quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Internato de Espcialidade - o início

Passou-se mais de mês e meio e eu sem dar notícias... Ou o tempo passou a correr, ou todas estas novidades foram demais para eu absorver e escrever sobre elas, ainda sem saber bem que impacto estavam a ter em mim.

Ora bem, do inicio. As festas do final do ano correram super bem, soube muito bem ter 2 semanas de férias antes de recomeçar. Olhando para trás e em jeito de reflexão, adorei ter a oportunidade de fazer o Ano Comum, tenho realmente pena que vá deixar de existir brevemente. É o ano em que os colegas mais velhos nos levam pela mão, já com a responsabilidade de sermos médicos, mas ainda muito apoiados, ainda com imensa disponibilidade para explicarem tudo o que for necessário. É o ano onde aprendemos ainda mais a ser humildes, a reconhecer os nossos limites e a saber pedir ajuda. Algo cresce em nós, a proximidade ao doente, o espírito de equipa em substituição da competição. Pelo menos foi assim para mim...

Agora falemos do internato:
A primeira semana foi caótica! E quando digo caótica, refiro-me a tudo! Reuniões atrás de reuniões, ora no ACES, ora na ARS norte. O ritmo de consulta era portanto constantemente interrompido por tardes de compromissos chatos. Dei por mim a chorar ao 2º dia, e a pensar "onde me vim meter????". Eu e e este meu problema...lágrimas demasiado perto do coração.

A segunda semana foi pouco melhor. Já sem reuniões mas com poucas consultas de MGF porque "estava a começar". Ora, quem me conhece minimamente, e diria que quem lê o meu blog assiduamente até já sabe disso, sabe que eu sou tudo menos lenta... Sou frenética! Adoro trabalhar! Adoro fazer, não gosto de estar só a olhar. Aguentei 2 consultas caladinha no início, e depois tive de perguntar à minha orientadora "também posso falar com o doente e fazer perguntas?" (ao que ela amavelmente disse "claro que sim"!). Por isso, quanto mais me diziam "vai com calma rapariga, isto é só a segunda semana", mais frustrada me sentia. À parte deste ritmo, nada a dizer das pessoas! Fui super bem recebida desde o primeiro momento, quer pelos especialistas quer pelos colegas internos mais velhos. Senti-me "adoptada" por todos, que se preocuparam em me integrar em tudo.

As coisas começam a ficar consideravelmente melhores na semana seguinte, em que já estava super à vontade nas consultas, já conhecia melhor a minha orientadora, e comecei a trabalhar num projecto de Educação para a Saúde na Comunidade. Aí sim, comecei a sentir-me mais útil, mais realizada.

Ontem as coisas atingiram um enorme pico de felicidade - fiz consultas sozinha! Saúde infantil, consulta de adultos, diabetes, hipertensão e ainda consulta aberta. E ser assim tudo variado é um extra com o qual não estava à espera. Existem USF's em que os médicos têm periodos agendados de planeamento familiar, por exemplo, ou diabetes, de uma manhã inteira... Torna-se rotineiro. As nossas consultas são sempre variadas! Ora se vê um recém-nascido, ora um adulto!

Aos que ainda estão a estudar, aqui fica uma luz de esperança:
Trabalhar de forma mais autónoma é uma alegria e uma enorme responsabilidade, mas é o incentivo maior ao estudo continuado. Ter doentes ali à nossa frente a expor problemas, na expectativa que os passamos ajudar! Na faculdade estudamos para passar nos exames, para ter uma boa média, para saber alguma coisa num futuro longínquo, quando tivermos doentes... E deixamos para amanhã e para depois porque estamos cansados de aulas... No Ano Comum também já se trabalha, mas somos tão apadrinhados e estamos em tantos estágios diferentes, muitos deles de coisas que não gostamos particularmente, que também é dificil haver motivação.
Agora já não é assim, quero mesmo estudar para saber mais, para ajudar mais, para não errar com os doentes que vejo hoje e os de amanhã! Vou fazer domicílios mas já não é passeio, quase como era antes, nem é só"giro". Agora é "fundamental"! Agora vou e venho a pensar no que se pode fazer para melhorar os cuidados àquele utente acamado, para ensinar a família a cuidar dele...

Em resumo, acho que já se percebeu: estou a gostar. Não vou desistir nem repetir exame. A MGF tem muito por onde me possa debruçar, há imenso de mim que posso dar à comunidade e onde me possa sub-especializar. Sinto-me a exercitar o cérebro a cada consulta, por isso não é monótono. E sinto-me cheia de energia! Aguardem-me...não vão faltar novidades!