quarta-feira, 25 de julho de 2012

Mudança de Perspectiva


"Nossa sensação de contentamento sofre forte influencia da nossa tendência à comparação. Podemos aumentar nossa sensação de satisfação com a vida comparando-nos com os que são menos afortunados do que nós e refletindo sobre tudo o que temos." (by Dalai Lama e Howard C. Cutler).

Não sei se conhecem o livro escrito pelo psiquiatra Howard Cutler, mas já falei dele aqui antes. "Dalai Lama: um guia para a vida" é uma obra onde este médico conta como foi o confronto entre a realidade ocidental, que levava na bagagem da sua existência, e oriental, que encontrou no Tibete, em conversas com o Dalai Lama. Um dos capítulos é sobre a mudança de perspectiva e de como isso nos pode ajudar a ver o mundo de uma forma que nos faz sofrer menos.
Desde que o li, ficou claro para mim que essa seria a filosofia de vida pela qual me queria guiar e hoje posso dizer que me sinto uma principiante do Budismo Zen, mas não é sobre religiões e sentimentalismos que venho escrever hoje.
Hoje venho apenas partilhar, através de vários exemplos, que consegui, em várias pontos mal esclarecidos e, por isso, incómodos da minha vida, mudei de perspectiva.

Hoje fui ao centro comercial almoçar e ver umas lojas, para ocupar tempo até à hora de um compromisso que tinha às 14h30. Como é hábito, não pude deixar de entrar na Berthand. No meio de tantos livros e lançamentos, encontrei um discreto livro de Nicholas Sparks (e digo discreto porque é um livro de bolso). Já há imenso tempo que não lia nada dele, e gosto muito, por isso decidi sentar-me para ler umas passagens. Surpresa a minha quando descobro que era um livro não traduzido - estava em inglês. Sem pensar propriamente no que isso significava, decidi "Oh, vou tentar ler uma página..." e assim aconteceu. No final da mesma, pensei "Epah, que fixe! Tu até conseguiste ler tudo e entender a grande maioria... Uma ou outra palavra desconhecida, mas o sentido e contexto percebeste!"... Decidi comprá-lo.
Ontem estive 4h a falar no Facebook com uma amigo em Inglês... Lá colocava as palavras que não me lembrava entre parênteses em português e a conversa foi rolando além dos básicos "hello, how are you?". Pedi ao meu grupo de amigos que me fale aqpenas em inglês nas sms, de forma a obrigar-me a perceber e incentivar-me a responder à letra, literalmente falando.
Percebi hoje, em conversa com uma amiga especial, que mudei de perspectiva. Deixei de lutar contra o inglês. Percebi que não adiantava, não ia ganhar esta luta. Pelo contrário, fazia-me sofrer.

O tempo de férias costuma ser stressante para mim. Passo o ano todo em Coimbra e ter de voltar às regras da casa e à companhia constante dos pais perturbava-me sempre a paz de espírito. Sentia-me sem espaço.
Esta semana estive 1h depois de jantar a jogar voleibol com eles e com umas primas (sim, eles sabem jogar volei). Disse a mim mesma na viagem de regresso a casa, faz hoje uma semana, que não iria descontar neles a possível "frustação" que pudesse vir a sentir, e que teria de ter mais paciência para as coisas deles.
Durante esta semana, além dos jogos de voleibol, dediquei-me a ouvi-los, à comunicação. Sentei-me cá fora no jardim com o meu pai a falar sobre a vida num dos dias, partilhei várias coisas num almoço com os dois. Percebi então que o tempo passa mais depressa, mas de forma mais agradável. O sorriso torna-se uma constante e, da mesma forma que me dediquei a à abertura, também eles se dedicaram a respeitar o meu espaço. Deixaram de sentir necessidade de me forçar a dar-lhes atenção. Mudei de perspectiva e fiz com que deixassem de sofrer, coisa que não me agradava também.

