sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Porque devo continuar? (Parte 2)

É muito confortante ir verificar o e-mail e me aperceber que pessoas anónimas, talvez próximas quem sabe, outras de outros países, vieram ler algo que escrevi e deixaram um comentário cheio de força, como um empurrão simples que muitas vezes me faz tanta falta.
A todas essas pessoas: um sincero obrigada!

Aquilo que o meu último post transmite é muito claro e muito comum: cansaço, dúvidas. Perguntas como: "mas afinal ando aqui a investir nos meus melhores anos e onde estão as garantias que vou ter um lugar para mim, que vou ser feliz?"
Todos os seres humanos desejam o mesmo e é engraçado pensar assim de uma forma generalista - encontrar a felicidade. É até irónico como muitas vezes vamos na rua e olhamos alguém e criticamos a sua roupa ou notamos que há algo que parece merecer a nossa atenção. Fazemos juízos de valor constantemente, sem muitas vezes nos lembrarmos que afinal andamos todos atrás do mesmo...
Durante este tempo que fiquei sem escrever não fui a nenhuma sessão de zazen mas meditei bastante sobre a pergunta que deixei aqui "porque devo continuar?".
Permiti-me perguntar coisas de todos os ângulos:
"Quero ginecologia porque realmente quero isto para a minha vida ou só porque preciso pensar numa especialidade cuja nota é alta para ter forças para estudar?"
"Da mesma forma, porque coloco a hipótese de psiquiatria? Porque estou cansada demais para fazer algo cirúrgico?"
"Mas afinal, o que me trouxe a medicina é o mesmo que me faz manter-me cá ou os meus desejos mudaram?"
"Como me parece que serei mais feliz?"

Encontrar respostas não foi fácil. Exigiu da minha parte que me auto-avaliasse de repente, nos momentos em que até eu mesma não sabia que poderia estar a ser observada pelo meu inconsciente. Tentem imaginar um psicólogo dentro da minha cabeça - eu mesma - que me questionava inesperadamente coisas simples como: "porque achas que acabaste de pensar isto?" "porque estás a sentir isto?"

Mas concluí ao final destes dias que estou em medicina porque continuo a querer dedicar a minha vida aos que perderam a sua saúde, ou aos que querem trazer à vida outra vida. Quero Ginecologia/Obstetrícia não para me auto-incentivar mas porque seria realmente realizada. Coloco a hipótese de Psiquiatria porque me fascina esse mundo, aliado ao mundo das neurociências. Porque sei que poderia fazer algo realmente útil - poderia até quem sabe trazer muita gente à felicidade. Continuo aqui porque apesar de muitas vezes dizer "oh, vou é trabalhar para o Pingo Doce", na verdade não é isso que quero para mim.
Cansaço e insegurança - dois inimigos a combater na faculdade, foi isso que concluí!

5 comentários:

  1. Olá,
    Ainda bem que o teu blog existe.
    Por ti, mas também por nós.
    Colocar no papel (online) momentos nossos tantas vezes faz com que se tornem mais palpáveis e fáceis de perceber.
    A generosidade de partilhar vida, seja de que maneira for, é um feito enorme (mesmo que ñ pareça).
    Continua a tua luta, da melhor maneira possível, e certamente as tuas respostas chegarão, mesmo que nem sempre sejam fáceis ou até evidentes.
    Sê forte mas não demasiado, permite-te parar, descansar, parar.
    Pede ajuda. Mima-te.Aceita a dificuldade.
    Logo recomeçarás forte e tudo continuará da melhor maneira possível, em solitários muitas vezes, mas nunca só.
    Acredita.
    Xi-coração.
    Fica bem,
    Flora

    ResponderEliminar
  2. Flora,
    Tem o dom da palavra ou da ajuda pela palavra, de certeza, porque sempre que leio um comentário seu sinto que as minhas experiências nao caem no vazio, que há alguém que as lê e que percebe o que sinto. Por tudo isso, um enorme obrigada!

    ResponderEliminar
  3. Bom dia,
    Quando te leio faço-o com coração de mãe e razão de avó.
    A sério, a minha mãe sempre me disse que devemos fazer aos outros o que gostaríamos que um dia fizessem aos nossos filhos.
    É mesmo só isso, ñ preciso de mais nada.
    Eu tenho uma filha com 16 anos.
    Se um dia alguém bater à tua porta acredito que saberás o que fazer, o que dizer ou mesmo o que não dizer.
    Fica bem
    Flora

    ResponderEliminar
  4. Olá! De vez em quando dou um saltinho até este blog e até já tinha lido este texto quando o publicaste. Mas ontem foi um dia horrível e tive que o ler novamente para eu própria também perceber porque é que ainda não desisti. A verdade é que ando no 2º ano de Medicina e este semestre está a ser o pior de todos. Reprovei a todas as disciplinas nos exames de 1ª fase e ontem comecei a 2ª fase. Reprovei, agora vou ter que repetir a disciplina no próximo ano... Naquele momento fiquei sem força nenhuma, sem vontade para continuar com o esforço para os três exames que ainda tenho. Neste momento o cansaço é muito, mas desistir não é a solução. Portanto, apesar da diferença entre nós revejo-me no que escreveste e a par do apoio da família e amigos, este texto também é uma força. Por isto, obrigada

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sofs,
      Fico realmente feliz pelas minhas vivências serem uma espécie de força para outros colegas, pessoas no geral, eu diria.
      O 2º ano é realmente complicado! O problema não é teu, é da mudança brusca entre o 1º ano e o 2º! Dizem que o 3º é o paraíso do curso e eu apoio, por isso pensa que daqui a pouco terás um aninho de "recompensa".
      Beijinho

      Eliminar