domingo, 8 de maio de 2016

E então?

Somos mesmo muitos internos em MGF, somos a especiliadade que mais médicos absorve por ano. Isso leva a alterações inevitáveis. Os estágios obrigatorios que antes eram de 3 meses, passaram a ser de apenas 2. Os exames finais a esses estágios, que habitualmente eram sob a forma de oral perante 2-3 especialistas, vão este ano passar a ser provas escritas, num só dia, igual para toda a região Norte. Alterações sao sempre alterações, e gostamos mais de lidar com aquilo que conhecemos na maior parte dos casos, mas não posso deixar de pensar que deverá ser mais justo assim... É provável que as notas desçam, e agora sim, vai parecer que voltamos à faculdade!, mas por outro lado, havia muitas discrepâncias nessas tais "orais".

O exame final de especialidade também foi efetuado de forma diferente este ano pela primeira vez. Agora é composto por discussão curricular, exame prático sem doente e um exame escrito de escolha múltipla de 100 perguntas, que segundo sei tinha uma bibliografia tão grande que nunca mais acaba, cheia de artigos, livros e cenas, que ainda por cima ao que parece lá se vão contradizendo. Foi um descer sem visto nas notas finais... Dos internos que se apresentaram a exame, haverá vagas para apenas 1/3 deles ficarem a trabalhar na zona norte...os restantes 2/3..nao sei... Podem ficar a trabalhar no sector privado, podem ter de mudar de casa e ir para outra zona do país, podem emigrar...São livres.

O impacto emocional que isto tem em mim é pequeno, muito sinceramente. Estou apenas no 1º ano, é provável que em 4 anos as coisas ainda mudem e voltem a remudar.
Tenho conseguido manter a minha sanidade mental no meio disto que já parece ser uma pequena selvinha de pessoas que lá se vão rindo umas para as outras, mas que no fundo devem andar a pensar "será que ele já tem mais trabalhos feitos do que eu?".
Seria muito fácil stressar com estes valores... Pensar que daqui a 4 anos apenas 1/3 dos que este ano entraram em MGF no norte, vão continuar por cá...e seria muito fácil entrar em desespero, tentar ter o melhor currículo de toda a região norte, ir a 10 cursos por ano... Acreditem ou não, todas as semanas são divulgadas jornadas, cursos, palestras, sessões clínicas, etc etc etc, que caem diretamente nos nossos emails... Tenho conhecido pessoas que dizem que é raro o fim de semana em que não têm um cursinho qualquer para fazer...
Decidi que não me vou deixar levar nessa corrente. Decidi que não vou fazer cursos que não têm interesse para a minha formação. Não vou realizar trabalhos em que eu não goste do tema. Vou ser fiel a mim mesma. Vou aos cursos de temas em que eu sinta necessidade de formação, para ser melhor, para saber tratar os meus doentes, não para "curriculite". Se vou ficar para trás? Provavelmente não, porque o espírito que me vai conduzindo dia a dia é humilde, e acho sempre que tenho de estudar mais, por isso lá vou eu fazendo imensas coisas ao mesmo tempo...

E toda esta conversa começou por eu dizer que somos mesmo muitos internos em MGF. É natural que não vá haver vagas para todos. Até lá, o que podemos fazer?? Acordar, dia a dia, e tentar ser o melhor médico de família possível, porque não temos a capacidade para mudar nem moldar nada.
Mais vale sermos felizes dia a dia.

8 comentários:

  1. Olá!
    Escrevo-te porque brevemente vou escolher a especialidade e porque estou cheia de dúvidas e inseguranças e MGF está nos meus planos.
    Estou indecisa entre MGF, endocrinologia e neurologia. Dentro destas as que gosto mais sao MGF e neurologia mas estou mais inclinada para a primeira. Contudo, agora que leio o que escreveste confesso que me invade uma onda de medo e desmotivação, sobretudo pela possibilidade de vir a não ter emprego.
    Por sua vez em neurologia as horas passadas no hospital chegam ao dobro do horário de trabalho e em muitos casos ultrapassam-no.
    Tens algum conselho para mim face a esta dicotomia?

