quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Interna do Ano Comum - a nova etapa

Todo o mar tem as suas horas de maior tormenta. A revolta, a sensação de injustiça, a ira, as fortes sensações, e porque somos animais e frutos da evolução, ativam as nossas amígdalas cerebrais (o "centro emocional") e, de repente, o fluxo sanguíneo deixam de irrigar tão intensamente o cortéx pré-frontal ("o centro racional"). Isto acontece para não deixarmos que o pensamento nos torne "vulneráveis" ao senso comum, e consigamos reagir sem pensar. É uma protecção muito, muito antiga. Péssima, na maioria dos casos, hoje em dia, eu diria. Acho que permaneci nesse estado de "inconsciência irracional", chamemos-lhe assim, durante estes últimos tempos. Ao começar o Ano Comum, falei com imensas outras pessoas que, tal como eu, dia 20 lá estiveram. Correu mal a muitos, correu bem a muitos. As estratégias de estudo foram as mais variadíssimas e há imensos colegas que repetiram o exame e que estão a reiniciar o Internato agora. Isto deu-me uma perspectiva mais afastada. Quando nos afastamos de uma determinada realidade, conseguimos ver mais coisas. É como quem olha fixamente e muito próximo para uma palavra de um livro. Se nos distanciarmos (e aqui esta palavra ganha uma conotação emocional), conseguimos ver toda a página, e aquela palavra que não fazia qualquer sentido, de repente tem contexto um contexto, um enquadramento. Portanto hoje, se tivesse de começar a estudar para repetir o exame faria diferente. Há sempre alguma coisa que podemos mudar e foi a minha revolta que não me deixou ver isso, ser humilde. Acho que chamamos a isso em gíria "orgulho ferido". À parte disso, ser interna do ano comum é uma sensação totalmente nova. Finalmente livramo-nos daquele título de "estudante de medicina" que por vezes não agrada aos doentes. Agora somos "médicos" e, como tal, acho que há uma abertura diferente. Comecei com o estágio de Cuidados Primários de Saúde, que engloba 3 dias de Medicina Geral e Familiar e 2 dias de Saúde Pública por semana. Tem sido gratificante saber que estou a trabalhar de verdade, que estou a ganhar dinheiro. Não fiz férias depois do harrison, mas sinto que finalmente agora estou a relaxar mentalmente (não pela falta de trabalho), mas por ter a cabeça realmente ocupada em coisas úteis. Deixei de remoer. Ganhei uma outra força. Aprendi com os muitos colegas mais velhos que conheci que repetiram o exame. Tracei uma estratégia.

6 comentários:

  1. E então? O que decidiste? Podes-nos contar?

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  2. Desde há alguns anos que acompanho o teu blog, em certos períodos mais noutros menos. De facto, já há mais de um ano que não vinha cá. Desde então muita coisa mudou, desde a saída do secundário, o ingresso num curso superior, a repetição dos Exames Nacionais e, finalmente, o ingresso em Medicina. Possivelmente, podes pensar que a semelhança é reduzida, muitos me disseram "entrar é fácil, o difícil é sair". No entanto, penso que consigo compreender o que sentes, em certa medida: o sentimento de "falha pessoal", o constante perguntar dos outros "então, não conseguiste?" e, por vezes, até a raiva de pensar que se calhar podia ter feito diferente, ter feito melhor. Por isso, neste momento, gostava de te deixar uma palavra de força: caso repitas o (mal)dito Harrinson, não estás sozinha tens aqui montanhas de leitores a torcer por ti; caso não o faças, dúvido que no final te sintas incompleta, afinal de contas, estamos aqui a "dar cabo da nossa vida" para que os outros sejam feliz e, isso, qualquer médico com paixão suficiente o consegue.

    Muita força e publica mais, é sempre uma para eu desculpa fazer um pausa em plena época de estudo! :)

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  3. Olá. Já acompanho o teu blog há algum tempo, entretetanto o último post que tinha visto era aquele em que dizias que não irias ter média para G&O... hoje lembrei-me de cá voltar para ver se estavas a gostar do ano comum... E vi então que recebeste várias dicas de colegas para o estudo do Harrison. Podes partilhar-las? :) Vou fazer o Harrison este ano e só comecei a estudar em Janeiro, agora vou fazer uma pausa para me dedicar à tese e estou a começar a ver o tempo a apertar *medo*

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    1. Olá!
      Olha aquilo que comprovei e antes não acreditava muito, é que cada pessoa é mesmo como cada qual... Há imensas formas de se estudar. Lições:
      1. não vale a pena estudar quando o cérebro não quer concentrar no que está a ler...é enganar-nos a nós mesmos.
      2. estudar só pelos slides das academias pareceu-me redutor, visto agora de uma outra perspectiva. Eu fiz imensas anotações, acho que não faltava nenhuma frase nos slides, mas ainda assim, o que tenho ouvido é isso.
      3. se gostas de pressão, não tens pelo que começar a estudar com um ano de antecedencia... cada um tem o seu ritmo.
      4. TER MUUUUITA FORÇA DE VONTADE E AUTODISCIPLINA!

      5. Ir lendo o meu blog... =P brincadeirinha!

      Boa sorte!

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  4. Decidiste repetir o exame?
    Eu estou numa situação semelhante... Fiquei com uma nota na casa dos 60 e precisava no mínimo de uma na casa dos 70... Ou seja, não sinto que a minha nota seja necessariamente má para deitar ao ar mas também olho para ela como um "morrer na praia".
    Não me identifico com nenhuma especialidade para a qual a minha nota dá, o que a torna muito limitante para os meus gostos pessoais. Mas também tenho muito mede de abrir mão da minha nota garantida e propor-me a repetir o exame... E se chego lá e me dá uma branca? E se fico doente nessa semana e não faço o exame com cabeça? E se surgem problemas pessoais/familiares que prejudiquem o meu estudo? Tenho medo de ir para lá com um 60 e muito e sair de lá com uma 30 ou 40... Não tens também esse receio?
    O que mais pondero agora é entrar numa especialidade com que me identifique mais ou menos e esperar gostar dela... Caso não goste, aí sim, já com uma vaga de especialidade assegurada, faria de novo o exame e tentaria dar o tudo por tudo para mudar de área. Claro que aqui entra o factor limitante do 5% das vagas correspondentes ao antigo concurso B... O que me obriga sempre a tirar uma nota fenomenal para poder mudar de área. A vantagem é que assim, caso o exame corra menos bem, continuo na tal especialidade escolhida anteriormente e escuso de repetir o ano comum em vão...
    Achas que estou a pensar bem? É bom saber que há mais gente com as mesmas indecisões que eu... Se me pudesses expor o teu ponto de vista acho que nos poderiamos ajudar mutuamente :)

    Beijinho

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