Não é a primeira vez que falo aqui de competição e metas altas e sobre tudo o que isso me provoca. Um caso muito particular era o da especialidade. Comecei a desenvolver em mim a ideia que tinha de tirar a especialidade em Coimbra. Só podia ser em Coimbra! De tal forma que cheguei mesmo a pensar que se um dia tivesse que escolher entre entrar em Ginecologia noutra cidade, ou entrar noutra especialidade em Coimbra, optaria pela segunda opção. Os motivos eram fortes, sentimentais, mas não vem ao caso partilhá-los.
Apercebi-me numa conversa esta semana com a minha irmã que nada na vida é garantido e que não me posso prender ao mundo. Acho que só esta semana tive consciencia do seguinte:
- fazer a especialidade em Coimbra é completamente diferente de passar a vida em Coimbra! Nada é garantido, especialmente num centro hospitalar como este, onde raramente abrem vagas para os médicos especialistas passarem a fazer parte do quadro fixo do hospital. Há sempre muita gente, muitos alunos e jovens médicos para fazer o trabalho. E mesmo que abrisse, por coincidência, uma vaga para me fixar em Coimbra no final da minha especialidade, seria muito difícil EU consegui-la, porque certamente, outros médicos mais experientes e com mais curriculo que eu também tentariam a sua sorte...
Além disso, criar a ilusão de que aqui ficar é garantido e eterno pode trazer problemas, com as casas, por exemplo. Posso dar-vos o exemplo de uma médica Hematologista que terminou recentemente a especialidade aqui nos HUC e que foi minha professora das aulas práticas. Ela tem um enorme problema em mãos: precisa de um emprego, de um lugar num hospital público e este ano só abriram vagas em...FARO e GUARDA. Ela, que já tinha cá comprado casa, vai ter de vender tudo (neste tempo de crise acredito que não seja fácil) e comprar outra numa das cidades para onde for trabalhar.
Por isso, mudei de perspectiva e percebi que o importante é ser feliz, estar com as pessoas que se ama ao lado, não propriamente ficar em Coimbra. Se for pra outra cidade qualquer do pais fazer a especialidade, perfeito igual - vou conhecer outras coisas e outras pessoas. Se no final da mesma não puder voltar, se até puder emigrar, perfeito igual, se for para ser feliz.
Este pensamento ajudou ainda a diminuir a minha pressão e competição - já não tenho de tirar 90 no exame de especialidade para garantir um lugar AQUI. Posso tirar só 80 para conseguir apenas UM LUGAR... Já não tenho de ficar preocupada que o vizinho seja melhor que eu e fique com esta vaga AQUI que eu também quero... Tenho só de fazer o meu melhor, para ter UMA VAGA...

Poderia continuar a dar exemplos, mas creio que o post já está grande o suficiente! Deixo apenas este link, para os curiosos:
http://www.unimedlins.com.br/noticias/dalailama.pdf

Até breve!

3 comentários:

  1. Olá,
    Li o teu blog de fio a pavio.
    Na terça-feira por descuido apaguei, dos meus favoritos, alguns blogs que seguia, nomeadamente 2 de "meninas" que estudam medicina.
    Na aflição de procurá-los na net esbarrei com o teu.
    Em boa hora.
    Sou mãe de uma menina de quase 16 anos que pretende seguir medicina e, como ñ estudei p/ além do secundário, sinto-me mts vezes incapaz de ajudar a filhota nas eventuais dúvidas que aflicões que possa ter, daí o meu interesse.
    Para além disso parece que somos vizinhas, o colégio dos Carvalhos esteve quase quase a ser a casa dela no secundário, mas decidiu continuar onde sempre estudou e espero que tenha sido uma boa opção.
    Vou indicar-lhe o teu blog, apesar de já ires tão longe a tua escrita relativa aos últimos 2/3 anos quase que me faz parecer que ainda agora tudo começou, e sinto que se ela puder ler-te com atenção vai perceber o tanto que falta mas sobretudo que tudo depende somente do esforço a investir.
    Felicidades e que a vida te sorria e que os sonhos (com a ajuda dos mealheiros ou não) se conquetizem.
    Fica bem,
    Flora

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    1. Bem,
      Não fazia a minima ideia que "mães" também liam o meu blog, mas fico mesmo muito feliz em saber! Só não consigo perceber como teve tanta paciência para ler tanta coisa...é que não sou pessoa de poucas palavras!

      Eu criei este blog com o intuito de ajudar e esclarecer as pessoas sobre a realidade da vida de estudante, especialmente Medicina, claro, que é o sei falar por experiência própria. Creio que não deve haver muitos blogs destes, porque o número de visitantes subiu em flecha em 2 anos!

      De qualquer forma, e esta introdução serve apenas para dizer que espero que a Flora e sua filha continuem a ler, e podem sempre deixar comentários, generalistas ou mesmo com questões. Costumo ser rápida a responder. Se preferirem que os comentários não fiquem visíveis, também posso fornecer o meu e-mail.

      Beijinhos a família e muito obrigada pelas mensagens de sorte! Não me posso com certeza queixar de falta dela!

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  2. Me fez lembrar que, quando volto para casa, tbm me obrigo (praticamente) a ter mais paciencia para as coisas dos meus pais e da minha irmã tbm e esquecer um pouco a rotina da faculdade.

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