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  2. Realmente... Cada vez me sinto mais assustada com este panorama. São os finalistas que não conseguem todos especialidade... São os especialistas que não conseguem todos emprego.
    O panorama é ligeiramente mais aflitivo quando se tem uma relação com uma pessoa também em Medicina, e a preocupação passa a ser a dobrar. Fico assustada com isto.

    Acho que fazes muito bem em distanciar-te destes pensamentos mais negativos e viver um dia de cada vez. Gostava de conseguir ser um pouco mais assim...

    Mas posso perguntar-te por que é que não consideras o enriquecimento curricular uma boa forma de tentar "safar" neste panorama?

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    1. Olá!
      Então:
      1º Sei o que é isso...eu escolhi primeiro que o meu marido e andei angustiadissima até a escolha dele, até saber que ficariamos bem.
      2º Não confundas o que eu escrevi. Eu não disse que não me interessava por enriquecer o curriculo. Disse que para mim não faz sentido pensar primeiro no curriculo, e depois nas vantagens que vou tirar desses cursinhos para a minha prática clinica diaria.

      "ou aos cursos de temas em que eu sinta necessidade de formação, para ser melhor, para saber tratar os meus doentes, não para "curriculite". Se vou ficar para trás? Provavelmente não, porque o espírito que me vai conduzindo dia a dia é humilde, e acho sempre que tenho de estudar mais, por isso lá vou eu fazendo imensas coisas ao mesmo tempo... "

      Tudo com moderação e crítica, foi o que eu quis dizer.
      Exemplo: este ano já fiz um curso de patologia respiratoria, em horario pos laboral 2x/semana. Isso implicou estar semanas sem ver muito tempo o meu marido. Mas sei que valeu a pena, porque era uma area que eu precisava mesma e entretanto já melhorei muito na clinica.

      Em termos de prova, e esquecendo os doentinhos por um bocado:
      A prova final é composta por 2 partes em que tens de mostrar o que sabes e 1 parte em que tens de mostrar o que fizeste...qual achas que deves investir mais?

      E mais ainda..como eu escrevi...eu não ache que esteja a ficar para tras...em apenas 4 meses já fiz mesmo muitas coisas. O que quis transmitir foi que as fiz por mim, pelos meus doentes, pelas pessoas a quem fui dar sessoes de educaçao para a saude na comunidade, e nao apenas e somente a pensar no bendito curriculo.

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  3. Olá!
    Olha o meu objetivo não era desmotivar ninguém, mas antes dar informação sobre as mudanças que inevitalmente vão surgindo. MAs isto é em MGF, que é a minha realidade, mas também nas outras especialidades! Há especialidades cirurgicas que passaram de 5 anos para 6, há pouco tempo, para garantir que os internos tinham os numeros minimos...
    Eu acredito piamente numa coisa e que até hoje não me tem deixado ficar mal: quem se esforça, quem é bom naquilo que faz, vai ter sempre um lugar, independentemente da especialidade! Independentemente se é no hospital ou nos centros de saúde.
    Vou dar-te um exemplo: a pessoa que me motivou, pelo seu exemplo, a ir para MGF foi umas das primeiras recém especialistas do norte a ficar sem vaga. Achas que isso a demoveu de ser sempre mais e melhor? Hoje tem contratao fixo numa urgencia, vai começar a fazer VMER, faz medicina do trabalho, vai começar uma pos graduaçao de avaliaçao do dano corporal... no meio disto tudo, tem uma familia linda, com quem tem tempo para estar! Só ficamos parados, se quisermos... Há sempre propostas de trabalho para quem o merece.
    Acima de tudo, escolhe com o coração. O resto logo virá. Quem te garante que vais ter emprego no final de 5 anos de Neurologia??? Ou de endocrino??? Ou do que quer que seja...

