quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

"Sindrome do Diagnóstico Familiar"

O nome é inventado, mas acho super adequado. Vou então explicar-vos quais os sintomas cardiais deste sindroma:
  • um familiar vem ter connosco e diz, por exemplo, "dói-me aqui", apontando para o peito
  • nós, que até já andamos no 4º ano de medicina e já sabemos algumas coisas dizemos "oh...eu sei lá a razão para te doer ai...ainda não dei isso..." ou "oh, isso não é nada..." especialmente se estiver a dar aquele programa espectacular na televisão.

No ano passado, quando fiz propedêutica médica, aproveitei o facto da minha professora ser uma interna super jovem e simpática para lhe perguntar a sua opinião sobre o meu emagrecimento sem causa aparente. Ela respondeu "eu poderia falar contigo agora, mas é melhor marcar uma consulta externa e vens cá com calma" e eu assim fiz.No dia da consulta, das primeiras coisas que ela me disse foi: "se alguém te pedir uma opinião seja pelo que for, familiar ou amigo, manda marcar uma consulta, ou marca uma hora especifica para o ouvires, senão cais na tentação de dizer «isso não é nada»..."
Naquele dia pensei: "que bom conselho que recebi hoje, desta já não me esqueço..."

Pois é, hoje aprendi mais uma lição que considero muito importante partilhar. (Já se devem ter apercebido que admitir os meus erros e defeitos não é problema para mim.)

A minha mãe andava a queixar-se de dores tipo queimadura no peito, apontando ela para o trajecto do esófago. Eu, despreocupada, disse-lhe vezes sem conta que não deveria ser nada... Hoje ela liga-me a contar que foi à medica de família e que se queixou das mesmas dores... E acrescentou "a médica perguntou se eu tinha azia e eu disse que sim, tenho sempre muita azia"... Nesse momento a minha campainha interna tocou! Tinha 95% de certeza de ter encontrado o diagnóstico... E ela continuou: "e ainda disse à doutora que quando vou para apertar os atacadores das sapatilhas a dor aumenta"... E aí tive 99% de certezas: era doença do refluxo gastro-esofágico.
E imediatamente uma voz perguntou na minha cabeça: "mas porque raio não fizeste tu estas perguntas tão simples à tua mãe? Tinhas diagnosticado a doença em 5 minutos e ainda lhe sabias dizer qual a terapêutica e prognóstico da mesma... Já estudaste isto em propedêutica cirúrgica, em cirurgia digestiva, em gastrenterologia..." E senti-me incrivelmente estúpida!

A resposta já vocês perceberam: não perguntei porque era a minha mãe...porque pra mim a minha mãe ou qualquer outro parente não tem doenças... Porque custa ter de colocar em cima da mesa as várias opções diagnosticas, com medo do que se possa encontrar... É mais fácil dizer "eu não sei" do que pensar "nem quero saber o que poderá ser..." Sim, é mais fácil, mas é também um terrível erro!

2 comentários:

  1. A sabedoria vem com os anos, mas a inteligência já nasce connosco. Vejo em si o futuro da Medicina no nosso país. Também tenho esse sonho e ainda o procuro. Tenho tentado ano após ano entrar pelo estatuto de licenciado, mas não me tem sido possível. Estou a pensar candidatar-me à Universidade do Algarve. Do que ouviu no seu curso, qual é a opinião geral dele? Desejo-lhe as maiores felicidades e espero nunca ter de ser tratado por si, seria mau sinal ;)

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  2. Ola Francisco!
    Muito obrigada pelo apoio e os bons votos. São recíprocos.
    Bem, pediu uma opiniao e vou ser sincera: os estudantes de medicina de coimbra, de uma forma geral, sublinho, são contra a abertura do curso de aveiro e do algarve. Daqui a poucos anos, muito poucos, não haverá vagas para todos os médicos fazerem o seu obrigatório ano comum... Abrir mais faculdades, onde se tira o curso em 4 anos, não trás credibilidade para si, como futuro profissional, nem para o país. com o crescente aumento do numeo clausus por faculdade, ainda menos justificavel se torna a abertura desses cursos nas referidas faculdades. Não é por mero acaso que o curso de medicina é formado por 6 anos desde os inicio dos inicios... De facto é necessário treinar o raciocínio clínico, fazer muitas em muitas historias clínicas, e menos 2 anos acho fatal.
    Se quer a minha sincera opiniao, acho que o melhor que tem a fazer é dedicar-se ao estudo da bioquimica, da matematica e da biologia e fazer os exames nacionais e concorrer as melhores faculdades do país.
    Obrigada pela atençao, disponha sempre para qualquer dúvida.
    J. Castro

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