segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Tese de Mestrado

Hoje estive a fazer a base de dados no SPSS com a minha tutora, estivemos a ver quais os questionários que teriam de ser rejeitados (por incorrecto preenchimento) e, ao contrário do que pensava, só foram colocados de lado 3. Após uma intensiva luta para convencer 400 pessoas a preencher um (grande) questionário, consegui juntar 350. O mínimo seriam os 300, por isso ter 50 extra foi muito bom!
Agora vem a parte 2 do trabalho: fazer o re-teste, que consiste em voltar a aplicar partes do questionário original (cujas escalas não estavam validadas para português) a cerca de 150 das pessoas que participaram inicialmente.
Uma vez que esta amostra, à semelhança da primeira, é uma "amostra por conveniência", isso facilita imenso a distribuição, porque já sei à priori quem está 100% disponível para voltar a participar.
Ter uma irmã grávida em casa tem as suas vantagens: pretendo escravizá-la! Vá, não é bem escravizar, é mais "arranjar um excelente passa tempo" - inserir dados no SPSS!!!! (brincadeira)
Com aproximadamente 300 itens por sujeito, só tenho de inserir 300 x 300 resultados....e acho que prefiro esquecer este cálculo para não desistir já da tarefa!

Em resumo: após algumas pausas e percalços vejo finalmente esta tese a avançar!

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Budismo

"Não se apresse em acreditar em nada, mesmo se estiver escrito nas escrituras sagradas. Não se apresse em acreditar em nada só porque um professor famoso disse. Não acredite em nada apenas porque a maioria concordou que é a verdade. Não acredite em mim. Você deveria testar qualquer coisa que as pessoas dizem através de sua própria experiência antes de aceitar ou rejeitar algo."

(Siddartha Gautama, o Buddha, Kalama Sutra 17:49)

Quando comecei a ganhar algum discernimento espiritual, pouquíssimo diga-se, porque o meu caminho ainda é longo, haviam determinadas coisas que me haviam sido ditas que não conseguia compreender. Acreditava no que tinha sido ensinada a acreditar. E posso dizer sem remorsos ou vergonha que acreditei com taaaanta força...
Não sei como começou a mudança, não sei ao certo quando deixei de ouvir o que me repetiam para passar a ver as coisas com o coração, mas algo aconteceu. Talvez tenha racionalizado o Deus que me queriam impor, e tenho a certeza que passei muito tempo a pensar sobre o assunto. Comecei a ler livros sobre outras visões e iniciei uma caminhada diferente. Fui a algumas sessões de Meditação (Zazen) e um dia, num conversa, um amigo budista que já faz zazen há muito tempo disse-me "oh, estas no ponto sem retorno...a solução é continuar a caminhar." E eu assim fiz. Continuei a ler, a confrontar a minha inteligência.
Todos aqueles medos que me impediam de admitir que não concordava com a maioria dos mistérios do Cristianismo foram desfeitos. Neste contexto, acho que a frase de Buddha se adequa perfeitamente ao que penso que se vive por esse mundo fora: fomos habituados a acreditar em determinadas coisas sem as questionarmos e sem conhecermos o seu autor. Quem conta e reconta um conto, acrescenta sempre um ponto, já se diz há muito e a pessoa que dizem ter criado o Cristianismo, afinal era um dos mais rigorosos Judeus. De onde nasceu o Cristianismo então? 
Percebi que a imagem que criaram de Deus não é a imagem que vejo e hoje.

Aliado a isto começou a aumentar o conhecimento sobre um filosofia de vida tão simples e tão peculiar que me apaixonou e me respondeu a todas as dúvidas.  Hoje, sem qualquer dúvida, posso dizer que me converti ao budismo zen.
E porque isto é um blog de uma pessoa em tudo igual às demais, muito antes de ser estudante de medicina, não pude deixar de escrever o que sentia, fora de um contexto escolar. Perdoem-me se firo susceptibilidades, mas não é esse o objectivo. Como diz Dalai Lama, é importante respeitar todas as religiões porque no fundo todas buscam o mesmo - a felicidade.


Curso de Autismo

Hoje venho escrever como escapatória à minha própria mente.

Hoje estive todo o dia no Pediátrico, a fazer um curso sobre o Autismo. As palestras alongaram-se e não soube lidar de modo correcto com a situação. Acabei por não ouvir metade do que foi dito depois da hora. Como se os meus ouvidos tivessem programados para estar atentos até às 13h; como se esticaram até às 14h eles fecharam. Aliado a isso, uma enorme irritação. Quando me encontrei com os colegas para o almoço e eles me perguntaram se tinha gostado creio que respondi algo tipo: "atrasaram-se! e agora só vou ter 1h de almoço! cortaram meia hora!...ah sim mas gostei"...

Ao início da tarde o momento auge foi termos a presença física de uma família de 5 elementos, em que o filho mais novo tem autismo com défice cognitivo associado. Foi um momento maravilhoso, devo dizer. Eu família perfeitamente unida, feliz dentro das suas limitações. A criança era um encanto de simpatia... E ter ali dois pais a contar como é o dia a dia e quais as dificuldades e alegrias com que lidam fez-me pensar que a vida é incrivelmente simples e bela, se a nossa intenção diária for vê-la desse modo.

