sábado, 14 de setembro de 2013

Médico ou amigo?

Passaram-se já 2 semanas desde o tal 1º dia esgotante. Estes não foram mais calmos, posso assegurar. Continuar a levantar cedo, estar toda a manhã no centro de saúde, tardes e noites inteiras em frente ao computador. Ontem chegamos à conclusão que precisávamos de mais uma semana, por isso a minha tutora ficou de ligar para a faculdade a pedir para eu entregar a tese só em Outubro. Parecendo que não, esses 7 dias vão fazer muita diferença...

Entretanto as minhas manhãs têm enchido o meu coração. A grande maioria das pessoas que entram naquele consultório, além de se queixarem de uma dor qualquer, ou da dificuldade em dormir, ou de outra coisa qualquer, normalmente trazem uma história para contar, alguma situação escondida por detrás daquelas dores sem sentido e estão simplesmente à espera que o médico lhes pergunte "então e o resto, como vai a família/a vida?". Já ouvi de tudo. Pais desiludidos com os filhos, casais em crise matrimonial, desemprego, saudades da companheira de uma vida que já partiu...
E depois vêm as manhãs em que vamos aos domicílios, porque há velhinhos acamados que não podem ir ao centro de saúde, porque há velhinhos em lares de idosos, porque um médico de família trabalha para a comunidade. E é espectacular a forma como eles ficam contentes quando vêem que não ficaram esquecidos. Há muitos que não podem saber o dia em que vamos lá, senão ficam tão ansiosos dias antes que isso até lhes faz mal à saúde...

Apesar de não saber se medicina geral e familiar seria uma boa opção para mim, devo admitir que quem realmente gostar do que faz num centro de saúde, pode realmente ajudar as pessoas, pode dar conselhos e opiniões, pode ser um amigo.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

"1º dia"

Hoje tive um dia esgotante. Já não estava habituada ao ritmo, nem estava a contar ter de parecer um saltitão de um lado para o outro, em diferentes pontos da cidade, com horários apertados, para honrar todos os compromissos.

De manhã estive no centro de saúde, como seria de esperar. Adorei a tutora que me calhou, não só pela sua simpatia, mas também pelo profissionalismo que demonstrou em todas as situações. Felizmente para mim, e pelo menos por enquanto, não partilho o consultório dela com mais ninguém. Não estou com mais nenhum colega do 6º ano e ela não tem internos do ano comum, nem internos de especialidade, que por muito queridos que sejam todos, por vezes são tantos que já nos atrapalhamos uns aos outros e uns fazem as coisas e os outros ficam só a olhar. Por isso tudo o que há para fazer, fica para mim. Desde a parte chata da informática e dos computadores que estão sempre a bloquear, até à palpação de barriguinhas e coisas mais médicas. Percebi que ia ganhar muito "traquejo", como se costuma dizer.

À tarde lá estive eu, desde as 14h às 17h30, em frente ao computador e fazer tratamento dos dados estatísticos, completar tabelas, rever e voltar a rever números e estrelinhas de significância... E assim se vai fazendo uma tese, devagar...

Cheguei a casa e já não tinha mais força nas pernas. Liguei agora o Pc porque o trabalho não terminou. Na verdade, tenho à minha frente mais um montão de tabelas e coisas feias que tenho de traduzir para conclusões bonitas. Mas como sempre fui ao mail e vi que me tinham deixado alguns comentários, um deles particularmente simpático de uma colega mais nova de outra faculdade, que hoje, logo hoje em que eu estava tão cansada, revolveu "dar-me força". E eu não poderia deixar escapar a oportunidade de lhe dizer "obrigada", a ela e a todos os que me ajudam, quando leêm e comentam os meus posts, quando simplesmente só leêm na vertical, porque é muito reconfortante saber que aquilo que escrevo serve de alento a outras pessoas, porque é muito bom ler umas frases de coragem de pessoas que nunca vimos nem conhecemos. Como se ficasse uma mensagem no ar, uma hipótese de que talvez um dia nos poderemos cruzar...


A todos e a cada um em particular, por me ajudar ou por deixar que eu o ajude, um obrigada muito sincero.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Que comece o 6º ano!

A abertura solene do 6º ano estava marcada para as 9h. Lá fui eu, e acredito que a maioria das pessoas do meu ano, cheios de receio e entusiasmo. Já não dá para adiar mais. Agora não ficamos a olhar para os outros e imaginar "quando formos grandes...", agora somos nós os "grandes".
O discurso dos senhores professores foi simpático, de boas-vindas, fomos tratados como "os colegas mais novos", integrados num mundo que na verdade desconhecemos... Lá para o meio, o famoso professor de cirurgia fez questão de dizer que tínhamos a obrigação de saber executar "actos de enfermagem", que tínhamos este ano para corrigir as lacunas que pudessem existir da nossa formação prática e teórica, etc etc etc durante meia hora. Senti-me pequena. Senti que hão imensas lacunas. Senti medo de novo e durante todo o dia, apercebi-me da realidade da dureza do 6º ano, porque afinal, "somos quase médicos"... E como o mesmo professor disse: "vocês já sabiam no que se estavam a meter, por isso não se queixem!"...

Depois desta realidade chocante, outra ainda mais pesada anunciada da seguinte forma: "hoje à tarde já haverão aulas teórico-práticas. O grupo que começa com clínica geral deve estar no centro de saúde Norton de Matos Às 14h para a aula de saúde pública, e depois às 16h30 haverá a aula de medicina geral e familiar"... Yahhh...pois... no 6º ano não só temos estágios de manhã, uma tese para fazer e entregar e defender, estudar para o exame de especialidade e...pois como poderíamos esquecer...temos seminários de uma tarde inteira todas as 4ªs feiras e temos "aulas teórico-práticas" sobre a área em que estamos a estagiar, uma vez por semana, toda a tarde... Ora bem, menos 2 tarde na contagem.
Esta foi a tal realidade "pesada", a falta de tempo, os imensos trabalhos e trabalhinhos e apresentaçoezinhas e coisinhas que valem 0,4 e 0,3% da nota final e que no total valem imenso e que dão immmmmmmmenso trabalho.

Depois deste longo dia, ainda tive de chegar à residência e arrumar todas as minhas tralhas no meu minúsculo quartinho partilhado. Acreditem, demorei algum tempo, diria horas, a conseguir fazer com que o quarto ficasse habitável.

Agora assim de forma mais esquematizada:
- começo o 6º ano com o estágio de clínica geral e familiar, como já se devem ter apercebido pelo texto. Estarei 2 meses a acompanhar uma médica num centro de saúde (que por sorte é super perto da minha residência).
- 27 de setembro é suposto entregar a minha tese (existem 3 fases para entrega, e esta é a data limite da 1ª. Pretendo arrumar o assunto da tese o quanto antes.)
- tenho ainda que fazer um poster e submetê-lo para o congresso nacional de Psiquiatria até dia 10 de Setembro (sim, 10, daqui a 8 dias) sobre a minha tese...

O que significa que o 6º ano realmente começou! E que comece!...