domingo, 22 de dezembro de 2013

Resposta aos leitores

É bem verdade que por vezes demoro imenso tempo para escrever, e peço desculpa a todos que aguardam noticias minhas de forma ansiosa. Não era  minha intenção provocar esse tipo de reação. Há muitas vezes que olho para a página do blogger, que está nos meus favoritos, e penso: "devia escrever qualquer coisa..." mas depois, por um motivo ou outro, não sinto a inspiração que gosto de sentir para o fazer... Mas agradeço humildemente a chamada de atenção.

Respondendo ao que alguém perguntava: "como está a correr o estágio?":

O meu estágio de medicina interna terminou esta sexta feira. Durante dois meses, acordei todos os dias da semana às 7h20, para garantir que jamais me atrasaria (apesar de viver a 10 minutos a pé do hospital). Os meus tutores eram rigorosos nos horários e a única vez que cheguei às 8h32 (sem mentiras, foi mesmo às 8h32), ouvi um sermão do tamanho do mundo! Foi a primeira e a última, e nem vale a pena dizer que não foi culpa minha o atraso...
Eu sou claramente uma pessoa cirúrgica. Gosto de "fazer", ver "acontecer", "intervir directamente". Sempre fui e sempre serei assim em Medicina. Por isso internar uma alguém para estudar uns determinados sintomas esquisitos ou internar um velhinho que vai precisar de 10 dias de antibiotico para curar a pneumonia, é muito interessante, realmente é e respeito imenso os colegas que o fazem, mas não me realiza. O meu momento auge do dia (em termos médicos) era quando eu tinha de ir fazer gasometrias (acto médico que consiste em tirar sangue de uma artéria)! E nos dias em que não havia "gasosas" para fazer, ou não havia consultas com o prof. para assistir ou urgências para fazer, parecia que tudo passava devagar.
Apesar disso, entrei todos os dias naquela enfermaria com um sorriso no rosto, com um "bom dia" cheio e pleno e a esperança de poder ajudar alguém. Diversos foram os casos de pessoas que me disseram frases que me enchiam o coração para a semana inteira e foi por elas que fiz este estágio, e certamente foi graças a elas que consegui uma boa nota... Nunca me irei esquecer do Sr. José, de 75 anos, que me disse numa segunda-feira quando cheguei perto da cama dele: "oh senhora doutora, estou aqui cansado de pensar em si, a ver quando me viria ver...". E ele não me queria fazer nenhum pergunta, não queria queixar-se de nada, só queria "conversar" comigo... e lá ficamos os dois à conversa um bom bocadinho... As velhinhas a cantar, algumas tocadas pela sua demencia, a dizer tudo quanto pensam... 
O que mais gostei foram sem dúvida "os meus velhinhos", como me costumava referir a eles... Sempre achei tão sábia a velhice, tão inocente e tão vivida, e só espero puder lá chegar.

E o que menos gostei e mais me doeu foi ver que alguns médicos se tornam insensíveis aos gemidos de alguém, ficam chateados quando um senhor demenciado, que não sabe bem o que está a fazer, tira as sondas nasais ou o soro, ou insiste em levantar-se sozinho nu para ir ao wc... Peço ao universo que não deixe que a rotina, as frustrações da vida, ou qualquer outra coisa me torne numa médica fria e "habituada" ao sofrimento dos outros, como se isso não pudesse ser mudado, como se não houvesse esperança...

Agora que esta etapa já foi concluída, aproveito as férias para dormir até às 11h, para estudar à tarde o "harrison" e para aproveitar o calor da lareira e dos pais à noite. Mata-se saudades do afilhado (que entretanto já tem 10 meses), e espera-se com entusiasmo e calma o novo ano, as novas etapas que por aí virão...
O próximo estágio é Psiquiatria, durante um mês. E depois disso, é ESPANHA.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

O ensinamento de Buda

Como sabem, esta caminhada espiritual começou já há algum tempo. Creio que foram mais os dias que permaneci parada do que a andar para a frente. Talvez houvesse alguns dias em que olhei para trás.

Quando nos apercebemos que não estamos bem num determinado meio, ou tradição, ou grupo, não é fácil admitir que o mais importante é mudar, nem é propriamente banal fazê-lo. 
Eu procurei informação e graças à maravilhosa internet, isso foi o que não faltou. E quanto mais lia, menos entendia. As coisas não faziam sentido e parecia vago e vazio demais apegar-me a algo sem ter uma fonte fidedigna. E parecia tudo tão complicado! Para ser budista é preciso meditar todos os dias, e ter um mestre e ter um mala, e refugiar-nos nos mosteiros silenciosos do Alasca e mais uma enorme lista de coisas?! Que raio de budista era eu que não fazia metade dessas coisas? Então não era nada?! Que enorme buraco espiritual...
Resolvi perder o amor a uns euros e finalmente encomendei o livro "O Ensinamento de Buda", recomendado pela União Budista Portuguesa. Agora sim, já entendo, as minhas questões foram respondidas.

