terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Depois do Natal é que sao elas...

O Natal é a época do ano que mais gosto: adoro dar e receber os presentes, adoro todos os doces, as brincadeiras da família... Este ano foi o primeiro em que se consoou aqui por casa e foi tudo muito bom! Somos 12 e na entrega das prendas uma pessoa vai distribuindo uma da cada vez, e nao se passa à prenda seguinte enquanto nao se desembrulhar e gozar um pouco com a anterior, ou seja, demoramos 1h30 para ver tudo...
O mais difícil do Natal é depois recomeçar o estudo. Sexta não fiz nada, andei a ajudar a minha mae a preparar as coisas, Sábado foi Dia de Natal, nada fiz claro (ou melhor, à tarde estive a trabalhar um pouco no artigo de revisao de Farmacologia, mas nada que durasse muito porque as cartas depois chamaram-me); no Domingo e ontem fui para casa de minha irmã, e apesar de ter levado a capa de Propedeutica, pouco estudei, uma vez que estar com ela no sofá a ver filmes é bem mais interessante...
Ontem tive mmmmmmmmesmo de voltar para casa e recomeçar. Andei a meio gás claro, não fiz tudo o que me tinha proposto fazer, e acho que hoje vou pelo mesmo caminho... São 10h da manhã e só acordei agora, e hoje é um "dia complicado", uma vez que vou ter de estudar o que nao estudei Domingo, ontem e acrescentar o de hoje. Mas tirando este pequeno precalço sinto-me mais organizada e por isso mais relaxada no que toca a estudos. No início das "férias" contei todas as aulas e dividi-as pelas dias em que poderia estudar (eliminei logo o Natal e o Ano Novo). Vou assinalando com um "visto" o que já fiz e quando sei que algo vai atrapalhar, adianto trabalho do dia seguinte. Nos anos anteriores eu definia horas de estudo, isto é, "2h para Fisiologia, 3h para Anatomia..." e a coisa nao rendia nada.
Bem mas vou deixar-me de desculpas e de passar tempo no pc: vou estudar!

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

(Em resposta ao último post por "Anónimo")

(Em resposta ao último comentário por "Anónimo")

Para a próxima, deixa um nome, gostava de saber pelo menos isso de quem me segue.

Em relação à tua opiniao, ainda ontem a propósito não sei de quê disse "eu devia era ser budista"... Mas a verdade é que somos desde pequenos encaminhados num rumo e torna-se difícil lutar contra algo que, por ser tão antigo quanto nós, nos parece correcto. Acho que o mais importante e, por isso, o comum a todas as religiões é o auto-crescimento. Todas elas visam isso, mas chamam-lhe coisas diferentes: "vida eterna", "paraíso"... Muito mais que seguir uma pessoa, no meu caso, Jesus, acho que o maior é seguir a tal filosofia de que falavas, o modo de viver, de agir, de estar no mundo com os outros... Mas de facto, um dos motivos que me leva a desejar viajar é essa sede de conhecer mais visões, mais formas de ser melhor... Já me lembrei de fazer Yoga e Reiki e essas cenas todas, mas não tenho ainda nem tempo nem dinheiro para isso. Por isso vou fazendo aquilo que acho bem, dentro das minhas possibilidades: vou aos Domingos ouvir um padre que por ser tão humano, me parece um bom exemplo. Poderia ser um Pastor, ou um Budista ou outra coisa qualquer, mas vivemos em Portugal, onde a fé Católica vence.

