tag:blogger.com,1999:blog-45301870578489829662024-03-13T17:25:28.934+00:00Diário de uma Estudante de Medicina...(agora já médica)by J.C.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11058988449108496716noreply@blogger.comBlogger146125tag:blogger.com,1999:blog-4530187057848982966.post-38131602292473730822017-04-06T22:57:00.001+01:002017-04-06T22:57:25.424+01:00PaliativosCuidados paliativos são o quê afinal?<br />
Bem, vou deixar aqui a minha definição baseada naquilo que senti, ao final da primeira semana de estágio nos cuidados paliativos no IPO do Porto.<br />
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Os Cuidados paliativos sao chocantes, emocionantes, humanizadntes, angustiantes, reconfortantes, tudo ao mesmo tempo. Foi isto que senti no primeiro dia de estágio, quando levei com a emoção que está por detrás de cada conversa, de cada relação medico-doente-família, como uma onda avassaladora.<br />
A condição humana é incrível, cada vez me apercebo mais disso, e me fascina mais ser médica. Todos nós queremos ser amados, todos nós queremos morrer sem sofrimento, todos nós queremos sentir que naomestamos sozinhos. Há coisas que nos ligam a todos, e o final de vida trás muito disto que são as semelhanças humanas à flor da pele.<br />
Cuidados paliativos existem para dar o conforto e retirar o sofrimento de quem está a morrer, e apoiar os familiares que ficam sem o seu ente querido, e como interna de medicina geral e familiar não poderia ser mais útil à minha formação pessoal e profissional. Quem me dera que um dia a nossa rede de cuidados continuados fosse tão boa, e houvesse tantos médicos tão competentes e à vontade a lidar com as questões de final de vida, que o hospital não estivesse cheio, como tem estado todos os dias.<br />
O luto tem de ser feito por quem fica, muitas vezes por quem parte. E começa antes do falecimento habitualmente. Causa ansiedade, saber de ante mão que alguém que amamos vai deixar-nos. E esta ansiedade, quem cuida? Paliativos é prestar apoio psicológico, através de uma equipa multidisciplinar, aos familiares e ao doente. É ver que um doente que mal fala, consegue arranjar forças para pedir para ver um padre.<br />
Paliativos é um desafio a tudo o que aprendemos em medicina. Aqui não se salva, cuida-se. É ver doentes a morrer ali, à nossa frente, é sentir paz e até um certo alívio por ele e não intervir par o tentar salvar, mas apenas garantir que vai morrer sem sofrimento. É aceitar o ciclo naturalmente vida e de morte, sem que isso nos cause dor a nós. No entanto, Paliativos é diferente de eutanásia, distância ou suicidio assistido. É ouvir um doente pedir no desespero que o matem porque já não aguenta ter cancro há tantos meses, e dar-lhe a mão em silêncio e depois dizer "não está sozinho...eu fico aqui consigo...".<br />
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Tem sido um estágio de muito trabalho, mas de um enorme interesse. É engraçado como eu, que durante toda a faculdade quis ajudar bebes a nascerem, estou agora fascinada e ainda atordoada com isto que é "ajudar a morrer com dignidade".Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11058988449108496716noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4530187057848982966.post-67665413542691097832017-03-23T11:14:00.000+00:002017-03-23T11:14:01.897+00:002º Ano de EspecialidadeDesde setembro de 2016 que não escrevo, porque atrás de uma pequena obrigação vem outra, e mais uma mudança na vida, e quando dou conta já se passou meio ano...<br />
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Tive exame final de 1º ano em Dezembro e nos tempos anteriores a minha vida não foi mais do que trabalhar, chegar a casa e estudar, trabalhar no dia seguinte, estudar aos fins de semana, fazer urgência aos fins de semana em que dava para conjugar tudo... Foi esgotante. Já não estava só a estudar, como na faculdade, estava também a trabalhar e tudo o que queria ao chegar a casa era sentar-me no sofá e adormecer até ao dia seguinte. Depois, para complicar, o ritmo de estudo já não é o mesmo que na faculdade, é tudo mais lento.<br />
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Foram 3 médicas especialistas em MGF, uma delas a minha orientadora de formação, a fazer perguntas durante cerca de 2 horas, numa sala com porta entreaberta e com uma folha à frente, para cotar as minhas respostas. No final do exame mandara-me sair para discutir a minha nota final, e chamaram-me 5 minutos depois para me comunicarem o que decidiram e eu assinar.<br />
A sensação que ficou depois foi de vitória. Fui a primeira do meu ano a fazer exame, e felizmente correu muito bem. Pensei: <i>"já está, mais um ano"</i>. Nunca na faculdade fora tão bem sucedida numa oral. Mas não tinha saudades nenhumas deste tipo de prova.<br />
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Entretanto estou já com quase 3 meses completos de 2º ano de MGF, e isto está a passar a voar. E a cada dia vou gostando mais do que faço. Encontro um desafio todos os dias, algum caso que me dá mais trabalho, que me obriga a estudar em casa.<br />
Em Abril vou fazer estágio no IPO do Porto, em Cuidados Paliativos, depois Maio e Junh estágio de Psiquiatria. Aí sim, o tempo vai mesmo passar sem me aperceber, é sempre assim quando estamos fora da USF... E quando der por mim, estamos no Verão e eu estou a meio do 2º ano.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11058988449108496716noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4530187057848982966.post-64445065848719855842016-09-18T14:31:00.001+01:002016-09-18T14:32:02.999+01:00Diferentes especialidades, diferentes racicioniosAlguém me perguntava se eram mesmo diferentes as especialidades de mgf e medicina interna, uma vez que são ambas especialidade generalistas.<br />
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Sim, são diferentes, sem prejuízo para nenhuma delas.<br />
A população alvo dos cuidados não é a mesma, e por si só, isso já faz com que exista uma discrepância. Nos cuidados primários de saúde, na mgf, a população alvo são todas as pessoas, de todas as idades e de ambos os sexos, independentemente do seu estado de saúde ou doença. Há uma enorme variedade e uma grande porção dedicada a prevenção da doença e promoção e saúde. Prevê-se que 80-90% de todos os problemas ou fases de um indivíduo ao longo da vida possam ser diagnosticadas e/ou seguidos no seu médico de família.<br />
O médico de família necessita ter a aptidão de dominar todos os problemas que possam ser resolvidos ao nível dos centros de saúde, de todas as áreas de medicina, ou seja, esses 80% dos problemas ou fases das vidas das pessoas. Exemplos de 'fases' de vida que necessitam de cuidados, embora não representem necessariamente doença, são as etapas de crescimento de uma criança ou uma gravidez. Adicionalmente, não pode deixar escapar um sintoma ou um sinal clínico que possa indiciar um problema potencialmente grave, que careça de tratamento mais específico, por exemplo, nos hospitais.<br />
O raciocínio tem por isso de ser versátil. Ora se faz uma consulta um jovem saudável, ora se vê um idoso com uma lista de 15 medicamentos para gerir. O raciocinio está mais voltado para o que é comum e mais prevalente, mas não pode deixar de se pensar no que é raro e potencialmente fatal.<br />
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Na medicina interna, e nas urgências dos hospitais, onde os médicos internistas fazem turnos semanalmente, há uma seleção da população. Não contactam com a população geral, mas sim com uma população já pre seleccionada, 'doente'. Só vai ao hospital quem tem algum problema que não pode ser tratado ao nível dos cuidados primários de saúde (ou pelo menos deveria ser assim...). Na medicina interna habitualmente não se lida com pessoas saudáveis ou com problemas minor, pelo que o raciocínio está, inevitavelmente, mais voltado para problemas que sejam potencialmente graves. São médicos peritos na gestão de multiproblemas. Costumo dizer "se só tem um problema no coração, vai para a cardiologia; se só tem um problema nos rins, vai para a nefrologia; se tem vários problemas em diferentes órgãos ou sistemas, vai para a medicina interna".<br />
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Uma outra grande diferença é a abordagem ao utente. Nos cuidados primários, os médicos de família conhecem a família toda, às vezes até as casas dos seus utentes por dentro e por fora, sabem como são as condições de trabalho, a relação entre o casal. Tudo. Sabem tudo. Nos hospitais os médicos sabem tudo...sobre a doença do doente, não sobre o doente e a sua envolveria familiar, social e económica.<br />
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Uma outra diferença é a capacidade de investigação de um problema. Nos cuidados primários de saúde temos um leque de determinadas análises e exames de imagem que podemos pedir e não dispomos de mais que isso. Nos hospitais podem pedir todo o tipo de exames, até os mais caros e mais extravagantes. Existem situações em que eu gostaria de investigar mais um determinado quadro clínico, mas por não ter ferramentas, não por não ter os conhecimentos, sou obrigada a referenciar o meu doente as consultas do hospital.<br />
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Em resumo, diria que os médicos de família são a base do sistema nacional de saúde, são o fundamental para que a maioria das pessoas de um país tenha cuidados de saúde. Os médicos internistas são a base dos cuidados hospitalares, em conjunto com os cirurgiões gerais. São a base dos cuidados secundários, são a base de qualquer serviço de urgência hospitalar.<br />
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Cá em casa é engraçado. De crianças e grávidas o meu marido não percebe nada. Deve saber mais facilmente actuar perante um enfarte do que perante uma otite ou como gerir uma infertilidade no casal. Quantas vezes ele representa uma má notícia, diz a uma familiar que o seu ente querido faleceu. Eu ajudo com o processo de luto que se faz na família depois...<br />