Mais pelo final da tarde, a mesma situação e o mesmo sentimento - "mas que raio! não sabem ter horas" porque voltaram a passar da hora. Vim embora a pensar que não estava a gostar daquilo assim e deixei de dar importância e relevo ao que realmente fez sentido hoje - aprender coisas sobre o autismo, entender através de vídeos como são essas crianças e ter a oportunidade de ver uma família real, com rugas e cabelos brancos e dúvidas e medos como todos nós.

Agora, sentada em frente ao computador a escrever-vos isto, percebo que me falta imenso o dom da paciência e da tolerância, e não posso deixar de culpar o ambiente que tenho vivido por isso. Dalai Lama dizia: "Aprimorar a paciência requer que alguém nos faça mal e nos permita praticar a tolerância." mas creio que isto é incrivelmente difícil... Indirectamente, acabei por descarregar as frustrações do quotidiano naqueles atrasos no cumprimento do horário do curso.
Na verdade, tenho-me sentido cansada de partilhar uma casa com tantas meninas. Estava a precisar do meu cantinho, do meu espaço... Como as possibilidades económicas não o permitem, tenho de viver com 19 pessoas completamente diferentes de mim, que não têm a mesma ideia que eu sobre respeito e educação. Não raras vezes me apanho a pensar nos critérios de diagnóstico de uma personalidade dependente ou anti-social e dá-me vontade de voltar às aulas práticas de Psiquiatria onde, por comparação, tínhamos a certeza que somos normais.

E penso: "sou só eu que sinto isto ou toda a gente quer o seu mundo de vez em quando?

Amanhã volto ao Pediátrico para mais um intensivo dia. prometo não me deixar irritar com insignificâncias.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Socorrismo e outras novidades

Alguém que costuma ler o meu blog, ao encontrar-me online no Facebook dizia: "então, já não escreves nada há muito tempo..." e eu respondi "já lá vou"...e entretanto passaram-se quase 2 semanas.
E foram duas semanas bastante intensivas.

Com a "reciclagem" do curso TAT da Cruz Vermelha, passei os últimos dois fins de semana inteiros a ter formação teórica e prática. Voltei a pisar os joelhos e as mãos de tantas compressões cardio-torácicas fazer (se querem ter uma paragem cardio-respiratória à minha frente, agora é o momento ideal), e servi de vítima tantas vezes para o pessoal "novo" que fiquei com os músculos das pernas todos massacrados.
Após duas avaliações práticas e uma teórica, e mais uns turnos de INEM pelo meio, lá consegui terminar o curso e essa etapa esta finalizada.
Meia louca, ou prudente, conforme o ponto de vista, comecei a fazer o "Curso de condução básica" de ambulâncias. E ainda cheguei a ter 3 aulas. O suficiente para perceber as diferenças entre o tamanho de uma carro ligeiro e um veículo de emergência. Entretanto percebi que não tinha absolutamente mais tempo... Chamo-lhe mesmo condução básica, porque o resto do pessoal continuou e já anda a treinar a condução em emergência (coisa, diga-se, que comigo resultaria em mais vítimas do que socorridos)!

Posso partilhar convosco que pensei desistir da Cruz Vermelha. É tudo muito bonito, mas não é fácil arranjar tempo e sobretudo, disposição, para sair de casa para 8h de turno semanais... Com a chegada do tempo frio as coisas pioram substancialmente. E na altura ainda tinha o curso TAT para repetir e isso deixava-me incrivelmente preguiçosa, com vontade de abrandar o ritmo alucinante das minhas semanas...
Depois, num dos turnos que fiz, uma velhinha muito querida que fomos socorrer por dispneia severa, no caminho para o hospital perguntou: "menina, eu vou morrer?". Posso dizer que me senti muito, muito bem  por poder dizer "Não, não vai...estamos a chegar...", enquanto lhe acariciava o rosto e lhe apertava a mão e ver nos seus olhos alguma sensação de alívio. Foi como um relembrar das razões que me levam àquela delegação, semana após semana.

Quanto a tudo o resto, as novidades são as seguintes:
  • a minha sobrinha virou sobrinho na última ecografia. Digamos que era tímido e assim conseguiu enganar a mim e a 2 médicas experientes.
  • tenho uma nova colega de quarto, que gosto muito. Já conhecia, e tem sido tudo óptimo.
  • pretendo realmente fazer ERASMUS no próximo ano; locais e etc ainda está a ser estudado, mas esta é a última oportunidade e não vou voltar a adiar, até porque se adiar, será para sempre.
  • uma vez que o projecto "Interrail" vai mesmo para a frente, pretendo ganhar uns trocos extra na latada, na bilheteira...espero ter sorte e ser seleccionada.
  • iniciei um novo puzzle - um antigo hobby perdido até então - de 2000 peças e montes de bonequinhos engraçados, num hospital de loucos!