"Há pessoas que acreditam que o Budismo é um sistema tão elevado e sublime que não pode ser praticado por homens e mulheres comuns neste nosso atarefado quotidianoe que nos precisamos de retirar para um mosteiro...se quisermos ser um bom budista. (...) O Caminho do Meio, que constitui o modo de vida budista, destina-se a todos. (...) A crença comum segundo a qual, para seguir o ensinamento de Buda, temos de nos retirar da vida, é uma concepção errada, e é na verdade um mecanismo de defesa inconsciente contra a sua própria prática." 

"Todos os Homens têm a potencialidade de vir a ser um Buda, se o desejarem e nisso se empenharem."

"As obrigações mínimas de um budista laico são (1) não destruir vida; (2) não roubar; (3) não cometer adultério; (4) não mentir; (5) não beber bebidas intoxicantes."

"Não há rituais externos que um Budista tenha de desempenhar."

 E meditar não é nada do que as pessoas pensam ser - aprendi recentemente o conceito, directamente das origens. 
 Agora sim, sinto que comecei a caminhar.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Mestre!

Ontem alguém me dizia "então? esse amanhã conto como foi nunca mais chega..." e eu ri-me bastante ao ler o comentário. Pensei "realmente, que falta a minha!" Por isso hoje, das primeiras coisas que estou a fazer, é tentar remediar essa situação!

Acho que não escrevi antes porque isso implicava parar para pensar em todo este percurso percorrido, em todas as pessoas que conheci e chamei de "amigos", em todas as dificuldades ultrapassadas...Além disso, as coisas correram tão bem que nem sei como vou explicar como foi o dia, sem parecer uma presunçosa. =/

Depois de ter apresentado o meu powerpoint em voz baixa, média e alta, aos soluções e depois sem interrupções cinquenta vezes, e de ter treinado possíveis respostas mil e uma vezes, o despertador tocou para aquela manhã tão esperada. Lá vesti a roupa nova que tinha arranjado: metade no shopping, metade no guarda fatos da  minha irmã.Quando cheguei aos auditórios do hospital, onde teria lugar a defesa, o átrio estava invadido de propaganda cirúrgica e estava a decorrer um congresso nos auditórios vizinhos. Senti-me grata por aquele barulho de fundo, que quase não me deixava ouvir os meus próprios pensamentos de aflição. Apareceu uma amiga minha para me dar um abraço e dizer aquelas palavras que todos gostamos de ouvir, mas ninguém acredita: "vai correr tudo bem!". Depois apareceu o arguente do jurado, já perto das 9h. Por fim, o meu namorado e depois a minha amiga e colega de quarto - as únicas duas pessoas que se disponibilizaram a ir assistir à defesa e que eu permiti. Às 9h em ponto os restantes jurados e assim que o auditório ficou livre, disseram "vamos indo" e eu percebi que era mesmo agora.
A presidente do júri começou por apresentar as regras do jogo: eu teria 15 minutos para fazer uma apresentação sobre a minha tese, depois o arguente iria comentar o que achasse pertinente e faria uma lista de perguntas. Eu teria depois o mesmo tempo que ele teria demorado para responder às questões, sem necessidade de o fazer pela ordem que ele as colocou. Depois os restantes jurados fariam as suas apreciações criticas. Após a explicação, disse: "quando quiser, pode começar".
A apresentação correu muito bem. Não me esqueci de referir nada do que queria, falei com calma e voz bem projectada. Cometi o erro de olhar para a minha pequena assistência no final, e tive de controlar as lágrimas nos olhos quando os vi sorrirem felizes.
O Prof. elogiou imenso o trabalho, a forma como foi desenvolvido, fez a tal lista de perguntas. Eu estive sentada em frente a ele a responder. Nunca numa "oral" estive tão tranquila, tão assertiva.
Os restantes jurados também só elogiaram o trabalho. No final decidiram "por unanimidade" a minha nota.

Recebi imensos telefonemas e abraços e beijinhos e tudo a que se tem direito quando se defende uma tese de mestrado com sucesso. Tive inclusive o restante dia de folga, vejam lá! Fui ao cinema ver "dá tempo ao tempo" e andei a passear pela baixa de Coimbra, e assim se passou o dia que gravei num cantinho especial da memória.

Depois ficou a sensação: "de hoje a um ano, faço o meu exame de especialidade", que não me assusta, mas que guardo para os momentos de preguiça.