Apesar de ter sido super bem acolhida na casa onde estou a viver com outros jovens, e apesar de conhecer a língua espanhola relativamente bem, ainda assim não pude deixar de sentir diferenças, um certo choque.
Estava claramente mal habituada. Passei de uma residência universitária onde vivia com mais 20 raparigas, com uma cozinha enorme completamente equipada e 5 wc's e uma lavandaria com 3 máquinas de lavar, para uma casa com poucos metros quadrados, onde a cozinha é tão diminuta que 2 pessoas já é demais, e o único pequeno wc que existe é partilhado por 4 pessoas. Senti-me ligeiramente claustrofóbica.
A primeira semana passou devagar, porque não havia objetivos. Cada dia tinha a sua própria liberdade. Aproveitei para fazer uso da biblioteca da faculdade e adiantar um pouco o estudo, fui visitar Granada e a Sierra Nevada e não me dediquei mais à exploração de Córdoba porque foram poucas as horas que não choveu.
Depois a 2ª feira finalmente chegou e senti-me como se fosse para o primeiro dia da escola primaria. Tantos "ses" e expectativas...
Os meus novos colegas espanhóis revelram-se ao longo dos dias pouco afáveis, tirando unas raras excepções. A rapariga com quem mais falo (e são apenas uns minutos de conversa antes de começar a sessão clínica das 8h30 no hospital) é ERASMUS também...ou não fosse a força das circunstâncias unir as pessoas. As restantes, com o seu grupo de amigos tão bem definidos, assim ficam. Mas tudo bem, adaptei-me facilmente a essa nova situação.
Fomos distribuídos aleatoriamente pelos diversos serviços de Pediatria, e eu fiquei na Medicina Intensiva Pediátrica. O primeiro implacto foi...formiga-like. Não conhecer ninguém, estar sozinha no serviço sem outro aluno, e ainda por cima numa intensiva. A minha rotina matinal inclui levantar as 7h, sair às 7h45min, caminhar até ao hospital cerca de 35 minutos, assistir à sessão clínica das 8h30-9h30, subir até à intensiva, outra reunião de serviço das 9h30 às 10-10h30 e depois começamos a ver as crianças e a fazer o que é necessário até às 13h. Era aqui que queria chegar, à parte de existir uma reunião de serviço na intensiva:
- Primeiro dia: fiquei exausta. Tive o tempo todo a fazer uma enorme esforço para tentar decifrar o que diziam, porque falavam tão rápido aqueles termos médicos todos que em português já não são fáceis... Dava por mim com o cérebro desligado de 5 em 5 minutos e voltava a obrigar-me a estar atenta, a tentar ouvir e traduzir o que se falava...
- Segundo dia: parecia que o espanhol já era a minha segunda língua! Já não me custava nada, era directo...
Ao longo dos dias da semana que passou e esta, fui criando mais confiança com as pessoas do serviço e ficando cada vez mais à vontade. Estou a gostar imenso. É incrível o quando se pode aprender, bastando mudar o cenário... Eu não gosto particularmente de Pediatria e era daqueles estágios que não queria nada fazer... Mas mudando esse tal cenário, não me importo de me levantar cedo todos os dias, porque sei é que vai interessante, muito prático, muito interactivo. O médico meu tutor é super bom professor, faz imensas perguntas, explica tudo, faz com que me sinta inteirada da situação. Os internos de especialidade que por lá andam são todos super simpáticos e acolheram-me bem. Em termos de experiência "profissional", não poderia estar a gostar mais.
Entretanto também já deixei de me sentir claustrofóbica...o meu quartinho é o meu larzinho pequeno e sinto-me bem aqui.