quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Porque devo continuar?

Há dias em que realmente me apetece desistir de Medicina e escolher algo mais simples, mais directo. Algo que não exigisse tirar um curso de 6 anos e na recta final fazer um sprint final com o exame de especialidade. E depois continuar e tirar mais uma especialidade de 5 ou 6 anos... Olhando o panorama futuro de trabalho e horas de sono perdidas, sinto-me cansada por antecipação. Hoje foi um desses dias...
Aliado ao trabalho que o curso exige, por vezes sinto que ando cá há 5 anos e nao sei o básico das coisas! Sinto-me uma má estudante, e uma futura má profissional. Dito isto assim, aqui na internet, arrisco-me a não ter doentes que confiem em mim um dia mais tarde, mas tudo bem...é um risco que prefiro correr ao invés de deixar de escrever o que se passa.
Olha para o calendário e ver que faltam 3 semanas para terminarem as aulas também não é encorajador... Dentro de muito pouco tempo começa o tempo onde é pedida mais força mental, mais confiança, mais garra (a época de exames, que este ano se resolveu encurtar de 1 mês e meio para um mês, ou seja, menor intervalo entre provas).
Normalmente fazem comentários e pedem ajuda sobre algumas questões no curso e até mesmo no secundário. Hoje sou eu que peço ajuda. No final de tanto esforço, será que vou olhar para trás e ver que fiz o percurso certo e serei feliz no meu dia a dia? Isto melhora com a prática clínica? Podemos realmente salvar pessoas? É possível realmente abarcar tanto conhecimento e saber usá-lo no momento certo? E tudo isto não deixará de lado a vida familiar e pessoal que sei que será tão importante para mim?
Porque devo continuar?

11 comentários:

  1. Olá,
    E se fizeres a pergunta ao contrário?
    Qual a resposta?
    Talvez não seja a mesma.
    Imagino que esteja a ser muito complicado, aliás não consigo imaginar curso mais difícil e complicado do que medicina.
    As razões que te levaram aonde estás hoje ainda se mantêm?
    Sentes-te só?
    Viver sozinha é uma aventura mas deverá certamente haver momentos em que um colo ao chegar a casa nos fariam bem.
    Porque não pedes um colo? Um abraço? 1 dia da vida de alguém que te ama e que ceratmente irá ter contigo?
    Mudar será sempre bom, desde que não implique desistir porque aí ficará um amargo de boca que nunca passará?
    Mas eu não sei nada, apenas acredito que se chegaste até aqui, embora tlv o pior ainda esteja para vir, conseguirás ir até onde sempre achaste que podias chegar.
    Para já, pára e respira, agradece tudo o que já conseguiste (e a lista deverá ser ENORME)e descansa.
    A seguir abre os olhos e aproveita o teu dia, minuto a minuto, não antecipes nada, não esperes nada.
    Dá o teu melhor.
    Decidas o que decidires será sempre a tua decisão e tu, mais ninguém, terás de viver com ela.
    Um dia. Hoje.
    Amanhã nem sabemos se existe.
    Fica bem e aceita um abraço de mãe (quente e muito muito apertado minha menina).
    Flora

    ResponderEliminar
  2. Olá! Não sou médica mas conheço muitos, incluindo diversos elementos da minha família. Acho que estas dúvidas são mais do que normais em momentos de cansaço quando a vontade de desistir surge tão tentadora, mas acredito que esse cansaço ou o trabalho que o curso implica não 'mata' todas as coisas que estiveram na motivação de escolher medicina. Claro que com o processo tudo pode mudar. E é justamente nisso que podes concentrar-te agora: em fazer o que tens a fazer, mas sabendo que tens um grande leque de escolhas no final do curso, ou até mais à frente, e podes escolher não vir a exercer, fazer opções diferentes, no sentido de uma vida como afinal pretendes. Agora são só as ferramentas, depois o caminho desenhas tu!
    Boa sorte! E tenta descansar! :)

    ResponderEliminar
  3. Alo :) eu ainda so estou no 2º ano, mas acho que todos temos momentos em que sentimos que o que ja aprendemos nao serve para nada, e que nao vamos ser capazes de enfretar a responsabilidade que a profissao exige.
    Mas nao acredtido que seja verdade, são apenas dias menos bons. Acredito que quando chegar a altura vamos ser mais que capazes! :)
    Muito boa sorte *

    ResponderEliminar
  4. Olha... eu ainda estou no 12º então não te posso ajudar, mas, achas que se tivesses estudado em outro país, tipo Brasil ou Cuba onde 'dizem' que o ensino de medicina é mais prático estarias na mesma situação e com as mesmas inseguranças? é uma duvida que tenho. bjo

    ResponderEliminar
  5. Porque continuar tbm...? Acho que a gente precisa ter certeza se o cominho que se está fazendo é o certo. Não sei se é o teu caso, mas no meu, não sei se estou no caminho que era para estar. Mas espero que tu estejas no melhor caminho. Então se estiver, que este seja um bom motivo para continuar.