São cuidados as pessas que se interligam.sao generalistas, mas cada uma à sua maneira específica.<br />
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É verdadeiramente assustador perceber que já estamos em agosto, e que daqui a 2 meses vou começar a fazer os meus estágios no hospital. Este ano faço reumatologia e pediatria... Acho sinceramente que vão ser tempos difíceis, voltar a ser vista como 'a estagiária', e não como uma verdadeira médica formada. Por saber disso, já vou sofrendo por antecedência...<br />
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Ontem consegui finalmente juntar uns bons amigos da faculdade. Cada um na sua cidade, na sua especialidade, foi espetacular de ver. Cada um já vê as coisas mais à sua maneira, e eu e outro colega de MGF, vemos as coisas na generalidade. Começam-se a alinhavar as diferenças dos raciocínios, não que isso seja mau, claro, é algo inevitável.<br />
No meio de dois futuros internistas, um deles meu marido, e de um futuro hematologista que está a fazer o estágio de medicina interna, lá estava eu a discutir com eles casos de urgência, já que comecei a fazer alguns turnos. Confesso que senti uma 'pica' nisso...um orgulhozinho de andar metida 'nas coisas do hospital' e continuar a ser a futura médica de família.<br />
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A propósito disso, esta semana disse espontaneamente a uma colega, quando vi um carrinho de bebe no centro de saúde de dois lugares, e reconheci a mãe: 'aqueles meninas gémeas são minhas'... Foi a primeira vez que o disse. São 'minhas' porque acompanhei a gravidez da mãe, porque estava a torcer para tudo correr bem, porque estava ansiosa de as conhecer, e porque serei a continuar a acompanhar crescimento delas...Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11058988449108496716noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-4530187057848982966.post-27569081200306081552016-08-08T21:55:00.003+01:002016-08-08T21:55:53.639+01:00Escrever é inspiração, não obrigação!Aos leitores assíduos e que aguardam com entusiasmo os meus posts, o meu pedido de desculpa... <div>
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Não gosto de escrever por escrever. Escrevo não para ter mais e mais leitores ou ganhar dinheiro em publicidade, que não ganho, mas sim porque simples é puramente gosto... Por isso quando não escrevo, é porque acho que não não vou dizer nada de especial ou interessante, ou não me sinto no 'espírito'... </div>
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Deixo só esta nota aqui porque tenho recebido algumas mensagens desagradáveis, de pessoas a sugerirem que não escrever é falta de respeito pelos leitores ou a sugerir que termine o blog... </div>
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De facto não vejo o meu blog dessa forma, não é uma obrigação, nem pode ser, senão deixa de ser sincero. </div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11058988449108496716noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4530187057848982966.post-60302512606741933072016-05-08T12:21:00.003+01:002016-05-08T12:21:42.388+01:00Medicina InternaAos colegas que vão escolher especialidade em Junho e consideram Medicina Interna:<br />
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Sou casada com um aspirante a internista. Tenho amigas de faculdade que escolheram também esta especialidade.<br />
Vou falar daquilo que eu vejo, que estou meia dentro do assunto, meia fora.<br />
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Para quem gosta de especialidades médicas, Medicina interna é uma especialidade muito estimuladora mentalmente, muito completa, e por isso exige muito estudo. Isso todos nós sabemos. Devo confessar no entanto que me senti admirada quando dia após dia, o meu marido chegava a casa com imensos papeis para ler...eram <i>guidelines</i>, eram artigos, eram revisões de tema... Ele, que não estudava lá muito na faculdade, porque lhe bastava ir às aulas e o cérebro dele era tipo esponja, sentava-se no sofá, não para ver TV, mas para ler.<br />
Não se enganem, vão ter de estudar ou vão fazer figuras menos felizes diariamente no internamente e na urgência.<br />
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Depois, as urgências: desde que a lei mudou, e estando em hospitais que a fazem cumprir, as coisas não são más. Faz apenas e somente 12 horas/semana. Ora...isto porque está num hospital simpático, que definiu que os internos do 1º ano fazem apenas noites a partir de Julho (para terem meio ano de mais apoio, uma vez que à noite não há as especialidades todas). Também porque está num hospital simpático, não faz mais que uma urgência por semana. Não há urgências extras obrigatórias..só faz quem quer e pode...e com limite máximo de 6 urgências/mês. Em termos de organização, também não se pode queixar, uma vez que ele ficou a saber, com um ano de antecedência, que vai ter de fazer o dia de Natal. Em Janeiro, recebeu a planificação das urgências para o ano inteiro! Não pode jamais dizer, nem eu, que não sabíamos!<br />
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Sobre a formação propriamente dita: faz um pouco de tudo, que creio ser a essência da MI. Em apenas 4 meses de internato (vamos descontar o Maio que ainda vai no inicio), já diagnosticou e orientou alguns enfartes, já fez pelo menos 2 cardio-desfibrilhações na urgência que eu me lembre, porque não têm Cardiologia aos fins de semana. Já fez paracenteses, porque não há gastro disponível sempre... Também se bem lembro já fez prai umas 5 toracocenteses...lá está..porque não pneumologia de urgência.<br />
Pelo que me conta, têm muito mais do que pneumonias internadas... Têm doenças auto-imunes para estudo, têm endocardites infeciosas, têm linfomas para estudar...e lá vão fazendo de tudo, porque não têm as especialidades todas.<br />
Pelas contas da ordem dos médicos, é suposto um interno ter 200 doentes no internamento ao longo do ano. Ele já teve 110, em 4 meses...acho que não será difícil atingir os mínimos.<br />
Já devem ter percebido que estou a falar de um hospital que não é central. Então para quem gosta de trabalhar, já perceberam que devem ponderar bem esta questão.<br />
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E sobre a investigação e essas trapalhadas todas, que os hospitais centrais são espectaculares e têm faculdades??? Isso é com tudo na vida meus caros...quem quer, faz! Já não estamos na primária, não temos de estar a espera que nos proponham fazer isto ou aquilo...Podemos e devemos ser nós a propor trabalhos, a mostrar o interesse...<br />
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<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11058988449108496716noreply@blogger.com11tag:blogger.com,1999:blog-4530187057848982966.post-86908908965879152142016-05-08T09:47:00.003+01:002016-05-08T09:48:19.842+01:00E então?Somos mesmo muitos internos em MGF, somos a especiliadade que mais médicos absorve por ano. Isso leva a alterações inevitáveis. Os estágios obrigatorios que antes eram de 3 meses, passaram a ser de apenas 2. Os exames finais a esses estágios, que habitualmente eram sob a forma de oral perante 2-3 especialistas, vão este ano passar a ser provas escritas, num só dia, igual para toda a região Norte. Alterações sao sempre alterações, e gostamos mais de lidar com aquilo que conhecemos na maior parte dos casos, mas não posso deixar de pensar que deverá ser mais justo assim... É provável que as notas desçam, e agora sim, vai parecer que voltamos à faculdade!, mas por outro lado, havia muitas discrepâncias nessas tais "orais".<br />
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O exame final de especialidade também foi efetuado de forma diferente este ano pela primeira vez. Agora é composto por discussão curricular, exame prático sem doente e um exame escrito de escolha múltipla de 100 perguntas, que segundo sei tinha uma bibliografia tão grande que nunca mais acaba, cheia de artigos, livros e cenas, que ainda por cima ao que parece lá se vão contradizendo. Foi um descer sem visto nas notas finais... Dos internos que se apresentaram a exame, haverá vagas para apenas 1/3 deles ficarem a trabalhar na zona norte...os restantes 2/3..nao sei... Podem ficar a trabalhar no sector privado, podem ter de mudar de casa e ir para outra zona do país, podem emigrar...São livres.<br />
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O impacto emocional que isto tem em mim é pequeno, muito sinceramente. Estou apenas no 1º ano, é provável que em 4 anos as coisas ainda mudem e voltem a remudar.<br />
Tenho conseguido manter a minha sanidade mental no meio disto que já parece ser uma pequena selvinha de pessoas que lá se vão rindo umas para as outras, mas que no fundo devem andar a pensar "<i>será que ele já tem mais trabalhos feitos do que eu?</i>".<br />
Seria muito fácil stressar com estes valores... Pensar que daqui a 4 anos apenas 1/3 dos que este ano entraram em MGF no norte, vão continuar por cá...e seria muito fácil entrar em desespero, tentar ter o melhor currículo de toda a região norte, ir a 10 cursos por ano... Acreditem ou não, todas as semanas são divulgadas jornadas, cursos, palestras, sessões clínicas, etc etc etc, que caem diretamente nos nossos emails... Tenho conhecido pessoas que dizem que é raro o fim de semana em que não têm um cursinho qualquer para fazer...<br />
Decidi que não me vou deixar levar nessa corrente. Decidi que não vou fazer cursos que não têm interesse para a minha formação. Não vou realizar trabalhos em que eu não goste do tema. Vou ser fiel a mim mesma. Vou aos cursos de temas em que eu sinta necessidade de formação, para ser melhor, para saber tratar os meus doentes, não para "<i>curriculite</i>". Se vou ficar para trás? Provavelmente não, porque o espírito que me vai conduzindo dia a dia é humilde, e acho sempre que tenho de estudar mais, por isso lá vou eu fazendo imensas coisas ao mesmo tempo... <br />
