudar das 8h à meia noite torna-se tão cansativo e faz com os dias fiquem incrivelmente longos... Vejo o tempo a passar pelas refeições. Sei que estou tramada quando chega à hora de jantar e não fiz metade do que queria para aquele dia.
Dizer: "não, chega de cozinha para estudar; vou sozinha para outro lugar" foi realmente importante. Um semana transformou-se em muito tempo, comparado com os anos anteriores, em que tinha 2 semanas no Natal mas não sabia nada!
Foram inteiramente dedicados a obstetrícia: amanhã às 8h30 estou em exame! O primeiro, um dos mais difíceis, nesta que será a última época de exames do 1º semestre.

A barriga da minha irmã está cada vez maior, como seria de esperar claro! Finalmente consegue-se sentir o rapagão sem grande esforço. Já tive uma conversa séria com ele: está proibido de nascer antes da época de exames terminar!