domingo, 16 de setembro de 2012

Início diferente!

Chegamos a um certo ponto que pensamos "oh, lá vamos nós para o mesmo...". Na verdade, este ano, o início tem sido bem diferente. A começar cá por casa...
Aquela residência com uma ala super silenciosa, onde havia regras de respeito mútuo e consideração pelas horas de sono das outras pessoas, onde havia listas de limpeza de forma a garantir que tudo andava em bons rumos, já não existe! Encontrei ao chegar uma ala repleta de pessoas estrangeiras, praticamente sem quartos individuais (ou seja, muito  mais pessoas para o mesmo espaço), muita suja e sem ordem.
As coisas que coloquei no meu armário da cozinha iam desaparecendo à minha frente. Pousava um prato e alguém pegava nele como se aquilo fosse do "povo"... Cheguei ao cúmulo de deixar um bilhete dentro do meu próprio armário a dizer em inglês: "não usar estas coisas!" Deixei o pano de fora, pendurado, como sempre... Devia ter colocado o pano da louça lá dentro também, porque não tardou a desaparecer.
Durante a primeira semana acordei várias noites seguidas às 3h da manhã, hora a que "elas" chegavam a casa. Chegar a casa tarde não costumava ser motivo para acordar as restantes colegas, mas isso era "dantes"!

Agora falam-se imensas línguas por aqui, mas o inglês reina, claro, incluindo dentro do meu quarto, que estou a partilhar com uma Italiana. Escusado será dizer que trouxe o meu dicionário para Coimbra... Não posso negar que tem sido um bom treino, mas qualquer que passe no corredor no momento em que estou a falar percebe que a minha colega não deve entender nadinha... (exagero meu, porque temos tido longas conversas... o tempo passa enquanto penso em como se diz as coisas)

Aquelas famosas duas semanas de faculdade que não se faz nada a não ser "apresentação"? Não foi bem assim... O regente de Cardiologia achou por bem alterar o método de avaliação e torná-lo verdadeiramente bolonhês, coisa óptima, na minha perspectiva. A questão é que agora temos de ler semanalmente capítulos de Harrison para conseguir responder a umas perguntas que ele disponibiliza e que são debatidas nas aulas práticas. Como em sorte me calhou, já na próxima semana, responder às questões e apresentar o trabalho, não tive um arrancar de estudo muito tranquilo.
Idem aspas para a regência de Obstetrícia que, com o seu discurso de "vamos lá estudar todo o ano" me fez ter gosto para fotocopiar o livro recomendado (coisa que não deveria dizer aqui, não é verdade?)

Também tive de ir incomodar as aulas de Epidemiologia do 4º ano, apelando ao preenchimento dos questionários para a minha tese de mestrado. Uma estratégia menos agressiva foi usada para o pessoal do 5º ano, mas não sei bem porquê, eles têm levado os questionários para "preencher depois" e não os devolvem! Não posso negar que eles são grandes, provavelemnte um pouco "seca", mas "epah que raio!" - trata-se da tese de mestrado de duas colegas e mais vale dizer que não querem colaborar, do que serem simpáticos e depois não devolverem as coisas! Parecendo que não, são 400x5 folhas que foram impressas e isso custou muito dinheiro!


Outra coisa diferente, embora um pouco insignificante, foi ter carro em Coimbra. E pode dizer-se que faz immmmmmmenso jeito, especialmente com este calor. Não é de todo um bem de primeira necessidade, mas sempre deu para compensar as boleias que vou pedindo aos amigos durante o ano.

E agora, também pouco ortodoxo da minha parte, aventurei-me na compra de mais um livro escrito em ingles (um ingles verdadeiramente complicado para o meu nível) e portanto, vou ler! (Algo que também só costumava fazer em férias).

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

(em resposta aos comentários)

REACÇAO À MORTE

É verdade que sobre morte, sobre assistência ao doente e à família nos últimos momentos de alguém, pouco se fala, quer social quer academicamente. A maioria das pessoas, eu inclusive, prefiro adiar a realidade de que poderemos todos morrer de um momento para o outro.
Li algures nalgum sítio que o cérebro só aceita a ideia de morte se lhe for apresentada como algo que nos foi roubado (um acidente, um assassinato, por exemplo)...
Mesmo quando as pessoas têm doenças terminais e recebem visitas nos últimos dias, ninguem fala o mais óbvio... Ninguém pergunta "estás com medo?", nem ninguém suporta ouvir: "ouve, preciso preparar as coisas...testamento e isso"...

Alguém me perguntou num recente comentário como eu tinha lidado com aquela situação que relatei aqui, em que tive de fazer reanimação cardio-respiratória a um senhor em situação de emergência, que acabou por falecer. É, sem dúvida, uma questão pertinente.

A minha resposta é: por vezes ainda me recordo da face do senhor... Consigo descrever cada pormenor daquele quarto e daquele aparato - marcou-me, certamente. Nunca tinha visto ninguém a ser declarado "morto" ali, à minha frente, com a família na sala do lado, ainda na esperança. Nem nunca tinha feito uma tentativa tão invasiva, tão urgente, tão "médica" para salvar alguém... Não estava sozinha e isso foi um enorme motivo de segurança - embora tivesse treino e conhecimentos para realizar as manobras sozinhas, numa rua, se fosse preciso.
Não posso dizer que isso me afecte hoje em dia, pelo menos directamente, porque a minha vida continuou de forma natural. Ficou uma marca pessoal, como se alguma coisa na minha experiência me lembrasse que não poderei salvar todas as pessoas...

Agora divagando um pouco, eu creio que o sentido de morte e de nascimento varia muito de pessoa para pessoa, consoante as suas ideias, crenças religiosas, etc... E eu, tendo uma filosofia de vida e de morte pouco ortodoxa, creio que consigo entender que tudo não passa de um ciclo...


SOBRE A MINHA TESE DE MESTRADO

Não sei em que ano estás, mas se estiveres nos primeiros creio que não tens de te preocupar com isso agora... Ao longo do curso vão surgindo muitas matérias, muitas áreas de investigação e nasce um interesse natural. Pelo menos comigo foi assim. Eu queria fazer uma tese na área da psiquitria e pensei em algo concreto e até propus a um professor meu que fosse meu tutor. Ele achou que fazer um artigo cientifico sobre o tema do meu interesse seria complicado e ficou tudo em stand by. Passado algum tempo recebi um convite feito por uma amiga para trabalhar exactamente naquilo que tinha imaginado. Creio que mais uma vez, fui dotada de sorte.


Fiquem bem,
Obrigada pelos comentários!