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E toda esta conversa começou por eu dizer que somos mesmo muitos internos em MGF. É natural que não vá haver vagas para todos. Até lá, o que podemos fazer?? Acordar, dia a dia, e tentar ser o melhor médico de família possível, porque não temos a capacidade para mudar nem moldar nada.<br />
Mais vale sermos felizes dia a dia.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11058988449108496716noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-4530187057848982966.post-52539631368333318512016-03-29T12:19:00.002+01:002016-03-29T12:19:40.647+01:00Cansada mas entusiasmada!Fico sempre surpreendida quando reparo que desde a ultima publicação se passaram meses inteiros, no plural. Para mim, Páscoa é em Abril, e este ano ainda não terminamos Março e já passou mais esta festividade. Deixa-me nostálgica isto!<br />
Este primeiro ano parece-me estar a voar muito rápido. Na última publicação falava-vos do quão gratificante tinha sido fazer a minha primeira consulta sozinha. Entretanto isso tem-se repetido praticamente todos os dias, várias vezes ao dia. Tenho ganho muita autonomia, faço cada vez mais consultas. Isso trás obviamente mais cansaço, porque não há nenhum dia em que não tenha algum tema para rever, algo para estudar, algum caso para discutir...<br />
Também no inicio deste mês fiz a minha primeira sessão de educação para a saúde, com crianças institucionalizadas, que correu muito bem e foi igualmente muito recompensador. Inscrevi-me num curso em horário pós-laboral, de doenças respiratórias, para colmatar as minhas falhas a nível do pulmão (que nunca foi órgão que lhe achasse lá muita piada) e lá tive de comprar um livro de dermatologia. Se há coisa que detesto, é dermatologia! Fico toda arrepiada com as imagens do livro, mas tive de me debruçar sobre esse gigantesco buraco negro. Nunca falta o que estudar numa área generalista! A juntar a isto tudo, um curso de Cardiologia aos sábados de manha 1x/mês e agora um sobre Diabetes, no mesmo esquema.<br />
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Tivemos connosco uma estudante de medicina do 2º ano a fazer um pequeno estágio, e deveriam ver a carinha dela quando lhe explicamos que o internato eram mais 4 a 6 anos cheios de pequenos objetivos a atingir, cheios de exames em forma de oral... Com uma cara de terror disse-nos: "eu achava que os exames terminavam quando acabássemos a faculdade..."<br />
Pois, não. No caso da MFG, temos os exames após a conclusão de cada estágio obrigatório (obstetrícia, pediatria, psiquiatria e urgência), temos os exames para transitar de ano que englobam perguntas também sobre as áreas das opcionais que fizemos nesse ano, e temos o exame final de especialidade.<br />
Fiquei a conhecer o meu plano de formação para os 4 anos também muito recentemente. Este ano fico na minha USF até Setembro, depois faço estágio de Reumatologia (opcional, escolhida por mim), e depois termino o ano civil com o estagio de 2 meses de Pediatria.<br />
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Cansaço misturado com entusiasmo e dedicação, é a mistela que sinto. Perguntou-me há pouco tempo atrás a minha orientadora: "Então, já decidiste se vais ficar na MGF?"<br />
Respondi, sorrindo "Pensei que já soubesse a resposta..."<br />
Ela retribuiu o sorriso.<br />
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11058988449108496716noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-4530187057848982966.post-74300217277375764072016-01-27T19:41:00.000+00:002016-01-27T19:42:05.111+00:00Internato de Espcialidade - o inícioPassou-se mais de mês e meio e eu sem dar notícias... Ou o tempo passou a correr, ou todas estas novidades foram demais para eu absorver e escrever sobre elas, ainda sem saber bem que impacto estavam a ter em mim.<br />
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Ora bem, do inicio. As festas do final do ano correram super bem, soube muito bem ter 2 semanas de férias antes de recomeçar. Olhando para trás e em jeito de reflexão, adorei ter a oportunidade de fazer o Ano Comum, tenho realmente pena que vá deixar de existir brevemente. É o ano em que os colegas mais velhos nos levam pela mão, já com a responsabilidade de sermos médicos, mas ainda muito apoiados, ainda com imensa disponibilidade para explicarem tudo o que for necessário. É o ano onde aprendemos ainda mais a ser humildes, a reconhecer os nossos limites e a saber pedir ajuda. Algo cresce em nós, a proximidade ao doente, o espírito de equipa em substituição da competição. Pelo menos foi assim para mim...<br />
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Agora falemos do internato:<br />
A primeira semana foi caótica! E quando digo caótica, refiro-me a tudo! Reuniões atrás de reuniões, ora no ACES, ora na ARS norte. O ritmo de consulta era portanto constantemente interrompido por tardes de compromissos chatos. Dei por mim a chorar ao 2º dia, e a pensar "onde me vim meter????". Eu e e este meu problema...lágrimas demasiado perto do coração.<br />
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A segunda semana foi pouco melhor. Já sem reuniões mas com poucas consultas de MGF porque "estava a começar". Ora, quem me conhece minimamente, e diria que quem lê o meu blog assiduamente até já sabe disso, sabe que eu sou tudo menos lenta... Sou frenética! Adoro trabalhar! Adoro fazer, não gosto de estar só a olhar. Aguentei 2 consultas caladinha no início, e depois tive de perguntar à minha orientadora "também posso falar com o doente e fazer perguntas?" (ao que ela amavelmente disse "claro que sim"!). Por isso, quanto mais me diziam "vai com calma rapariga, isto é só a segunda semana", mais frustrada me sentia. À parte deste ritmo, nada a dizer das pessoas! Fui super bem recebida desde o primeiro momento, quer pelos especialistas quer pelos colegas internos mais velhos. Senti-me "adoptada" por todos, que se preocuparam em me integrar em tudo.<br />
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As coisas começam a ficar consideravelmente melhores na semana seguinte, em que já estava super à vontade nas consultas, já conhecia melhor a minha orientadora, e comecei a trabalhar num projecto de Educação para a Saúde na Comunidade. Aí sim, comecei a sentir-me mais útil, mais realizada.<br />
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Ontem as coisas atingiram um enorme pico de felicidade - fiz consultas sozinha! Saúde infantil, consulta de adultos, diabetes, hipertensão e ainda consulta aberta. E ser assim tudo variado é um extra com o qual não estava à espera. Existem USF's em que os médicos têm periodos agendados de planeamento familiar, por exemplo, ou diabetes, de uma manhã inteira... Torna-se rotineiro. As nossas consultas são sempre variadas! Ora se vê um recém-nascido, ora um adulto!<br />
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Aos que ainda estão a estudar, aqui fica uma luz de esperança:<br />
Trabalhar de forma mais autónoma é uma alegria e uma enorme responsabilidade, mas é o incentivo maior ao estudo continuado. Ter doentes ali à nossa frente a expor problemas, na expectativa que os passamos ajudar! Na faculdade estudamos para passar nos exames, para ter uma boa média, para saber alguma coisa num futuro longínquo, quando tivermos doentes... E deixamos para amanhã e para depois porque estamos cansados de aulas... No Ano Comum também já se trabalha, mas somos tão apadrinhados e estamos em tantos estágios diferentes, muitos deles de coisas que não gostamos particularmente, que também é dificil haver motivação.<br />
Agora já não é assim, quero mesmo estudar para saber mais, para ajudar mais, para não errar com os doentes que vejo hoje e os de amanhã! Vou fazer domicílios mas já não é passeio, quase como era antes, nem é só"giro". Agora é "fundamental"! Agora vou e venho a pensar no que se pode fazer para melhorar os cuidados àquele utente acamado, para ensinar a família a cuidar dele...<br />
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Em resumo, acho que já se percebeu: estou a gostar. Não vou desistir nem repetir exame. A MGF tem muito por onde me possa debruçar, há imenso de mim que posso dar à comunidade e onde me possa sub-especializar. Sinto-me a exercitar o cérebro a cada consulta, por isso não é monótono. E sinto-me cheia de energia! Aguardem-me...não vão faltar novidades!<br />
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11058988449108496716noreply@blogger.com12tag:blogger.com,1999:blog-4530187057848982966.post-66794092041301176062015-12-14T17:30:00.000+00:002015-12-14T17:30:04.547+00:00O rodopio da escolha - A decisãoHá quem diga que o silêncio em certos momentos, é o melhor conselheiro da vida. Fiz silêncio durante estes dias para deixar o coração gritar em privado.<br />
Tentar descrever-vos o que foi ter de escolher a especialidade não vai ser tarefa fácil, porque acho que serão poucas as palavras que podem dar-vos a imagem do ambiente vivido, da forma como estão as pessoas - de como estava eu -, a forma como tudo se processa. Ainda assim, vou tentar.<br />
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Os dias antes de eu escolher foram uma falsidade de concentração e alegria. Lá se tenta não pensar naquilo, dizia eu a mim mesma "só vais ver as vagas no final da manhã".."ou no final da tarde..". "Não serve de nada..." Aos olhos alheios estamos normais, a vida vai como sempre, mas por dentro não é assim. E pouco a pouco, mais uma vaga que gostava era escolhida, e mais outra, mas ainda haveria para mim uma!<br />
O "tal" dia chegou e se há coisas para que servem escolher a especialidade, uma delas é ser dispensado do trabalho nesse dia, para "pensarmos". Fiquei em casa então a aproveitar não ter de acordar as 7h da manhã, a limpar, a passar o tempo, a "tentar não pirar" da cabeça. Quando esse tal dia chegar para vocês, se for o caso, cuidado, porque parece que o trânsito é mais e nenhum carro se mexe e há mais acidentes que no resto dos outros dias todos!!<br />
