terça-feira, 29 de outubro de 2013

Novo estágio - Medicina Interna

Na passada 6ª feira terminei o estágio de medicina geral e familiar. Foram 2 meses de muitas consultas, muitas histórias, muitos desabafos, uma nova perspectiva sobre a especialidade.
Aprendi muito, fiz boas relações que certamente perdurarão, e no final e para me encher o coração, recebi muitos elogios (que sabem sempre tão bem).

Ontem começou o estágio de Medicina Interna. Passo de uma especialidade geral não hospitalar para uma geral hospitalar, com internamento, urgências, etc. A coisa não correu lá muito bem logo no 1º dia - ficamos com um tutor que não sabia que iria ter alunos e não apareceu... 3h de espera até que alguém caridoso nos mandou embora.
Hoje as coisas já estavam orientadas. O tutor apareceu e disse com quem iríamos ficar no dia a dia. Gostei bastante do ambiente interpessoal, de ajuda e de ensino. Adoro ouvir a frase "quando tiveres dúvidas, diz" porque acho que isso é que faz sentido, especialmente em anos clínicos e tão importantes como este. A partir de amanhã serei responsável por 2 doentes. Terei de conversar com eles para saber como passaram a noite, saber os seus parâmetros vitais, anotar as suas queixas, fazer o exame objetivo que achar necessário, e depois colocar toda essa informação no processo clínico do doente. Sempre que entrar novos doentes, terei de colher a história. Daqui a algum tempo, já me vai ser pedido que adeqúe o plano terapêutico e faça sugestões no seu estudo. Por outras palavras, e citando os meus responsáveis: "aqui vocês serão como médicos mesmo, bastante autónomos, e nós estaremos aqui sempre para ajudar." Pareceu-me uma boa estratégica.
No meio de tudo isto, tive a sorte de ficar com uma menina de ERASMUS espanhola. Por isso tenho falado com ela em espanhol, e ela comigo em português, e corrigimo-nos uma à outra e eu faço umas traduçõezinhas para os restantes médicos quando ela fala rápido. Melhor treino que este não poderia ter, visto que já só faltam 3 meses para eu ir para Espanha...

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Último Cortejo da Latada

Ontem à noite, depois da minha habitual dose de estudos diários incompletos (porque isto de traçar objetivos e cumpri-los no que toca a este assunto não é comigo), permiti-me apreciar a noite.
Durante todos estes anos que vivi na residência, a minha cama era sempre a do lado da janela; este ano, pela primeira vez, estou do lado da porta do quarto, e por isso tenho como visão quando estou na cama o "lá fora".
Não sei como se diz aquela coisa da casa estar virada para norte ou para sudoeste ou lá o que seja...nem sei aplicar essas teorias geográficas, como a grande maioria das mulheres que sofrem de desorientação espacial. Só sei que estamos posicionados de uma forma que quando chove, a água bate diretamente no vidro da janela. As luzes amarelas da cidade brilham mais nestas noites para mim, porque a água a escorrer, associada ao meu astigmatismo, fazem-as parecer mais fortes. O efeito do vento nas pequenas árvores do nosso jardim, e nos sacos de papel esquecidos por alguém, formaram um cenário intrigante, como uma dança de folhas e pequenos pedacinhos brancos na relva... A rua tinha poucos carros estacionados, um silêncio mundano que eu adoro. 
Pensei na minha antiga colega de quarto, no que ela pensaria ao ver noites como as de ontem, quando se sentava na sua cama do lado da porta... Pensei no quanto ela me ensinou, no quanto eu cresci desde então. Pensei que hoje seria o último cortejo da latada a que eu assistiria enquanto estudante. Senti saudades dos tempos que já passaram, mas não fiquei triste. Vivi tudo o que queria viver até hoje, e não me arrependo do que deixei por fazer, porque tudo o que não fiz, foi por opção...

Manda a tradição que os finalistas voltem ao cortejo da latada como caloiros, e voltem a vestir-se com fatos originais e engraçados... Creio que manda a tradição que percebamos que quando um ciclo retorma ao seu início, fechando-o, está para terminar uma etapa da nossa vida.
Hoje vou ao cortejo com esta consciência e esta alegria, porque foi (e continuará a ser até ao final com certeza), uma das etapas mais felizes e mais gratificantes da minha vida. 
Se virem algum ovo estrelado a passar poderei ser eu!

sábado, 5 de outubro de 2013

Tese de Mestrado

Nunca antes me tinha acontecido ter de ficar sem almoçar para conseguir terminar alguma coisa, nunca fui pessoa de deixar as coisas para os últimos minutos, mas para tudo há uma primeira vez, dizem. Ontem foi o dia em que tive de trocar a paz de uma refeição pelo stresse de ver pela quinquagésima vez se os textos estavam todos certos, se as páginas estavam bem, se o índice não tinha erros, se todas as palavras que era suposto estar em itálico, realmente estavam. Tive de ajudar o senhor da reprografia a ordenar as folhas, e tive de correr desalmadamente rua abaixo, rua acima, (enquanto a resistência física permitiu)... Eram 15h50 quando finalmente cheguei à porta do BEDEL do hospital. A senhora disse: "já me ia embora agora mesmo!" Eu respondi-lhe que só era suposto fechar às 16h, que ainda estava dentro do horário. Após tanto esforço ainda tive de ouvi-la dizer "pois, mas faltam só 10 minutos para as 4, não tenho internet e já não me apetece estar mais aqui...".
Respirei fundo, ignorei a sua falta de profissionalismo, e só lhe disse: Vim entregar a minha tese de Mestrado..."

Quando vim embora, vinha leve e frágil, não sei se pelo cansaço nas pernas ou pelo alívio do peso nos ombros. E pensei de forma rápida em todas as tardes que tive de ir para o Instituto trabalhar, em todas as noites que ficava a adiantar trabalho para o dia seguinte, no que tinha aprendido ao desenvolver esta tese, nas pequenas vitórias que ela me proporcionou. Olhei para a capa de um exemplar de tese que tirei para mim e que tinha na mão e vi um erro na capa... Cheguei a casa e vi com mais calma todo o texto, e reparei em mais um erro, e mais outro, pormenores insignificantes talvez. Chorei. Tanto trabalho e ainda me escaparam alguns erros?
Depois tudo isso passou, e ficou de novo só o cansaço e o alívio. Ofereci a mim mesma um enorme bolo e um sumo na estação de comboio - era o meu almoço e a minha recompensa a curto prazo. Passei pelas brasas na viagem, e às 23h30 já eu dormia tranquila....até hoje bem tarde.

É como eu sempre digo aos colegas mais novos, há duas formas de encarar a Tese de Mestrado:
- ou se faz algo simples, rápido e sem grande interesse e fica-se com o assunto "arrumado" (se tivermos em conta que só vale 6 créditos e que é um ano em que se tem imenso para fazer);
- ou se faz um trabalho que realmente se gosta, que tem relevo científico, que dá realmente trabalho (tendo em conta que é aquele determinado projeto que nos vais atribuir a designação de "Mestre", que é contabilizado no curriculum de forma independente do curso). Se assim for, escolham algo que gostem, invistam em vocês mesmos, façam um artigo que possa ser publicado depois....

...Eu optei por fazer algo que me deu realmente muito gosto.