sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Curso de Autismo

Hoje venho escrever como escapatória à minha própria mente.

Hoje estive todo o dia no Pediátrico, a fazer um curso sobre o Autismo. As palestras alongaram-se e não soube lidar de modo correcto com a situação. Acabei por não ouvir metade do que foi dito depois da hora. Como se os meus ouvidos tivessem programados para estar atentos até às 13h; como se esticaram até às 14h eles fecharam. Aliado a isso, uma enorme irritação. Quando me encontrei com os colegas para o almoço e eles me perguntaram se tinha gostado creio que respondi algo tipo: "atrasaram-se! e agora só vou ter 1h de almoço! cortaram meia hora!...ah sim mas gostei"...

Ao início da tarde o momento auge foi termos a presença física de uma família de 5 elementos, em que o filho mais novo tem autismo com défice cognitivo associado. Foi um momento maravilhoso, devo dizer. Eu família perfeitamente unida, feliz dentro das suas limitações. A criança era um encanto de simpatia... E ter ali dois pais a contar como é o dia a dia e quais as dificuldades e alegrias com que lidam fez-me pensar que a vida é incrivelmente simples e bela, se a nossa intenção diária for vê-la desse modo.

Mais pelo final da tarde, a mesma situação e o mesmo sentimento - "mas que raio! não sabem ter horas" porque voltaram a passar da hora. Vim embora a pensar que não estava a gostar daquilo assim e deixei de dar importância e relevo ao que realmente fez sentido hoje - aprender coisas sobre o autismo, entender através de vídeos como são essas crianças e ter a oportunidade de ver uma família real, com rugas e cabelos brancos e dúvidas e medos como todos nós.

Agora, sentada em frente ao computador a escrever-vos isto, percebo que me falta imenso o dom da paciência e da tolerância, e não posso deixar de culpar o ambiente que tenho vivido por isso. Dalai Lama dizia: "Aprimorar a paciência requer que alguém nos faça mal e nos permita praticar a tolerância." mas creio que isto é incrivelmente difícil... Indirectamente, acabei por descarregar as frustrações do quotidiano naqueles atrasos no cumprimento do horário do curso.
Na verdade, tenho-me sentido cansada de partilhar uma casa com tantas meninas. Estava a precisar do meu cantinho, do meu espaço... Como as possibilidades económicas não o permitem, tenho de viver com 19 pessoas completamente diferentes de mim, que não têm a mesma ideia que eu sobre respeito e educação. Não raras vezes me apanho a pensar nos critérios de diagnóstico de uma personalidade dependente ou anti-social e dá-me vontade de voltar às aulas práticas de Psiquiatria onde, por comparação, tínhamos a certeza que somos normais.

E penso: "sou só eu que sinto isto ou toda a gente quer o seu mundo de vez em quando?

Amanhã volto ao Pediátrico para mais um intensivo dia. prometo não me deixar irritar com insignificâncias.

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