Levava comigo a minha listinha de preferências por ordem, como todos recomendam, "porque lá não se sabem tomar decisões". E muito menos eu, que sou tão indecisa. Ainda tive tempo de telefonar as amigas mais especiais à procura de uma última luz. Qualquer coisa, só para saber se estava certa, só para não estar junto dos outros candidatos todos, os que já escolheram, os que estão à espera e são primeiro que eu, os que estão à espera a rezar para eu e as outras pessoas que estão antes deles, não escolherem a sua vaga.<br />
O enorme problema deste ano é que não houve vagas para todos os médicos que terminam agora o Ano Comum. Isso fez com que as especialidades fechassem com notas superiores aos esperado. A famosa Coimbra, que onde Psiquiatria fechava na ordem dos 55%, fechou este ano nos 68%...E pouco a pouco, mais vagas se fechavam.<br />
Quando finalmente chegou a minha vez, olhava para o meu papel e já todas as vagas de Psiquiatria que eu tinha em hipótese escolher, já tinham sido escolhidas. Ficavam zonas do país para as quais eu não estava disposta a ir. Quando me sentei em frente à senhora responsável e ela me perguntou: "Então doutora, o que vai ser?" eu respondi: "MGF" e chorei como eu acho que nunca ninguém deve ter chorado naquela sala... Foi a vergonha nacional! Às vezes adorava conseguir ser menos transparente.<br />
<br />
Chorei naquele momento, depois e nos dias seguintes. Repensei mil vezes se não deveria ter ido para as tais zonas do país onde não queria estar. Revivi aquele momento mil vezes e não encontrava paz. Chorei com a mesma vontade, o mesmo desespero, que chorei a primeira vez, quando terminei de corrigir o meu exame, há um ano atrás. A mesma sensação de injustiça em relação à minha nota/esforço. Chorei por não saber se o meu marido conseguiria entrar no que ele queria, perto de mim.<br />
MGF estava na minha tal listinha de preferências que levei comigo
naquele dia e durante este ano pensei várias vezes nisso. Foram muitas as vezes que pensei que iria sentir saudades da parte mais médica, mais objectiva, em prol da subjectiva da Psiquiatria, como fui partilhando aqui. Mas não tive tempo de digerir em minutos o facto de alguém,
poucos lugares acima de mim, ter escolhido a ultima vaga de Psiquiatria
que eu gostava. Pareceu-me como uma derrota, ali tão perto de mim e eu
não a ter conseguido agarrar. <br />
<br />
Já faz dias que não choro, nem tenho vontade disso e me sinto optima. Neste tempo, em que estive em silêncio, o meu marido escolheu a especialidade dos sonhos dele, mesmo ali ao lado da minha futura USF. Foi aí que a alegria começou a ser outra. Agarrei-me ao que tenho, ao que conquistei e às possibilidades do futuro. Fui conhecer a minha USF e orientada de especialidade, e fui super bem recebida. Ponderei repetir exame, enfim, ponderei tudo, mas aos poucos fui colocando essa hipótese mais de lado (embora não esteja arrumada). Ao repetir exame, voltaria a entrar na especialidade apenas em Julho de 2017...parece-me demasiado tempo sem exercer medicina. E fará sentido mudar de especialidade sem sequer ainda ter experimentado à séria o que isto de ser médica de família? Aos poucos as incertezas deram lugar à vontade de ser a melhor médica das redondezas. Hoje sei que não foi sequer uma luta, foi o acaso aquele colega ter escolhido o que escolheu.<br />
<br />
Isso é mais difícil de digerir neste processo todo - não estamos dependentes de nós mesmos..não é um exame. Estamos dependentes das escolhas de quem está a nossa frente e é como a causa-efeito "do bater das asas da borboleta". A minha decisão influenciou a escolha de outros e assim sucessivamente, até entrar o acaso, até entrar o azar e a sorte, o destino, quem sabe.<br />
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11058988449108496716noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-4530187057848982966.post-78167135969732779422015-11-23T19:54:00.001+00:002015-11-23T19:54:46.605+00:00O rodopio da escolha.Na passada quinta-feira foi um grande dia para os colegas de medicina que se apresentaram a exame de seriação. Amigos meus estiveram lá com o objetivo de conseguir uma melhor nota que a do ano passado. Acabei por não postar nada nesse dia, porque estive de urgência, mas o meu pensamento foi para todos os anónimos e os amigos que tiveram de responder às 100 perguntas deste ano.<br />
Foi nesse dia que me apercebi que já passou um ano desde que eu fui fazer essa mesma prova. Já com a distância emocional que um ano de tempo dá aos seres humanos, tudo me pareceu menos importante e menos sofrido. Lembro-me bem do quanto me doeram os dias antes, pela angústia, o próprio dia, pelo nervosismo e a ansiedade e depois pela falsa sensação de alívio e de sucesso, e no dia seguinte, ao ver a minha nota... Como passou a correr este ano de internato geral! E como é giro como funciona o carrossel da vida: hoje tão intensa uma emoção, amanhã uma recordação.<br />
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Agora começou outro rodopio, outra agitação, mais confusões! A escolha da especialidade. Foram dias e dias a pensar o que queria ser de verdade. Fui ver este ou aquele serviço de Psiquiatria, mas como as vagas são tão poucas este ano, tive de recolher informações sobre MGF. O maior rodopio é sem dúvida o emocional.. É não saber se preferimos ficar perto mas noutra especialidade, ou longe de quem se ama na especialidade que mais se gosta. É ter um marido que também é médico e também vai escolher, e termos de pensar a dois para agradar a ambos. É ver tão poucas vagas para tantos candidatos. É ter amigos bem próximos que vão ficar com as sobras, ou sem vaga este ano... São as pessoas a perguntar constantemente: "então, já sabes o que vais escolher?". É saber que vou ter de mudar de casa, mas não fazer a mínima ideia para que ponto de Portugal, e já ir acumulando caixotes em casa. É tudo tão avassalador! Hoje uma amiga minha ligou-me a chorar sem saber o que fazer. Ontem chorei eu pela incerteza de tudo isto.<br />
Como se tudo isto não tivesse por si só o impacto necessário nas nossas vidas, a organização da escolha atrasa-se sempre, há sempre enormes confusões e a comunicação social sempre metida ao barulho, infelizmente como a nossa única forma de visibilidade.<br />
Esta sexta feira, segundo o previsto, que é sempre incerto, serei eu a escolher o que vou fazer à minha vida profissional. Não me preocupo com as primeiras pessoas, os primeiros 100 que supostamente escolheriam hoje. Os primeiros, talvez porque podem, talvez por falta de imaginação (=P) vão sempre para dermatologia, oftalmologia, urologia e outras cirúrgicas... Lá para 4ª feira, quando as vagas cirúrgicas começarem a esgotar, aí sim, vou ficar nervosa!Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11058988449108496716noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4530187057848982966.post-60713915808425256892015-11-08T22:59:00.001+00:002015-11-08T22:59:17.019+00:00objectiva vs. subjectivaNão sou muito fã do trabalho desenvolvido nas enfermarias de medicina interna. Vê-se os doentes e depois passa-se o resto da manhã a escrever diários enormes e a fazer altas ainda mais enormes! Durante o meu estágio de medicina no 6o ano estava a contar os dias para terminá-lo, por isso calculei que este ano também asssim fosse. Mas não está a correr mal... Acho que ajuda eu ver os doentes numa perspectiva mais médica, sinto-me responsável por eles, ao contrário da abordagem dos alunos. Talvez seja isso. Ou talvez sejam aqueles dias por semana que estou na urgência, que me animam tanto que são como golpes de ar fresco!<br />
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Durante as primeiras 3 semanas ficava a acompanhar/ajudar a minha tutora de SU, o que já era espetacular porque ela me deixava fazer muito sozinha. Na semana passada, passei a ficar mesmo sozinha num gabinete emergente, que equivale a ver doentes triados com amarelo ou laranja. Fazia a história do doente, exame físico que achava adequado, traçava um plano de exames e de terapêutica e ia discutir com ela antes de clicar no "gravar". Aí sim, tudo pareceu mesmo real! Eu estava ali, por minha conta! E que maravilhosa sensação quando ela me perguntava "e o que estás a pensar que isso seja?" E eu respondia, e algum tempo depois, já com todas as peças do puzzle montadas, eu estava certa...<br />
Então ver análises, saber que exames pedir, pensar em vários diagnosticos diferenciais, saber por que caminho ir, saber fazer uma tabela terapêutica para tirar a dor, para aliviar a dificuldade de respirar...tudo isso ganhou mais valor. De repente, essa parte tão objetiva da medicina ganhou tanta força que me revejo em dúvidas, de novo. A psiquiatria é tão subjectiva...<br />
<br />
E aqui fica uma importantíssima mensagem aos colegas mais novos, que estão a poucos dias de fazer a prova de seriacao nacional:<br />
- não se pressionem demasiado. Eu costumava repetir para mim mesma: "tens de conseguir boa nota por <i>SÓ gostas disto!" </i>Quando comecei o ano comum, estava convencida que iria detestar mais de metade dos estágios. Afinal, acontece que ser médico já é mesmo bom! Que acho que me adaptaria a imensas especialidades e acabaria por gostar, ao contrário das únicas duas que falava sempre. Acontece que agora que até casei, vejo as coisas de uma forma diferente. De repente, já não importa assssim tanto qual a especialidade, porque no final do dia o que realmente importa está em casa, a minha espera... Portanto não se pressionem demasiado, senão deixam de conseguir pensar.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11058988449108496716noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-4530187057848982966.post-46165957698999329062015-10-12T15:17:00.002+01:002015-10-22T22:36:56.590+01:00Resposta aos leitores: Pode-se engravidar na especialidade?Alguém aqui há dias me perguntava alguma coisa sobre se poderia engravidar durante a especialidade ou se isso traria alguma desvantagem.<br />