    [roubei o título de ti, sorry.]

    http://imeli.blog.com/2012/12/03/reflexoes-sem-nenhuma-logica/

    Imelidiane Leite

    ResponderEliminar
  6. Tantas vezes que sinto o mesmo que tu! Será que este esforço todo vale a pena? Ainda por cima com as previsões não muito animadoras do futuro que nos espera, seja ele com que governo for... Abdicar de certos momentos da nossa vida pessoal, estudar tanta coisa que depois poderemos não saber usar no momento certo. É precisa muita força de vontade e saber aquilo que se quer. Pensei muitas vezes em desistir, mas algo (que não sei explicar) me diz que vale a pena continuar. Algum gene altruísta...? não sei, talvez. Ás vezes parece que há tantas desvantagens e tão poucas vantagens em continuar!

    Não te deixes intimidar por estas dúvidas. Pensa que não és diferente de todos os nossos colegas já médicos e especialistas. Se eles conseguem porque é que nós não havemos de conseguir?

    Não sou budista (nem percebo muito desta religião), sou católico, mas acredito que as nossas boas acções são sempre recompensadas. Acho que uma boa acção, tem sempre uma boa "reacção", ou seja que todas as nossas boas acções serão-nos devolvidas mais tarde.

    O teu colega Luís

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sim do 3º para o 4º nota-se que subimos dois ou três degraus de uma só vez! É um pouco puxado mas lá se vai com alguma ginástica mental!
      O 5º ano não é melhor...pelo contrário! Acho mais trabalhoso que o 4º, embora só haja avaliação contínua da parte prática a ortopedia. Mas as cadeiras são todas "importantes". Cardiologia tornou-se num cadeirão com a mudança de gerência e Pediatria é taaaaaaaanta matéria (cerca de 30 teóricas que a prof diz termos de "saber de cor e salteado").
      Obstetrícia eu gosto muito, mas não é nada fácil...temos de estudar pelo livro e cada capítulo são horas e horas de leitura!!!! Tudo o resto promete ser complicado na época de exames! Quando ao outro bloco...ouço falar muitíssimo de Nefro (outro pincelão).
      Mas pensa agora na tua hemato e gastro e coisas assim!

      Obrigada pela força! Foste muito simpático!

      Eliminar
  7. Estando na mesma etapa que tu (ou seja 6º ano) tenho te a dizer que são mais os dias que sinto isso dos que não sinto. Basicamente passei 5 ano a dar o litro, estudei sempre o maximo que pude, tentando descurar o máximo possível e muitas vezes levando quase ao esgotamento cerebral xD e chego a esta etapa e sinto que não sei nada! Sinto que a teoria está lá muito bem enterrada, bem bem no fundinho, e quando ma perguntam dá-se um nó!
    Continuamos porque efetivamente gostamos da medicina, gostamos de perceber o que as pessoas têm e tentar ao máximo melhorar as suas vidas.
    Boa sorte :)

    Maria

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá Maria!
      Obrigada pelo comentário!
      Bem, tu já vais com um aninho a mais! Eu cá vou andando pelo 5º...
      Eu tento não atingir esse patamar de cansaço cerebral de que falas... Adoro medicina, mas não dispenso as pessoas e não gosto quando não tenho tempo para elas.
      Continuamos relamente porque queremos ajudar, queremos ser o porto de muitos...nisso concordamos plenamente!
      muito boa sorte para esse ultimo ano! Boa sorte na cirurgia, se ainda não esta arrumada

      Eliminar
  8. Olá J. Castro

    Há alguns meses que conheço o teu blog e sinceramente já sei decor este teu comentário, pq sempre que o visito não resisto e volto a ler, reler e fico a reflectir e não chego a conclusão nenhuma...Eu estou numa situação diferente e por isso ainda fico mais baralhada. Sou uns aninhos mais velha que tu, sou licenciada (profissional de saúde), sempre adorei estudar e nunca parei (pós-graduação, mestrado, cursos e cursinhos), mas fiquei sempre com a medicina a latejar na minha mente; tento não tento? Pela minha família, claro que tentava, mas a dúvida persistia...sempre fui muito boa aluna, mas tive a infelicidade de os exames nacionais me correrem mal e sinceramente não tive paciência para repeti-los...Então este ano lá me decidi, concorri e entrei em medicina...Ao ver os resultados da lista, claro que fiquei contente!Mas pouco depois veio o choque! Já trabalhava há alguns anos e voltar a fazer dos livros foco central da vida é uma regressão em todos os aspectos (financeiro, projectos para um futuro próximo, etc)e qdo me deparo com o percurso que ainda falta e com tantas abdicações que tenho feito e irei fazer, tento avaliar se todo este esforço vale a pena e este impasse não me tem deixado usufruir da minha pessoal,académica e profissional...Tenho vivido os últimos meses perseguida por uma sombra de dúvidas e indecisões. Sei que é um cliché, mas os mais velhos estão sempre a dizer que estes são os melhores anos da nossa vida, e eu perspectivo o resto dos 20 e mais de metade dos 30 dedicada aos livros e não acho nada que isso seja a plenitude. Ainda por cima, nós mulheres (para além de sermos complicadas por natureza) a certa altura começamos a sentir o tic tac do relógio biológico...Para umas coisas somos tão pragmáticas e para outras parece que ficamos incapacitadas para tomar decisões.
    Desculpa o "testamento" e o desabafo, mas foi importante encontrar um estudante de medicina que dedica um bocadinho do seu tempo aos outros e partilha as suas experiências e por isso te agradeço.

    ResponderEliminar