Pirâmides etárias são gráficos que que
representam a população de acordo com as idades e os sexos de uma determinada
amostra. O conceito é simples: a base representa a taxa de natalidade, a parte
intermédia a população adulta e por fim, o ápice dá-nos a expectativa de vida e
a população idosa. Uma população jovem tem, como se compreende, uma base larga
e um ápice estreito. Portugal está a ficar longe dessa ideal situação. Segundo
as previsões do Instituto Nacional de Estatística, em 2050 cerca de 80% da
população portuguesa estará envelhecida e dependente.
Quase não seria necessário fazer-se
inquéritos sobre a demografia nacional, bastaria consultar a agenda dos médicos
de família para cada semana. Eu estive 3 meses no centro de saúde e nunca
assisti a nenhuma consulta pré-concepcional. Pode ter sido azar, claro, mas se
fossem muitas seria mais difícil não assistir a pelo menos algumas, não? Onde
estão os casais prontos a ter filhos? Onde está a vontade e a disponibilidade
económica para construir uma família? Onde estão as mulheres que não querem ter
só um filho, e só aos 40?
Consultas
de saúde materna também se podiam contar pelos dedos de uma só mão. O horário
está lá reservado, às quintas-feiras de manhã, à espera desesperadamente que
venham as senhoras de barriguinha, mas nada… O que acontece então é que esse
horário acaba por ser preenchido pelas consultas mais requisitadas – doenças
crónicas: diabetes, hipertensão - que atingem maioritariamente a faixa etária
acima dos 60-70 anos… Parece uma “pescadinha de rabo na boca”, como diz o povo,
um ciclo viciante.
Como jovem médica, o que me parece é
que há uma estreita ligação entre a realidade da saúde materna e a da saúde
infantil, ou seja, entre a carência de gravidezes e educação centralizada nas
necessidades materiais das crianças.
Já ouvi casais falarem que “a vida está
muito complicada, não podemos ter filhos…eles hoje em dia precisam de tudo.” O
desemprego é infelizmente uma realidade portuguesa e quanto a isso, nada a acrescentar,
e há de facto pelo Portugal fora centenas de famílias que não podem ter filhos já. Mas depois temos aquelas outras
famílias, muitas por sinal, que têm estabilidade económica e falam da mesma
forma. Serão os filhos que precisam de tudo mesmo, ou quererão os pais dar-lhes
tudo? A ideia que tenho é que hoje em dia as pessoas querem ter só um filho,
mas “que nada lhe falte”. Este pequeno pormenor é a chave de toda a alteração.
Surgem então as famílias com apenas um descendente, ao qual dão tudo quanto
podem e lhes transmitem, sem saberem ou sem parecerem ligar, a ilusória e
destruidora educação que a vida é assim mesmo – pode ter-se tudo.
Esta minha opinião não é infundada em
ideias vagas, tenho imensos exemplos reais, só falando nestes 3 meses de
estágio, e em todas as etapas de vida. Há casais que se queixam que têm
“pequenos ditadores” em casa, que aos 2 anos já decidem a sua pequena vida mais
do que os seus pais, desde o que comem ao que vestem, com as birras com as
quais hoje em dia os pais dia não sabem lidar. Ainda há poucos dias vi uma mãe
rir-se orgulhosamente da birrinha que a filha de 3 anos fazia no consultório e
a incentivava: “Tu hoje não queres fazer isto pois não? Prontos, ela hoje não
quer…”, enquanto a abraçava e mimava. Depois vem as terríveis histórias dos
filhos já homens que com 20 anos não querem estudar nem trabalhar, maltratam os
mais velhos verbalmente, e de quem os pais já não conseguem nada, nem
autoridade, nem educação, nem respeito.
É difícil educar devidamente, é
necessário ser-se presente, forte, convicto e equilibrado. E depois das muitas
histórias de filhos e pais que ouvi e das muitas consultas de saúde infantil
que fiz, creio ser impossível não refletir sobre o assunto... Talvez o médico
de família possa ter uma posição de destaque no amadurecimento da nova geração
de pais e filhos e na orientação dos mesmos, através de exemplos e explicações científicas,
e como alerta para os sinais da necessidade de uma intervenção mais
especializada. Talvez seja fundamental toda a sociedade refletir em questões
mais filosóficas mas extremamente oportunas, que parecem esquecidas, como: “o
que faz realmente falta a uma criança?”, “onde fica a noção de partilha entre
irmãos?”, “como educar para que os filhos tenham respeito ao dinheiro, trabalho
e sacrifício dos pais?”.
Há necessidade de que haja políticas públicas para a renovação da população. Se o custo for o da população geral custear os custos familiares, que seja assim.
ResponderEliminarIdealmente para que a população se mantenha estável há necessidade de 2 filhos/mulher.
Pai recente também tenho medo de um segundo filho, mas não troco minha decisão de ter tido o primeiro por nada. Ela é tudo. Só não pode e não vai ser minha ditadora. (rsrs).
Portugal não pode implodir populacionalmente. A cultura não pode se perder com a redução da população. Abraçemos estes custos juntos.