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Ora bem, constituir família é um direito de qualquer cidadão; a mulher tem o direito de engravidar quando quiser, e o mesmo é válido para a paternidade (não esqueçamos o pai).<br />
Durante este percurso de aulas de medicina e agora como médica, nunca ouvi nenhuma história de alguém que tivesse sido prejudicado por isso.<br />
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Fala-se, e repare-se no verbo que eu usei, que poderá não ser vantajoso em determinados anos de especialidades cirúrgicas, porque na cirurgia é necessário o constante "aperfeiçoamento" técnico. Mas aqui me parece que é uma opção das próprias pessoas, e não lhes é imposto nada. Cada um é que sabe quando terá disponibilidade emocional/tempo para ter um filho.<br />
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FALA-SE que ainda há por Portugal alguns Diretores de Serviço que não gostam muito de internas, no feminino, pela possibilidade de engravidarem... Mas isso me parece que é puro preconceito, de médicos de outra velha guarda, pelos quais não poderemos orientar as nossas opções de vida.<br />
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A minha opinião:<br />
Entre falar-se e ser verdade, vai uma diferença. E entre as histórias que se ouvem de há uma década atrás e as atuais vai exatamente isso, 10 anos. Nestes anos, muita coisa mudou. Antigamente era quase impensável uma mulher fazer Medicina (e muitos professores faziam impor essa ideia, descriminando-as nas aulas); hoje em dia, 2/3 das pessoas que entram em Medicina são mulheres.<br />
O negativismo da questão perdura e ainda aflige alguns, mas para mim isso não passa de um boato que vai passando de geração em geração. É quase como associar-se "Medicina = Biblioteca/Nerds"... São daquelas coisas!<br />
Mas há imensas outras boas historias que nunca ninguém ouve falar! Vou deixar aqui um exemplo: atualmente no serviço de cirurgia geral (cirurgia, atenção) está uma interna em licença de maternidade, outra anunciou à pouco que estava grávida e 3 outras internas vão casar no próximo ano (2 delas no mesmo mês). Nenhuma delas foi de alguma forma discriminada...<br />
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Sejamos felizes e façamos "mazé" a natalidade de Portugal aumentar! =PAnonymoushttp://www.blogger.com/profile/11058988449108496716noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4530187057848982966.post-18674162361092729422015-08-31T12:17:00.003+01:002015-08-31T12:17:43.682+01:00Cara ou Coroa?Quando alguém nos pergunta "cara ou coroa?" para decidir alguma coisa, e apostamos numa das faces da moeda, todos nós, bem lá no fundo, sabemos o que queremos que saia, e nem sempre desejamos ter sorte. Pelo menos esta é a minha teoria, comigo funciona assim.<br />
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Se escolhêssemos a especialidade atirando a moeda a ar, por exemplo: "se for cara vou para cardiologia, se for coroa vou para cirurgia geral", no último segundo antes da moeda pousar, teríamos escolhido algo na cabeça e estaríamos a torcer por algum dos lados. Em última análise, atiraríamos mais vezes a moeda ao ar, "só para ter a certeza", ou para confundir mais as probabilidades (que serão, claro está, sempre 50%/50%). <br />
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Ora, a questão "para que especialidade vou?" já está respondida. Agora surge outra: "para onde?".<br />
Quando já se pensou e repensou milhões de vezes sobre o assunto, já se pediu opiniões a dezenas de pessoas, já se contactou os internos mais velhos dos respetivos lugares de indecisão para saber informações, até já se fez estágios em alguns desses serviços, já não resta muito mais que se faça. Os mais relaxados dizem-me "oh não te stresses, ainda faltam 3 meses...". Os mais parecidos comigo dizem "epah pensa bem, já vi muita gente a chorar antes e depois da escolha...pensa bem o que queres...e não deixes para a última".<br />
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Bem, uma verdade é certa "pessoas com nota mais alta que tu vão ajudar-te a decidir...". Não tenho nenhum 90%, por isso muitos irão escolher Psiquiatria antes de chegar o meu dia. Ou seja, é verdade que há sempre uma parcela, e bem grande, de imprevisibilidade. Mas dentro daquilo que eu posso efetivamente escolher, quero ter esse poder e esse controlo sob a minha vida bem ciente. Segundos depois da vaga estar selecionada, já nada se poderá fazer.<br />
<br />
Decisões extremas, medidas extremas.<br />
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Vai parecer estúpido a alguns (a esses, caros amigos, sintam-se completamente à vontade para terminar a leitura do post aqui), mas poderá ser útil a alguns, poucos que seja, já vale a pena correr o risco e partilhar.<br />
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Fiz uma lista das 10 coisas que são importantes para mim nestes próximos 5 anos da minha vida, como me quero ver e coloquei numa coluna. Alguns exemplos: "Viver perto da minha família", "Ter urgências somente das 8-20h", "Ter boa formação académica." Ordenei-as desde a mais importante (10) à menos (1). Selecionei o meu <i>top3 de cidades/serviços</i>, e escrevi-os em 3 outras colunas. Depois foi só atribuir pontos 3-2-1 (ou zero, no caso de não se aplicar; por exemplo, é impensável fazer SU só das 8-20h em Coimbra, enquanto que em Aveiro é certo, visto que só há SU nesse período).<br />
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No final somei tudo de duas forma: a soma direta dos pontos e a soma dos valores que se obtiveram com a multiplicação dos pontos pelo fator de importância.<br />
Obtive a mesma ordem das duas formas. E mais curioso ainda...lembram-se da questão da moeda ao ar? Se atirassem a moeda para decidir os locais, no ultimo instante, olhando só ao coração, eu sei o que eu queria que saísse...E foi o que deu.<br />
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Pode ter sido só uma estupidez, pode ter sido uma coincidência, mas sempre ajudou a ter a imagem grande das coisas. Porque quando se analisa os pormenores, como eu estava a fazer, aparecem os "ses" e "mas", mas o que importava era ver o seu conjunto e saber onde há maiores vantagens.<br />
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Talvez se possa aplicar algo semelhante para a escolha das especialidades, para os ainda indecisos nessa matéria.<br />
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Na primeira semana andei melancólica, a repensar a minha escolha profissional. Mais um pouco de dúvida patológica e ainda me auto-diagnostico como obsessiva.<br />
É que por cá deixam-nos (a nós, simples IAC's) entrar nas cirurgias, nem que seja só para segurar o aspirador. E todo aquele ritual de lavagem, aquela dança cuidada de mãos no ar para vestir a bata sem nos contaminarmos, e aquelas roupas verdes trazem o sua charme e dramatismo à questão. De repente, estar a ouvir as colegas de Obstetrícia falar deste e aquele casos na sala do intervalo, já não me era 100% indiferente. Fiquei desconfortável. Cirurgia tem tanta piada...<br />
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Na semana seguinte já tudo me parecia sem grande cor, e as constantes dores por contracturas musculares das cirurgias começam a aparecer...ou eram as pernas, ou a coluna lombar, ou os ombros... Nessa quarta-feira, ouvir as colegas falar dos partos não me fez sentir nada, estava indiferente. Acho que aquele primeiro impacto foi o mais forte, porque já há mais de um ano que não entrava num bloco... Parecia o reviver de uma paixão duvidosa. Mas é bem verdade quando dizem que o verdadeiro amor é aquele que fica mesmo depois da paixão diminuir. Cá fiquei eu, mais convicta que nunca de que tenho a decisão tomada por amor à especialidade, e não por conveniência ou outra coisa qualquer.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11058988449108496716noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4530187057848982966.post-21758390075816788302015-07-15T14:55:00.000+01:002015-07-15T14:55:29.638+01:00Novo Regime de Internato Médico<div style="text-align: justify;">
Uma vez que este foi aprovado o novo decreto de Lei sobre o Regime do Internato Médico, e eu ainda não o partilhei, aqui ficam as principais alterações e algumas luzes para quem está a pensar candidatar-se a Medicina: </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O internato médico vai corresponder "apenas ao período de formação médica especializada, com ingresso direto, a partir do Mestrado Integrado em Medicina". </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Artigo 12.º- Candidatura e admissão ao procedimento </div>
<div style="text-align: justify;">
1 — Existe apenas um concurso único de ingresso no internato médico (a partir de 2017). </div>
<div style="text-align: justify;">
(NOTA: Anteriormente existiam o concurso A e B. Ou seja, quem no futuro quiser fazer outra/mudar de especiliadade, entrará em concurso com os candidatos que acabam Medicina). </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Artigo 13.º - Prova nacional de avaliação e seriação </div>
<div style="text-align: justify;">
1 — O modelo da prova nacional de avaliação e seriação é aprovado por despacho do membro do Governo responsável pela área da saúde, após parecer da Ordem dos Médicos e do CNIM. </div>
<div style="text-align: justify;">
(NOTA: surge uma nova prova nacional de seriação, que virá substituir o actual "Harrison", dentro do prazo previsto de 3 anos.) </div>
<div style="text-align: justify;">
2 — Pode ser fixada no Regulamento do Internato Médico uma classificação mínima da prova nacional de avaliação e seriação para acesso à escolha de vaga de especialidade médica. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Artigo 15.º -Colocação de candidatos </div>