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  4. Sobre as horas de trabalho: nisso somos mesmo priveligiados. Fazemos 40 horas nas nossas USF e ponto final. Até porque depois as USF fecham.. =P
    Dependendo da zona onde faças o internato, mas na grande maioria dos locais, dessas 40 horas/semana, cerca de 5 horas são de "horário nao assistencial". São horas em que estás na USF mas estás a estudar, fazer trabalhos, fazer o estudo da lista, etc, etc. É um luxo isso!
    O meu marido está em Medicina interna. Faz as horas todas, as 40h e mais algumas, e tem de estudar e fazer os trabalhos em horas que não lhe são contabilizadas, em casa... Quem diz medicina interna, diz todas as hospitalares, segundo sei.
    Qualque duvida, deixa-me o teu email e respondo pra lá.

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  5. Olá. Sou Iac este ano e vou escolher agora em Junho. Se bem me lembro fizeste estágio de Psiquiatria no Hospital de Aveiro (e gostaste muito), gostava de saber se o internato é totalmente feito lá ou tens que fazer estágios fora, se sim, sabes quanto tempo?
    Já agora, recomendas Psiquiatria em Coimbra? E sobre Pedopsiquiatria, sabes alguma coisa? Desculpa tantas perguntas... imagino que percebas as nossas inquietações neste momento...
    Muito obrigada, ainda bem que estás a gostar, vais ser uma óptima MGF :)

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    1. Olá!
      Sim entendo, e acho um bocadinho mau terem de escolher já...
      Olha em Aveiro tens de fazer estagios fora, mas nao sao muitos...tens la o estagio de pedopsiquiatria, tens psiquiatria comunitaria... Podes fazer os estagios opcionais fora de aveiro e fora do pais, isso acho uma grande vantagem...
      Olha eu na altura não queria muito ir para Coimbra...considerei claro, por ja conhecer, mas nunca me agradou muito a ideia de trabalhar num hospital central...fazes mais noites, fins de semana inevitavelmente. Em Aveiro o SU psico é so das 8-20h. Claro que tem mais investigação e isso tudo, porque tem faculdade associada... há excelentes psiquiatras em coimbra, tens de te informar quem vai receber internos. E tens de ver que tipo de vida queres ter.. =)
      Pedopsiquiatria...muitas pessoas dizeram-me para ir antes para pedo em vez de psiquiatria, porque havia menos profissionais, ou seja, mais procura, mais privada e aos "18 anos eles tinham todos alta, nem que fosse para continuar na psiquitria..." LOL em termos de saídas, acho que está melhor, mas tenh medo de estar já desatualizada.

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  6. Sinceramente, foi um post bastante inspirador. Este é o único blog que sigo e sinceramente nunca pensei fazer um comentário pela simples falta de coragem. Num mundo já por si bastante competitivo, acabamos por escolher uma área em que a competitividade berra por todos os lados. E é assustador. É assustador pensar que o nosso trabalho até agora pode ser todo em vão. E dá vontade de agarrar a tudo e mais alguma coisa, não para fazer parte dos "melhores", mas simplesmente para não ficar para trás. Dá vontade de esquecer os anos de juventude e seres uma máquina... O teu post foi completamente inspirador nesse sentido. Vou ser o primeiro ano com o novo modelo de exame para aceder à especialidade. Se assusta? Como tudo... Mas por outro lado é algo que me ultrapassa. Decidi não me preocupar demasiado com isso e aproveitar o ano e meio que me falta ate ter que enfrentar efetivamente esse problema. Uma vez disseram-me "Há males que vêm por bem"... E cada vez penso mais nisso como uma filosofia de vida... O importante é estarmos bem e darmos o nosso melhor. Eu sei que no teu caso, eu não estaria feliz a fazer cursos e cursos só por currículo. E acho que estás a encarar todas as mudanças da melhor forma. Na verdade, daqui a 4 anos as coisas até podem ser mais favoráveis... Ou até pode ser que tenhas que mudar de lugar onde vives por uns anos. E então? Se calhar vai ser o melhor que já te aconteceu. Se calhar nem sequer vai ser uma possibilidade. Por isso, o melhor mesmo é tentar ser o melhor no dia a dia. E eu tenho a certeza que vais ser uma ótima MGF. E, por isso, obrigado, porque fazes-me não esquecer o tipo de médica que quero ser também :) A verdade é que entrei na faculdade com imensas expectativas, sem conhecer minimamente como funcionava o mundo adulto dos médicos. Mas tenho a certeza que vai tudo dar pelo melhor.

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