sábado, 15 de março de 2014

Córdoba #2

Finalmente o bom tempo tem dito olá" e uns agradáveis 21 graus já deixam desfrutar de um pouco mais da cidade que a antiga chuva. Por isso, e porque entretanto já passou mais um mês, tenho investido algum tempo em caminhadas pela cidade, pelas ruas estreitinhas da parte velha... Dica para quem pretende cá vir: ver na internet em que dias/horas há descontos, porque é um desperdício de dinheiro não o fazer. Por exemplo, o Alcázar dos Reis aos domingos custa 7 euros/pessoa, de 3ª a 5ª de manha é grátis...

Entretanto o estágio de Pediatria já terminou e fomos dispensados de fazer exame teórico (graças a todas as estrelinhas do céu). Começou esta 5ª-feira o estágio de Cirurgia, o segundo e ultimo a se fazer por cá. Não me parece que a avaliação vá ser muito fácil... Tenho de fazer um trabalho gigantesco (os colegas falaram em 60-80 páginas, e tem de incluir fotos de cirurgias e cenas assim meias esquisitas que nunca meti num trabalho antes). Além disso, tenho no final uma prova oral, com 3 professores/médicos, que vão adorar fazer-me perguntas para saber se fui mesmo quem fez o trabalho, se realmente aprendi alguma coisa prática durante os dias de estágio e com sorte, um pouco de matéria teórica. Continuo a pensar que qualquer coisa é melhor que a terrível avaliação que se faz no estágio de cirurgia lá prós lados de Coimbra... Independentemente da nota final que tenha neste estágio, das calinadas que dizer na oral espanhola, das dificuldades que possa ter em organizar o meu trabalho ou das dores de coluna e pernas nas horas em que estou a assistir às cirurgias, tudo compensa no final de cada dia, disso tenho a certeza.

Entretanto, o estágio começou com a promessa de ser bastante prático, à semelhança do que aconteceu com Pediatria, e achei isso formidável, visto que é suposto o 6º ano ser "profissionalizante". No primeiro dia, estava eu a assistir a uma tiroidectomia, quando o cirurgião me chamou para a  mesa e lá fui eu, nervosa e cheia de expectativas, desempenhar o papel de 2º ajudante. Tudo tem a seu lado agridoce, e não pude escapar a umas perguntinhas, mas nada que me tivesse sequer perturbado. 
Há uma coisa que tenho descoberto e tenho adorado em relação a isso: é que aqui é muito mais fácil errar. Não sinto vergonha de não me lembrar das coisas, não rezo para não me chamarem mesmo quando penso saber a resposta, não me inibo. Aqui eu participo sem me perguntarem, faço todas as perguntas que considero oportunas, fico super feliz se um cirurgião me faz uma pergunta, porque sei que jamais me irei esquecer da resposta. É mais fácil não nos inibirmos quando não conhecemos ninguém, quando não temos nada a provar.
No exemplo concreto desta cirurgia, quando fui chamada automaticamente pensei: "ok, de certeza que ele vai fazer perguntas de anatomia ou algo assim e eu já não me lembro de quase nada do pescoço...". Mas depois o habitual pensamento ruminativo deu lugar a outro: "oh, o quê que isso importa??? Vou pra mesa ajudar! Vai ser brutal! E vou aprender de certeza!!!!" 
No dia seguinte já não tive tanta sorte, éramos 5 alunos num só bloco e uma cirurgia por via laparoscopica, por isso o tempo foi passado a olhar para o ecrã e dar comigo bem longe daquele gastrectomia vertical. Na verdade, raríssimas são as vezes em que entro num bloco e não imagino imensos e variados cenários de cesarianas, de cirurgias uterinas... e sem pensar, somente sentindo, percebo que em mim está gravado "eu não quero ser médica, quero ser cirurgiã", mas que isso, "eu quero ser ginecologista-obstetra..."