quinta-feira, 6 de abril de 2017

Paliativos

Cuidados paliativos são o quê afinal?
Bem, vou deixar aqui a minha definição baseada naquilo que senti, ao final da primeira semana de estágio nos cuidados paliativos no IPO do Porto.

Os Cuidados paliativos sao chocantes, emocionantes, humanizadntes, angustiantes, reconfortantes, tudo ao mesmo tempo. Foi isto que senti no primeiro dia de estágio, quando levei com a emoção que está por detrás de cada conversa, de cada relação medico-doente-família, como uma onda avassaladora.
A condição humana é incrível, cada vez me apercebo mais disso, e me fascina mais ser médica. Todos nós queremos ser amados, todos nós queremos morrer sem sofrimento, todos nós queremos sentir que naomestamos sozinhos. Há coisas que nos ligam a todos, e o final de vida trás muito disto que são as semelhanças humanas à flor da pele.
Cuidados paliativos existem para dar o conforto e retirar o sofrimento de quem está a morrer, e apoiar os familiares que ficam sem o seu ente querido, e como interna de medicina geral e familiar não poderia ser mais útil à minha formação pessoal e profissional. Quem me dera que um dia a nossa rede de cuidados continuados fosse tão boa, e houvesse tantos médicos tão competentes e à vontade a lidar com as questões de final de vida, que o hospital não estivesse cheio, como tem estado todos os dias.
O luto tem de ser feito por quem fica, muitas vezes por quem parte. E começa antes do falecimento habitualmente. Causa ansiedade, saber de ante mão que alguém que amamos vai deixar-nos. E esta ansiedade, quem cuida? Paliativos é prestar apoio psicológico, através de uma equipa multidisciplinar, aos familiares e ao doente. É ver que um doente que mal fala, consegue arranjar forças para pedir para ver um padre.
Paliativos é um desafio a tudo o que aprendemos em medicina. Aqui não se salva, cuida-se. É ver doentes a morrer ali, à nossa frente, é sentir paz e até um certo alívio por ele e não intervir par o tentar salvar, mas apenas garantir que vai morrer sem sofrimento. É aceitar o ciclo naturalmente vida e de morte, sem que isso nos cause dor a nós. No entanto, Paliativos é diferente de eutanásia, distância ou suicidio assistido. É ouvir um doente pedir no desespero que o matem porque já não aguenta ter cancro há tantos meses, e dar-lhe a mão em silêncio e depois dizer "não está sozinho...eu fico aqui consigo...".

Tem sido um estágio de muito trabalho, mas de um enorme interesse. É engraçado como eu, que durante toda a faculdade quis ajudar bebes a nascerem, estou agora fascinada e ainda atordoada com isto que é "ajudar a morrer com dignidade".

2 comentários:

  1. Olá! belo texto, conseguiste traduzir em palavras tudo aquilo que são Paliativos. Aconselho um livro/filme que exemplifica estas ações...As Terças com Morrie, ja ouviste falar? Beijinhos e bom estágio da tua colega de anestesia

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  2. Você escreve tão bem!! Parabéns pela sensibilidade. Sou uma vestibulanda, tentando uma vaga no curso de medicina no Brasil. Felicidades em sua carreira. Beijos

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