Em relação à Medicina: 
Acho que não deves temer ter de declarar a morte de alguém, porque se tudo correr bem, isso só acontecerá quando de facto já nada se pôde fazer para salvar essa pessoa...  Eu ando no 3º ano de Medicina e sinto que já fui "treinada" para algumas situações de emergência, mas muito pouco. Mas ainda me faltam mais 3 anos de curso + 1 ano comum + 4-5 anos especialidade... Passas anos e anos a estudar: e estudar aqui entenda-se "estudar teoria por livros" e "treino prático"... Além disso, trabalha-se em equipa, na maior parte dos casos. O que quer dizer que salvar ou nao salvar uma pessoa, será uma tarefa que só te será proposta daqui a muitos anos, e até lá terás alcançado a maturidade, experiência e confiança necessários para lidar com a situação. 
Além disso, existem especialidades médicas que estão mais privadas do contacto com as pessoas, como as de diagnóstico: Imagiologia, Anatomia Patológica. Eu não me sentiria realizada em exercer uma dessas especialidades, porque além da ciência, o que me liga a Medicina são as pessoas, o prazer que tenho em falar com elas, em descobrir através dos seus sintomas a sua patologia, como quem constrói um puzzle, mas é um caminho válido.
Acho que não deves desistir dessa ideia, se realmente sentes que isso te faria feliz. Cada novo passo que damos sentimo-nos mais capazes. A cada novo caso clínico, ficamos com mais vontade de estudar para saber o que deveria ser feito para ajudar aquela pessoa. O 3º ano tem sido maravilhoso nesse aspecto: é o ano em que se contacta a primeira vez com a realidade clínica: vamos para as urgências com médicos mais velhos e ficamos a olhar, a registar tudo na mente; nas aulas de Propedêutica vamos para as enfermarias falar com doentes, aprender a dirigir uma história clínica; depois ensinam-nos a fazer o exame físico - todas aquelas manobras que fazem connosco para ver se temos isto ou aquilo... Ontem estive a palpar o abdómen da minha irmã e da minha mãe... Fiz-lhes tudo o que me lembrei. Depois fiz a percussão e só não auscultei porque deixei o estetoscópio em Coimbra... E senti uma alegria que não sei descrever! Vou fazer aquilo pro resto da minha vida, e sinto que vale a pena!
Segundo o que li em alguns sites, estudar em Espanha e depois vir exercer em Portugal dá bastantes problemas, são precisos fazer testes de reconhecimento. Acho que seria  melhor aplicares-te muito agora e entrar em Portugal, nem que seja como disseste na Academia Militar, que também é uma boa opção, embora seja exigido mais de ti.

Em relação ao Erasmus: Salamanca é a minha primeira opção. Mas o que mais me assusta é não serem reconhecidas as equivalências e ter de perder uma ano. Erasmus é óptimo, mas acho que não compensará de ficarmos para trás. Coimbra, nessas coisas, não facilita. Apesar de estar em vigor "Bolonha", os senhores professores catedráticos gostam das coisas à antiga e, por exemplo, ninguém tem equivalência a Anatomia, nem mesmo o Papa, e nem que a tenha feito em Oxford! Todos têm de fazer oral com o sr. prof. Bernardes e mais nada! Isto é só um exemplo, porque se for de erasmus será no 5º ano, visto que para o ano o concurso já terminou, e a Anatomia é no 1º ano!

Obrigada por teres partilhado um pouco de ti!

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Erasmus?

Acho que cada vez gosto mais da ideia de fazer erasmus, especialmente porque já tenho quem se interesse em ir também. Sozinha não, nao iria... Espanha?

domingo, 12 de dezembro de 2010

Reflexões sem lógica

Há dias assim, em que sem se ter nada para dizer em concreto, nos apetece falar...

Acho que desde que me conheço sinto esta vontade: pegar em meia dúzia de peças de roupa, no estojo pessoal e colocar uma mochila às costas e simplesmente ir... Voar até Londres, ir de comboio ate Paris e de lá ate Roma... Parar um dia ali, parar 3 ou 4 noutro sítio qualquer... Levar pilhas extra para a máquina fotográfica e fotografar as coisas mais simples, que existem em todo lado, mas que por não serem portuguesas, são diferentes. 
Sempre senti necessidade desta liberdade e sinto-me presa sempre que penso que não o poderei fazer, pelo menos enquanto não "viver sozinha", sem as regras dos pais, enquanto não poder sustentar sozinha essa viagem, que sem destino nem tempo limite, iria com certeza gastar muito dinheiro...

Hoje "regressei" ou velho hábito de ir à missa. A última vez que o tinha feito foi no último fim de semana que cá fiquei para estudar, já nem me lembro quanto tempo passou... Quando dizerem algo contra a religião, contra Deus, contra a forma de estar no mundo sendo-se cristão ou algo assim, instintivamente penso: "Poderei eu aceitar este argumento?". E normalmente não o aceito, porque tenho contra-argumentos, e isso não me abala. Até que comecei a ler um livro e não soube fazê-lo, e aquilo a que chamava de fé debateu-se. Porém, por fé ou não, acho que todos deveriam ouvir as sábias palavras do padre que celebra a missa no hospital, porque aquilo que ele expressa é o que o mundo todo deveria seguir, ser, sentir, não só os cristãos... Fiquei feliz ao descobrir que afinal também há missa aos sábados e aos domingos às 17h15: já não há desculpa para faltar a sessão de reflexão semanal.

Percebo agora que há dias em que mais do que querer falar, nos queremos é distrair, esconder um pouco a solidão de passar um fim de semana em Coimbra sem os amigos, sem a agitação do dia a dia, sem as conversas... Acho que foi por isso que vim escrever, para fazer o tempo passar, para adiar um pouco o acto de estudar: não por não gostar, não por não precisar, mas porque isso me fecha num quarto... E lá voltamos nós à definição de liberdade, que falei em cima.

