Alguém que costuma ler o meu blog, ao encontrar-me online no Facebook dizia: "então, já não escreves nada há muito tempo..." e eu respondi "já lá vou"...e entretanto passaram-se quase 2 semanas.
E foram duas semanas bastante intensivas.
Com a "reciclagem" do curso TAT da Cruz Vermelha, passei os últimos dois fins de semana inteiros a ter formação teórica e prática. Voltei a pisar os joelhos e as mãos de tantas compressões cardio-torácicas fazer (se querem ter uma paragem cardio-respiratória à minha frente, agora é o momento ideal), e servi de vítima tantas vezes para o pessoal "novo" que fiquei com os músculos das pernas todos massacrados.
Após duas avaliações práticas e uma teórica, e mais uns turnos de INEM pelo meio, lá consegui terminar o curso e essa etapa esta finalizada.
Meia louca, ou prudente, conforme o ponto de vista, comecei a fazer o "Curso de condução básica" de ambulâncias. E ainda cheguei a ter 3 aulas. O suficiente para perceber as diferenças entre o tamanho de uma carro ligeiro e um veículo de emergência. Entretanto percebi que não tinha absolutamente mais tempo... Chamo-lhe mesmo condução básica, porque o resto do pessoal continuou e já anda a treinar a condução em emergência (coisa, diga-se, que comigo resultaria em mais vítimas do que socorridos)!
Posso partilhar convosco que pensei desistir da Cruz Vermelha. É tudo muito bonito, mas não é fácil arranjar tempo e sobretudo, disposição, para sair de casa para 8h de turno semanais... Com a chegada do tempo frio as coisas pioram substancialmente. E na altura ainda tinha o curso TAT para repetir e isso deixava-me incrivelmente preguiçosa, com vontade de abrandar o ritmo alucinante das minhas semanas...
Depois, num dos turnos que fiz, uma velhinha muito querida que fomos socorrer por dispneia severa, no caminho para o hospital perguntou: "menina, eu vou morrer?". Posso dizer que me senti muito, muito bem por poder dizer "Não, não vai...estamos a chegar...", enquanto lhe acariciava o rosto e lhe apertava a mão e ver nos seus olhos alguma sensação de alívio. Foi como um relembrar das razões que me levam àquela delegação, semana após semana.
Quanto a tudo o resto, as novidades são as seguintes:
- a minha sobrinha virou sobrinho na última ecografia. Digamos que era tímido e assim conseguiu enganar a mim e a 2 médicas experientes.
- tenho uma nova colega de quarto, que gosto muito. Já conhecia, e tem sido tudo óptimo.
- pretendo realmente fazer ERASMUS no próximo ano; locais e etc ainda está a ser estudado, mas esta é a última oportunidade e não vou voltar a adiar, até porque se adiar, será para sempre.
- uma vez que o projecto "Interrail" vai mesmo para a frente, pretendo ganhar uns trocos extra na latada, na bilheteira...espero ter sorte e ser seleccionada.
- iniciei um novo puzzle - um antigo hobby perdido até então - de 2000 peças e montes de bonequinhos engraçados, num hospital de loucos!
Olá,
ResponderEliminarBom regresso e volta sempre, pois mesmo que demore eu sei que vou gostar de te ler e de alguma maneira viajar através das tuas experiências.
A sobrinha virar sobrinho tlv seja coisa boa, as meninas são parvas naquela idade que parece que nunca mais acaba (começou aos 12 e já vai nos 16 e tem dias que só na base do chinelo - ñ é verdade mas tem dias que ...deumalibre).
Mãe de teenager sofre (não muito no meu caso q testou mal habituada).
Adoro que não se desista.
É uma vitória ainda maior do que quando se começa.
Fica bem,
Flora
Obrigada Flora,
EliminarÉ sempre tão atenciosa... =D
Afinal sempre era rapaz... Pressentimento de tia nunca se engana!
ResponderEliminarOlá, fala da tua experiência como tudo começou
ResponderEliminarRosa
Olá Rosa!
EliminarPodes ler mais sobre o socorrismo e algumas coisas engraçadas e outras mais dificeis que me aconteceram nesse contexto, em outros posts meus. Procura nas etiquetas, a que diz "Socorrismo",
Estive a ler, uma coisa que me desperta curiosidade é: como lidar com o impacto da morte nestas situações? Com o tempo a pessoa vai habituando, mas quando é a 1ª vez?
ResponderEliminarOlá!
EliminarBem, morte é para mim, como para a maioria dos seres humanos, eu diria, um assunto delicado, especialmente se imaginado ou consciencializado que se trata de algo inevitável, que acabará por acontecer a todos, incluindo a nós. Nesse sentido, creio que é assustador. Num sentido mais profissional, é exactamente o que é, e esta justificação é a sua própria explicação..."Morre-se porque todos morremos". Porque não podemos ser presunçosos ao ponto de pensar que iremos salvar todas as vidas que precisarem de nós, socorristas/médicos.
Não é ser insensível, porque isso é algo que não sou. Sou do género de pessoa que chora por um velhinho quando ele tem dor e eu não posso fazer mais nada... Mas a verdade é que se cria uma certa capa protetora. Não nos podemos deixar afetar pelos problemas dos outros! Nós médicos (ou futuros médicos melhor dizendo), lidamos com a morte, a doença, a desgraça humana, o desrespeito social...não podemos deixar que isso nos impeça de continuar a ver o lado maravilhoso da vida.