Passou pouco mais de uma semana, embora pareça já quase um mês. Às vezes parece que nunca aconteceu ou já foi há anos, talvez um sonho. Desde então, já dei voltas e mais voltas às possibilidades que existem. Admirei várias vezes a lista de especialidades com que posso entrar com a minha nota, acho que na esperança e desespero urgente de me apaixonar verdadeiramente por alguma. Quando parece que posso decidir-me por uma, atacavam-me as dúvidas...
"Como poderias ir para Psiquiatria se és uma pessoa tão cirúrgica? Sim, é verdade que a complexidade cerebral te fascina, te deixas envolver pelo diferente das pessoas, adoras observar... mas...e o bloco cirúrgico? a sensação de teres começado e acabado alguma coisa numa só manhã?"
"Vais voltar a repetir o exame? E se correr pior? Agora ainda tens muitas opções mas se correr pior pode ser que nenhuma te sobre...e cada vez será mais difícil entrar numa especialidade, porque já não há vagas para todos..."
"Não faças nada, esta nota se calhar vai dar para entrares, porque dizem que o exame foi muito difícil e muitas pessoas tiraram muito abaixo do que tu tens, por isso pode ser que entres..."
Este último magoa mais, é o pior de todos os pensamentos que tenho, porque transmite-me esperança irrealista.
Em última análise, eu sei que isto não é problema racional, e por mais que analise ou repense, não chegarei a uma conclusão. Isto é um problema emocional: o que eu sinto, o que me faz mais feliz. Sempre tive esta mania de racionalizar tudo, porque o raciocínio diminui a dor. Não sou de todo uma pessoa fria, mas construí esta auto-defesa há muito tempo.
Estive muito envolvida e embutida em mim mesma nesta semana e parecia que nada teria solução...até que ontem foi o grande dia de fazermos o Juramento de Hipócrates - o pai da Medicina.
O discurso do Bastonário da Ordem dos Médicos foi duro, mas verdadeiro - adorei ouvi-lo. A história de vida que o Bispo Ximenes Belo (Prémio Nobel da Paz em 1996) contou sobre os médicos que foram para Timor, fez com que o mundo parecesse melhor.
Depois de muitos nomes, chamaram o meu para ir receber a minha cédula profissional, e já não havia tristeza ou medos sobre o futuro. Deve ter sido daqueles poucos momentos em que a mente está livre, vive-se o presente e ali, naquele meu presente, só conseguia ter orgulho do percurso terminado. No final do nosso Juramento, a lágrima no olho e a enorme vontade de começar a trabalhar e continuar a aprender.
Hoje decidi partilhar o que jurei ontem, e dizer que entendi que mais importante que ser isto ou aquilo, será honrar estas palavras, independentemente da especialidade que faça depois, porque foi exatamente por isto que entrei em Medicina...
"No momento de ser admitido como Membro da Profissão Médica:
Prometo solenemente consagrar a minha vida ao serviço da Humanidade.
Darei aos meus Mestres o respeito e o reconhecimento que lhes são devidos.
Exercerei a minha arte com consciência e dignidade.
A Saúde do meu Doente será a minha primeira preocupação.
Mesmo após a morte do doente respeitarei os segredos que me tiver confiado.
Manterei por todos os meios ao meu alcance, a honra e as nobres tradições da profissão médica.
Os meus Colegas serão meus irmãos. Não permitirei que considerações de religião, nacionalidade, raça, partido político, ou posição social se interponham entre o meu dever e o meu Doente.
Guardarei respeito absoluto pela Vida Humana desde o seu início, mesmo sob ameaça e não farei uso dos meus conhecimentos Médicos contra as leis da Humanidade.
Faço estas promessas solenemente, livremente e sob a minha honra."
Prometo solenemente consagrar a minha vida ao serviço da Humanidade.
Darei aos meus Mestres o respeito e o reconhecimento que lhes são devidos.
Exercerei a minha arte com consciência e dignidade.
A Saúde do meu Doente será a minha primeira preocupação.
Mesmo após a morte do doente respeitarei os segredos que me tiver confiado.
Manterei por todos os meios ao meu alcance, a honra e as nobres tradições da profissão médica.
Os meus Colegas serão meus irmãos. Não permitirei que considerações de religião, nacionalidade, raça, partido político, ou posição social se interponham entre o meu dever e o meu Doente.
Guardarei respeito absoluto pela Vida Humana desde o seu início, mesmo sob ameaça e não farei uso dos meus conhecimentos Médicos contra as leis da Humanidade.
Faço estas promessas solenemente, livremente e sob a minha honra."