Sim, estava a escrever o que me apetecia, sem ordem ou sentido lógico, mas acho que já percebo...

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A primeira vez...

Na passada quarta-feira acordei e pensei: "Um dia vou fazer uma historia clínica sozinha... Hoje é o dia!". E assim foi, um dos melhores dias que já tive. Graças à Raquel, a minha colega de quarto, não pude desistir nem adiar, ela foi comigo para me sentir mais segura e me ajudar, caso bloqueasse... Como ela anda no 5º ano de medicina, já está "farta" de fazer historias clínicas e foi a peça fundamental.
Então lá fomos nós... Assim como a cidade, o hospital estava deserto. Não se viam médicos, nem doentes, nem agitação. Apenas pessoas internadas que aguardavam a hora das visitas para lhes acabarem com a solidão. Uma vez que nas aulas de Propedêutica Médica estamos sempre no sector dos homens, quis começar pelas mulheres. Fizemos história a duas senhoras: a primeira, por coincidencia, é avó de uma colega minha do 3º ano (passou mais tempo a falar da neta, que só conheço de nome, do que da doença; além disso a senhora era enfermeira e à medida que a conversa foi avançando comecei a perceber melhor o que a minha professora quer dizer quando diz "fazer historia a profissionais de saúde é bastante complicado").
A Raquel teve de intervir na maior parte do tempo, sejamos justos. Aquilo foi a primeira vez que entrevistei alguém, mas foi mais ela que eu... Eu refugiava-me nos papeis, e olhava para ela como quem diz "e agora?"... Foi cómico.
Na segunda senhora decidi não apontar nada: apenas me concentrar no que ela dizia. As coisas começaram a fluir naturalmente e quando dei por mim estava a ausculta-la. E então foi a primeira vez que usei o meu estetoscópio para fins verdadeiramente diagnósticos.
Como  a Raquel tinha de fazer uma Historia Clínica para avaliação de ginecologia demos um salto ao piso 9. E o que se encontrou lá? Mulheres! EnfermeirAs, médicAs, auxiliares e doentes, tudo de um só sexo, foi assustador! E pensar que quero isso para mim... Enfim, acabamos por desistir porque as senhoras que lá estavam ou tinham visitas ou então tinham problemas aos quais os alunos não estão autorizados a fazer entrevista, como tumores malignos.
"Não queria que fosses embora sem ouvires um sopro ou qualquer coisa gira no coração de um doente!"... "Ok, vamos a Cardiologia..."..."Bora!" E lá fomos... No corredor, a um senhor velhinho que caminhava em sentido oposto ao nosso disse "Boa tarde", visto que nos olhava fixamente de forma simpática. E ele responde "Boa tarde, senhora Doutora"... E então foi a primeira vez que fui assim tratada, num contexto hospitalar. Lá encontramos um cavalheiro sentado a ler o jornal e entramos, pedimos para falar com ele e esse sim, foi o momento mais "fantástico" (não é bem essa a palavra) do dia. Ele era oficial do exercito, um cavalheiro mesmo daqueles que já não existem! Não apontei nada, não fiz perguntas dirigidas para obter informação, só queria aprender a viver com ele, só quis aproveitar o momento. Dizia ele que a maior felicidade da vida era plantar um feijão, ou milho e ver a terra castanha e no dia seguinte vê-la verde, com rebentos e ajudá-los a nascer, que aquilo era vida simples...

Viemos embora com um sorriso de orelha a orelha, 3 horas depois de termos saído. Foi a tarde mais compensadora de sempre: e o melhor é que consegui vencer o medo de entrevistar um doente à frente de outras pessoas, sem saber como lidar com as respostas deles, etc etc etc... Simplesmente agora sinto um nervosismo natural e as perguntas fluem. Obviamente que faltam anos de experiência para fazer a diferença: as perguntas da Raquel eram perfeitas, adequadas, contextualizadas e fundamentadas. E eu pensava "Exactamente, era isso que devia ter perguntado..."
Por simpatia ou delicadeza, disse-me no final que na última entrevista eu tinha sido muito segura, tinha feito as perguntas certas, estava muito bem... Curiosamente, foi nessa que senti mais descontracção...
No final do dia tinha um papel colocado na parede da minha cama que dizia "Um dia vais ficar "farta" de fazer histórias clínicas, MAS nunca deixes de as fazer com a mesma sensibilidade que fizeste hoje"... 
Acho que nunca vou esquecer este dia!