<div style="text-align: justify;">
2 — A colocação dos médicos internos decorre da ordenação obtida com base na classificação ponderada resultante das seguintes componentes:</div>
<div style="text-align: justify;">
a) 20 % correspondentes à classificação final ponderada entre as diferentes escolas médicas, obtida na licenciatura em medicina ou mestrado integrado em medicina ou equivalente</div>
<div style="text-align: justify;">
(NOTA: média ponderada, que será obtida atraves de uma formula previamente aprovada)</div>
<div style="text-align: justify;">
b) 80 % da classificação final obtida na prova nacional de avaliação e seriação. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Artigo 25.º - Mudança de área de especialização </div>
<div style="text-align: justify;">
1 — Os médicos internos que pretendam mudar de área de especialização devem candidatar -se a novo procedimento concursal de acordo com as regras previstas no Diário da República, 1.ª série — N.º 98 — 21 de maio de 2015 2673 Regulamento do Internato Médico, não podendo ocupar mais de 5 % do total de vagas postas a concurso.</div>
<div style="text-align: justify;">
2 — Os médicos internos só podem candidatar -se a novo procedimento concursal para mudança de área de especialização até à conclusão do programa formativo de metade do internato médico, sendo, apenas, permitidas duas mudanças de especialidade. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Passará a ser possível a obtenção da autonomia de exercício da medicina ao fim de um ano de internato médico - em contraponto aos atuais dois anos -, medida que entrará de imediato em vigor e enquanto se mantiver o Ano Comum, que está previsto terminar.</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11058988449108496716noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-4530187057848982966.post-56329453594294061022015-07-05T22:09:00.001+01:002015-07-05T22:09:14.717+01:00Últimas News<div style="text-align: justify;">
Hoje decidi-me a fazer um resumo do que se passou nestes últimos dois meses de ausência de escrita. Então aqui vai:</div>
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</div>
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- Comecei em Maio o estágio de Pediatria, que graças aos poderes do tempo e de umas férias pelo meio, já terminou! E concluiu-se o que eu já sabia: não gosto da coisa!</div>
<div style="text-align: justify;">
- Essas tais 2 semanas de férias foram óptimas e maravilhosas como todas devem ser, embora pudessem ter sido fantásticas se o sol tivesse aparecido para os lados do sul do país. Li mais um livro em inglês (um vitória pessoal) e matei saudades da máquina de costura.</div>
<div style="text-align: justify;">
- Auto propus-me a escrever um livro. Já escrevi uma página. Entretanto passou mais de um mês desde esse último suspiro de inspiração. E creio que foi suspiro falso, em boa verdade, porque vou mudar completamente a estrutura do dito cujo livro e apagar tudo o que já estava alinhavado. Fica o desafio, que não tem prazo. É para quando for.</div>
<div style="text-align: justify;">
- Entretanto comecei o 2º e último estágio opcional do ano comum. Decidi ser criativa e voltei a escolher Psiquiatria... Mudei o hospital vá, estou em Gaia agora. Mas sobre isso nada a dizer por enquanto, porque na verdade apresentei-me ao serviço no dia 1, e nos dias 2 e 3 estive ausente por licença de formação.</div>
<div style="text-align: justify;">
- Entretanto a novidade mais estonteante é a seguinte: fui convidada/desafiada a começar o Doutoramento em Saúde Mental no próximo ano! Durante uns dias após esse convite andei meia desnorteada. Incrivelmente orgulhosa e lisonjeada, claro, mas em certo ponto preocupada. Acabei há pouco mais de 6 meses uma longa jornada de estudante, e vou daqui a pouco começar outra? E tirar a especialidade ao mesmo tempo? Dizem os mais experientes e entendidos da matéria que hoje em dia ser-se médico interno e estudante de doutoramento é coisa habitual, e que estas aulas altamente dirigidas à Saúde Mental podem na verdade ser um excelente apoio a quem está a começar a sua vida clínica. Se é verdade ou não ainda não sei, mas é quase certo que me vou aventurar. </div>
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Implicações pessoais? A maior é voltar a Coimbra, coisa que já se previa mas que tenho vindo a negar. Não por não gostar da cidade, porque será sempre especial para mim, mas porque de forma inata marco mentalmente a vida por etapas, e não costumo retornar aos locais das etapas anteriores. Deixei Coimbra quando terminei o curso, e achei que não voltaria a não ser para visitar a família que por lá agora tenho, desde que casei. Esta é uma explicação. A outra é o facto de estar a adorar estar perto da minha família mais nuclear. Ter de fazer uma viagem de uma hora pela auto estrada para ver quem se ama, de repente, já me parece uma eternidade. Uma terceira explicação poderia ser o receio de fazer uma especialidade num hospital super central, com mais 4 internos do mesmo ano, com mais 20 internos de anos superiores. Com Senhores Professores Catedráticos, com alunos de medicina a rondar as enfermarias, com a confusão de uma cidade de estudantes e doutores! Mas a esta terceira não se dê muito ênfase, não vá se perceber que sou insegura.</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11058988449108496716noreply@blogger.com9tag:blogger.com,1999:blog-4530187057848982966.post-41352705267578948292015-05-09T20:16:00.001+01:002015-05-09T20:18:12.229+01:00A Queima é dos Amigos!<div style="text-align: justify;">
Por esta altura, no ano passado, eu já pensava tentava imaginar como me sentiria agora, quando regressasse à Queima de Coimbra como ex-estudante, já formada. Achava que seria estranho e bonito, usar a capa negra aos ombros sem o resto do traje. </div>
<div style="text-align: justify;">
Ontem foi assim, voltei para uma jantarada com aqueles amigos mais especiais, na noite da Queima "dedicada" à Faculdade de Medicina. Há coisas que nunca mudam nesta altura de Maio, desde o trânsito e a dificuldade para estacionar, as ruas cheias de grupos de amigos, os restaurantes lotados, os trajes que saem do guarda-fatos. Para nós também parecia nada ter mudado. Estamos meios perdidos pelos vários hospitais do país, desde a Feira, Aveiro, Coimbra e Lisboa, mas parece que nunca nos separamos. Ficamos na conversa por horas, rimos com aquela vontade que vem de dentro, e fomos beber uma cervejinha naquele frenético ambiente da baixa da cidade. Não sei se foi por estar tão confortável com eles ou se pelo significado por si só, mas foi realmente maravilhoso voltar à nossa Coimbra e reviver os tempos de faculdade, não muito longínquos por enquanto.</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11058988449108496716noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4530187057848982966.post-66863462260762016022015-04-30T21:19:00.002+01:002015-05-04T21:58:48.292+01:00Last Chance<div style="text-align: justify;">
Se me perguntarem qual a principal vantagem de se ter Ano Comum, eu vou dizer sem pensar muito: "última chance para descobrires o que realmente queres ser antes da derradeira escolha..."</div>
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Após a grande desilusão de não atingir aquela gigantesca nota a que me tinha proposto e que julgava ser essencial para ser feliz o resto da minha vidinha, a minha mente altamente direcionada para a racionalização decidiu traçar uma estratégia alternativa, um plano B urgente. Cheia de dúvidas e medos, com um certo pessimismo, confesso, e alguma melancolia, comecei o Ano Comum por estágios/especialidades que eram para mim hipótese de ingresso e deixei a ideia de voltar a repetir o exame num plano C.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Psiquiatria sempre esteve no meu "Top 2", num jogo de forças flutuante com a Gin/Obs, que ora ganhava poder, ora era esbatido pelos medos, por isso não poderia deixar de repetir.</div>
<div style="text-align: justify;">
Estive um mês a fazer estágio em Aveiro em Psiquiatria e não houve um único dia que não sentisse a felicidade e a realização que procurava...a tal que achava que tinha perdido. </div>
<div style="text-align: justify;">
De repente, quando me apercebi, pensar em Gin/Obs, nomeadamente que não iria fazer essa especialidade, já não me causava nem mágoa, nem inveja, nem tristeza. Dava por mim a sorrir no carro ao vir embora, a pensar no quão gratificante tinha sido aquele dia e poderiam ser os restantes nesta profissão...</div>
<div style="text-align: justify;">
Ainda nem o estágio ia a meio e um dia respondi naturalmente a alguém que me perguntava se estava a gostar da experiência: "Estou a gostar tanto que quero <i>mesmo</i> ser Psiquiatra!" </div>
<div style="text-align: justify;">
E <i>voilá</i>, essa felicidade em que andava, o entusiasmo no olhar que o meu marido notava ser diferente quando lhe contava dos casos que tinha visto, verbalizou-se e ganhou vontade própria.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Um dia qualquer de manhã, estávamos eu e o meu tutor do estágio a falar e ele diz-me: <i>"quando for fazer a sua escolha, não se esqueça da Psiquiatria...tem olho para isto...". </i>Hoje ao me despedir dele reforçou:<i> </i><i><i>"</i>estou a sua espera no próximo ano...</i><i>". </i>Sorri profundamente grata pelo reconhecimento que aquela frase representava. Fiz aqueles quilómetros para casa feliz. <i><br /></i></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11058988449108496716noreply@blogger.com12tag:blogger.com,1999:blog-4530187057848982966.post-61335549704260803722015-04-06T15:56:00.001+01:002015-04-06T16:01:24.787+01:00Tu não vais conseguir salvar todas as pessoas que encontrares...Apesar dos poucos dias de avanço, Abril tem-se mostrado um mês prometedor para mim. Se já desconfiava que seria bom fazer estágio de Psiquiatria para tirar as minhas dúvidas interiores, agora tenho total certeza.<br />
Desde o dia 1 que é assim, lá vou eu rumo a Aveiro todos os dias de manhã no meu carrito. Nota-se logo a diferença de ter de acordar bastante mais cedo do que nos tempos em que ia para o Centro de Saúde, que era a 5 minutos a pé de minha casa.<br />
Por causa do fim de semana prolongado de Páscoa, ainda só somei 3 dias de estágio, mas gostei mesmo muito de todos. A equipa é jovem e acolheu-me bem e me parece que todos têm boa saúde mental... =P<br />
<br />
Na quinta-feira estive de urgência das 8h às 20h - foi a minha primeira urgência como médica (porque no estágio de MGF não se faz urgência) e devo confessar que me agradou imenso, tanto os casos a que assisti, como essa nova sensação de se ser médico e não o estudante, num serviço de urgências.<br />
A certa altura do dia, num momento mais parado, lancei ao especialista com quem estava uma das perguntas que mais me incomoda sobre a Psiquiatria:<br />
- "A noção que tenho é que a Psiquiatria não cura ninguém...os doentes acabam sempre por voltar com recaídas... Isso ao final de algum tempo, não acaba por ser desmotivante para o médico?"<br />
E ele respondeu:<br />
-"Se reparares bem, são muito poucas as especialidades que realmente curam...A grande maioria dos médicos controla sintomas e impede ou atrasa a progressão das doenças, dá qualidade de vida, faz a prevenção das mesmas e resolve agudizações." E continuou: "Não sinto essa desmotivação a que te referes...o importante é não ter demasiadas expectativas, nem na Psiquiatria nem noutra especialidade qualquer. Tu não vais conseguir salvar todas as pessoas que encontrares..."<br />
<br />
<i>"Tu não vais conseguir salvar todas as pessoas que encontrares..." </i><br />
Eis um lado da Medicina é que é totalmente diferente daquilo que habitualmente tanto médicos como população espera dela, pela Esperança que a ciência consiga mais e melhor todos os dias. Eu sou uma pessoa esperançosa por natureza, que espera sempre o melhor dos outros, que acha que amanhã poderão mudar... Mas também sabia que há determinadas pessoas de quem é difícil esperar essa tal mudança. Distúrbios de personalidade, dependências de uma vida... E doía pensar que iria encontrar essa realidade de forma mais acentuada no mundo dos doentes Psiquiátricos. Acho que costumava pensar nisso do lado sombrio, pelo medo provavelmente de um dia deixar de me sentir realizada. Aquele especialista, com as suas palavras certeiras e repletas de anos de experiência, mostrou-me o lado mais positivo... A Psiquiatria de facto é fundamental na vida de muitas pessoas e famílias, dá qualidade de vida a muitos doentes e esse é o lado positivo a que de deve dar valor. Acho que só agora entendo de verdade o porquê de um amigo meu quer ser Oncologista. <br />
<br />
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11058988449108496716noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4530187057848982966.post-5234037627335858512015-04-02T22:11:00.001+01:002015-04-02T22:11:04.686+01:00Crónicas e Reflexões de uma Interna em MGF - O que nem às paredes confesso<!--[if gte mso 9]><xml>
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<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: OldNewspaperTypes;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A senhora tinha ido ao consultório para
mostrar uma radiografia do ombro e umas análises. Estava tudo bem, e ela
pareceu ficar contente com a notícia. Depois pergunta no seu tom natural:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: OldNewspaperTypes;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>“Senhora doutora, gostava que me
dissesse para que servem estes medicamentos” – enquanto tirava da sua mala uma
saca com 3 caixas. Eu, inocente e excessivamente atenciosa neste caso, ia
começar a explicar para que servia cada um deles, quando o médico de família da
senhora interrompe a minha voz no momento certo e perspicazmente pergunta:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: OldNewspaperTypes;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>“De quem são esses medicamentos?”</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: OldNewspaperTypes;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>“São do meu filho…” Sorriu nervosa.
Sabia que tinha sido apanhada. Estava a falar de um filho adulto e
completamente independente, que também era utente do mesmo médico.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: OldNewspaperTypes;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>“Minha senhora, o que eu prescrevo ao
seu filho é entre mim e ele e a isto chamamos ‘sigilo médico’. Se quiser saber
o que são e para que servem, deve conversar abertamente com ele e expor-lhe a
sua preocupação.” Mantinha um sorriso atencioso enquanto falava com aquela mãe
preocupada, mas não poderia deixar de a repreender.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: OldNewspaperTypes;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Foi uma lição gigantesca. Sigilo médico
não é nenhuma novidade para mim. Foi tema muito debatido nas aulas de Ética
Médica do 4º ano e prometi guardar os segredos de cada doente mesmo depois da
sua morte no Juramento de Hipócrates, que não foi assim há tanto tempo. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: OldNewspaperTypes;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A partir desse momento, que felizmente
para mim ocorreu logo no início do estágio, criei um radar de perguntas
maliciosas. Já não vou na cantiga da velhinha que diz como quem não quer nada
que viu na sala de espera o Sr. Folano ou o Sr. Cicrano, e depois acrescenta
num tom disfarçado: “O que veio cá ele fazer?”. Ou então: “Ele está melhor?”,
como se estivessem por dentro do estado de saúde do vizinho com quem nunca
fala…</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: OldNewspaperTypes;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>É verdade, médico de família conhece os
muitos elementos de uma família, de muitas famílias vizinhas e não pode cair
nas armadilhas linguísticas que os doentes lhes tentam impregnar sobre os
filhos, os pais, os conjugues, os vizinhos até… Médico de família ouve muitas
versões da mesma história e não pode desmenti-las, nem comenta-las como se
soubesse mais do que a pessoa lhe está ali naquela momento a contar… </span></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11058988449108496716noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4530187057848982966.post-2068401959367940682015-04-01T16:01:00.001+01:002015-04-01T16:01:14.134+01:00Crónicas e Reflexões de uma Interna em MGF - A Nova Geração<!--[if gte mso 9]><xml>
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<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: OldNewspaperTypes;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Pirâmides etárias são gráficos que que
representam a população de acordo com as idades e os sexos de uma determinada
amostra. O conceito é simples: a base representa a taxa de natalidade, a parte
intermédia a população adulta e por fim, o ápice dá-nos a expectativa de vida e
a população idosa. Uma população jovem tem, como se compreende, uma base larga
e um ápice estreito. Portugal está a ficar longe dessa ideal situação. Segundo
as previsões do Instituto Nacional de Estatística, em 2050 cerca de 80% da
população portuguesa estará envelhecida e dependente. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: OldNewspaperTypes;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Quase não seria necessário fazer-se
inquéritos sobre a demografia nacional, bastaria consultar a agenda dos médicos
de família para cada semana. Eu estive 3 meses no centro de saúde e nunca
assisti a nenhuma consulta pré-concepcional. Pode ter sido azar, claro, mas se
fossem muitas seria mais difícil não assistir a pelo menos algumas, não? Onde
estão os casais prontos a ter filhos? Onde está a vontade e a disponibilidade
económica para construir uma família? Onde estão as mulheres que não querem ter
só um filho, e só aos 40?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: OldNewspaperTypes;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Consultas
de saúde materna também se podiam contar pelos dedos de uma só mão. O horário
está lá reservado, às quintas-feiras de manhã, à espera desesperadamente que
venham as senhoras de barriguinha, mas nada… O que acontece então é que esse
horário acaba por ser preenchido pelas consultas mais requisitadas – doenças
crónicas: diabetes, hipertensão - que atingem maioritariamente a faixa etária
acima dos 60-70 anos… Parece uma “pescadinha de rabo na boca”, como diz o povo,
um ciclo viciante.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: OldNewspaperTypes;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Como jovem médica, o que me parece é
que há uma estreita ligação entre a realidade da saúde materna e a da saúde
infantil, ou seja, entre a carência de gravidezes e educação centralizada nas
necessidades materiais das crianças.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: OldNewspaperTypes;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Já ouvi casais falarem que “a vida está
muito complicada, não podemos ter filhos…eles hoje em dia precisam de tudo.” O
desemprego é infelizmente uma realidade portuguesa e quanto a isso, nada a acrescentar,
e há de facto pelo Portugal fora centenas de famílias que não podem ter filhos <i style="mso-bidi-font-style: normal;">já</i>. Mas depois temos aquelas outras
famílias, muitas por sinal, que têm estabilidade económica e falam da mesma
forma. Serão os filhos que precisam de tudo mesmo, ou quererão os pais dar-lhes
tudo? A ideia que tenho é que hoje em dia as pessoas querem ter só um filho,
mas “que nada lhe falte”. Este pequeno pormenor é a chave de toda a alteração.
Surgem então as famílias com apenas um descendente, ao qual dão tudo quanto
podem e lhes transmitem, sem saberem ou sem parecerem ligar, a ilusória e
destruidora educação que a vida é assim mesmo – pode ter-se tudo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: OldNewspaperTypes;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Esta minha opinião não é infundada em
ideias vagas, tenho imensos exemplos reais, só falando nestes 3 meses de
estágio, e em todas as etapas de vida. Há casais que se queixam que têm
“pequenos ditadores” em casa, que aos 2 anos já decidem a sua pequena vida mais
do que os seus pais, desde o que comem ao que vestem, com as birras com as
quais hoje em dia os pais dia não sabem lidar. Ainda há poucos dias vi uma mãe
rir-se orgulhosamente da birrinha que a filha de 3 anos fazia no consultório e
a incentivava: “Tu hoje não queres fazer isto pois não? Prontos, ela hoje não
quer…”, enquanto a abraçava e mimava. Depois vem as terríveis histórias dos
filhos já homens que com 20 anos não querem estudar nem trabalhar, maltratam os
mais velhos verbalmente, e de quem os pais já não conseguem nada, nem
autoridade, nem educação, nem respeito.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: OldNewspaperTypes;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>É difícil educar devidamente, é
necessário ser-se presente, forte, convicto e equilibrado. E depois das muitas
histórias de filhos e pais que ouvi e das muitas consultas de saúde infantil
que fiz, creio ser impossível não refletir sobre o assunto... Talvez o médico
de família possa ter uma posição de destaque no amadurecimento da nova geração
de pais e filhos e na orientação dos mesmos, através de exemplos e explicações científicas,
e como alerta para os sinais da necessidade de uma intervenção mais
especializada. Talvez seja fundamental toda a sociedade refletir em questões
mais filosóficas mas extremamente oportunas, que parecem esquecidas, como: “o
que faz realmente falta a uma criança?”, “onde fica a noção de partilha entre
irmãos?”, “como educar para que os filhos tenham respeito ao dinheiro, trabalho
e sacrifício dos pais?”.</span></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11058988449108496716noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-4530187057848982966.post-73185441942244730612015-03-31T23:12:00.001+01:002015-03-31T23:12:11.460+01:00 Crónicas e Reflexões de uma Interna em MGF - Somos jovens: somos de Confiança? - <div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: OldNewspaperTypes;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Há sempre pessoas com quem sentimos
mais empatia. Aquela era uma senhora de 80 anos, independente para as suas
atividades da vida diária, extremamente atenciosa, que eu adorava receber nas
consultas de vigilância. De mês a mês lá vinha ela, toda bonita e sorridente,
saber se se tinha comportado bem e o seu INR estaria ou não bem.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: OldNewspaperTypes;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Certo dia fui eu quem fez a consulta, sozinha:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: OldNewspaperTypes;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>“Bom dia, Sra. Ana, faça o favor de
entrar e de estar à vontade.” – Introduzi eu. Ela cumprimentou-me e sentou-se
devagar, porque a idade não perdoa a partir de certa altura. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: OldNewspaperTypes;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>“Hoje serei eu a fazer-lhe a consulta,
se não se incomodar com isso.”</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: OldNewspaperTypes;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>“Não, claro que não!” – já a preparar o
dedo para a picadinha. E depois continuou: “Sabe doutora, há pessoas que não
gostam de ser atendidas por médicos mais jovens, porque dizem que não sabem
nada. Eu acho isso uma estupidez, desculpe-me a palavra. Eu confio plenamente
na doutora, porque se aí está é porque sabe o que está a fazer.”</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: OldNewspaperTypes;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Foi a primeira vez que alguém me dizia
de forma tão direta o que todos nós sabemos. Não é por acaso que o meu marido
deixou crescer barba desde que entrou na faculdade de Medicina e nunca mais a
cortou por completo. Diz que se o fizer, os doentes não confiam nele. E não é
por acaso que se nota um esforço de transformação, de crescimento, das médicas
quando começam a trabalhar. Até as que dantes não ligavam nada ao que vestiam e
à forma como apareciam na faculdade, começam a usar um pouco de base na cara e
uma sombrazinha. Aquela senhora tocou em questões bem pertinentes – seremos nós
preparados o suficiente nos tempos de estudo para o que de facto se passa numa
consulta? Não, autonomia não se aprende na faculdade nem sou a favor dela logo
após o seu término. A nossa imagem é importante para demonstrarmos aos outros
que sabemos o que fazemos? Claro que sim! Confiaríamos da mesma forma num
advogado que em vez do fato e gravata usasse calças de ganga rasgadas e uma
T-shirt decotada e de manga cava a mostrar a enorme tatuagem de uma caveira no
deltóide? São claro juízos de valor, mas todos os nós os fazemos, todos os
dias.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: OldNewspaperTypes;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Naquela consulta de vigilância de INR
eu de facto sabia o que estava a fazer, e sabia o que teria de alterar e como
caso o resultado não estivesse dentro dos parâmetros objetivados. Naquela
consulta eu podia e fui realmente autónoma. Acho que o mais importante é ter
noção de si mesmo. Alguém que se dedica demasiado à vontade de parecer melhor
do que o que realmente é, ilude-se. Pedir ajuda, parar quando não se sabe qual
o é o próximo passo, perguntar como e porquê – aquilo a que se resumo a ser
humilde – parece-me a melhor forma de se evoluir.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: OldNewspaperTypes;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Confiança é algo que o doente jamais
poderá deixar de sentir numa <i style="mso-bidi-font-style: normal;">relação
médico-doente</i>. Como poderá o doente seguir a medicação prescrita se não
estiver devidamente esclarecido, se não confiar que aquele médico sabe o que
está a fazer? Muitas foram as vezes que assisti a pessoas virem ao consultório
dizer que foram à consulta desta ou daquela especialidade, ou foram à urgência
do hospital, e que lhes foi prescrito isto ou aquilo. Mostram as receitas ainda
por comprar ao seu Médico de Família e depois perguntam: “Isso está bem?” Será
que as pessoas são sempre e todas elas desconfiadas, porque a mãe natureza
achou que a desconfiança era uma excelente proteção, ou serão os médicos,
especialmente os mais jovens, que não sabem transmitir essa tão grande
necessidade – confiança?</span></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11058988449108496716noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-4530187057848982966.post-48619601357671460842015-03-27T10:30:00.002+00:002015-03-27T10:31:52.420+00:00Crónicas e Reflexões de uma Interna em MGF - Os Médicos da Comunidade(NOTA: Todos os relatos aqui referidos são baseadas em factos reais. Para preservar a identidade das pessoas às quais me refiro, alterei os seus dados biográficos.)<br />
<br />
<br />
Basta deixar-nos perder pelas ruas menos populosas e mais distantes do centro da cidade e encontramos uma nova realidade. Não parece a mesma, não parece sequer o Portugal dos castelos turísticos. Ali as casas são tijolos sem revestimento, a comida é feita na lareira para se economizar mais um pouco de gás, e a minúscula sala de estar, se assim se poder descrever, é agora o quarto do doente acamado. Cheira a fumaça.<br />
Também as pessoas são diferentes das que se vê na cidade. São mais humildes, mais gratas, e fazem questão de oferecer as laranjas que estão a cair ao chão pelo excesso que brotou da árvore, pois afinal, “estragar é pecado”.<br />
Quando entramos vê-se no rosto daquele casal um misto de gratidão e vergonha por ali estarmos. Eu sou afinal de contas, e apesar de ser devidamente apresentada como a Interna que está a acompanhar o médico, uma anónima em sua casa. O seu médico de família não, não é um desconhecido. Aqui o médico é a pessoa que sabe já de cor onde moram e já não se admira com a falta de condições, embora sempre o impressione. Nos domicílios ou no Centro de Saúde, se a doença alivia um pouco e os deixa sair de casa, o ambiente em que se encontram é sempre já familiar, e não as urgências ou um consultório impessoal do hospital.<br />
É claro que os médicos estão a fazer o seu trabalho, e como tal ganham também por fazer domicílios, mas gosto da ideia romantizada de que é impossível não fundir um pouco o trabalho propriamente dito com um toque especial de humanidade. São os velhinhos quem mais necessita e aprecia a visita e cuidados do médico, e no meio da solidão ou da pobreza que muitas vezes se associam, uma cara conhecida, as explicações repetidas com muita calma, faz a diferença. Gosto de pensar que mais que um emprego ou pelo trabalho, há uma missão, e que essa missão melhora, nem que seja um pouco, o mundo e a vida das pessoas.
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11058988449108496716noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4530187057848982966.post-67787679799334988172015-03-10T17:52:00.000+00:002015-03-20T13:14:19.430+00:00"Que decidiste?"Falava-se que os internos este ano não poderiam desistir do ano comum para voltar a repetir exame até Junho, como ocorrera noutros anos, e teriamos até Fevereiro para tomar essa decisão. Negociações para lá e mais negociações para cá, reuniões e mais reuniõezinhas com o Ministério da Saúde, a Ordem dos Médicos, etc e parece que tudo fica como estava para mim. Portanto ainda vou a tempo se quiser voltar a estudar (o sonho de qualquer estudante de medicina é estudar o harrison não uma, mas duas vezes! =/ )
Ser médico em Portugal está cada vez mais complicado. Há imensos colegas que preferem trabalhar no privado, em deterimento das más condições do público, já para não falar dos muitos que emigram para outros países da europa para fazer a especialidade. Agora que gozei férias, se tivesse de estudar de novo para o Harrison para tentar de novo Ginecologia, seria capaz. Mas mais do que ser impulsivos e só querer seguir numa determinada linha, hoje em dia é preciso ser-se inteligente na escolha da especialidade. É o conselho que mais ouço, quase diariamente, das mais diferentes pessoas (desde colegas mais velhos, outros funcionários públicos, ou até mesmo doentes bem informados). Por isso desistir do Ano Comum não é a minha primeira opção...Creio que irei fazer este ano e escolher outra especialidade.
Qual?
Esse é o problema número dois. Em Abril vou fazer estágio de Psiquiatria para Aveiro e vai ser o ponto que me faltava para a decisão final.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/11058988449108496716noreply@blogger.com8