domingo, 16 de dezembro de 2012

Clube do Estudo

Estudar sozinha não dá. Distraio-me mais comigo mesma, perdida nos meus pensamentos, do que com outros pessoas em redor. Bibliotecas são optimas para mim, mas irrito-me facilmente com a quantidade de pessoas que reservam lugares sem o poderem fazer, impossibilitanto o estudo a pessoas que se levantaram cedo...detesto esse tipo de comportamentos egoístas e quando dou por mim, estou a roemer isso.
Roupa quentinha e confortável, com o robe por cima e pantufas é o melhor! Leitinho com café ao lanche e uma torradinha. Conforto, portanto, é outro dos ingredientes que não pode faltar. Mas não em excesso, senao adormeço!
Estudar com os melhores amigos, também não funciona! Porque há sempre alguma coisa mais interessante para se conversar do que a matéria, especialmente se forem matérias que temos pouco interesse! Quando damos por nós, já falamos de mil e uma coisas, já passaram horas, e nós ainda no mesmo slide da aula...
Por isso faqui há algum tempo uma entidade chamada "clube do estudo". Algo que de concreto pouco tem, que permite a mudança constante de membros e que apenas tem como objetivo ajudar-me a rentabilizar o meu estudo. Consiste em algo relamente simples: convidar uma colega para o meu quarto. Alguém que eu goste, mas que não faça parte daquele grupo de pessoas que estão na mesma turma ou ano, para não termos muito para comentar sobre o que se passou ou deixou de passar. No máximo 3 pessoas, comigo incluída. Como eu não quero prejudicar o estudo dos colegas, não "meto conversa". Como os outros estão a estudar, eu penso: "tu também podes aproveitar para estudar" e a verdade é que rende imenso o tempo! Ter alguém para tirar dúvidas pontuais ajuda imenso! Então isto é o meu "clube do estudo". Com horas próprias, com regras e com motivação! E pronto, são 14h15...horas de recomeçar!

sábado, 15 de dezembro de 2012

Última semana do 1º semestre

É um bocadinho triste ver as pessoas de outros cursos fazerem as malas e dizerem "boas férias". De facto, com 15 dias de pausa antes dos exames, podem ainda viver um Natal descansadas, porque há tempo para o estudo e para a família.
Para mim, este ano, vai ser precisa uma ginástica maior, porque só tenho 1 semana de pausa, que não poderei chamar de férias. Dia 3 de Janeiro tenho o primeiro exame - Obstetrícia (e posso citar uma frase do professor que resume tudo: "para as outras cadeiras não sei, mas olhem que para a minha cadeira precisam no mínimo de 6 dias de estudo, isto já contando que estudaram durante o ano..." e o pior disso é saber, pelos colegas mais velhos, que é verdade!)
Na próxima semana, na 5ª, tenho oral de Pneumologia. A minha cultura pneumológica neste momento não é muito grande! Acho que nunca simpatizei muito com os pulmões! Não têm culpa nenhuma coitados e são fundamentais para eu estar viva, mas não o acho lá muito interessantes! Mas isso na verdade pouco interessa: 5ª feira tenho de saber falar de tudo e ponto final!
E pronto, vou estudar!

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Porque devo continuar? (Parte 2)

É muito confortante ir verificar o e-mail e me aperceber que pessoas anónimas, talvez próximas quem sabe, outras de outros países, vieram ler algo que escrevi e deixaram um comentário cheio de força, como um empurrão simples que muitas vezes me faz tanta falta.
A todas essas pessoas: um sincero obrigada!

Aquilo que o meu último post transmite é muito claro e muito comum: cansaço, dúvidas. Perguntas como: "mas afinal ando aqui a investir nos meus melhores anos e onde estão as garantias que vou ter um lugar para mim, que vou ser feliz?"
Todos os seres humanos desejam o mesmo e é engraçado pensar assim de uma forma generalista - encontrar a felicidade. É até irónico como muitas vezes vamos na rua e olhamos alguém e criticamos a sua roupa ou notamos que há algo que parece merecer a nossa atenção. Fazemos juízos de valor constantemente, sem muitas vezes nos lembrarmos que afinal andamos todos atrás do mesmo...
Durante este tempo que fiquei sem escrever não fui a nenhuma sessão de zazen mas meditei bastante sobre a pergunta que deixei aqui "porque devo continuar?".
Permiti-me perguntar coisas de todos os ângulos:
"Quero ginecologia porque realmente quero isto para a minha vida ou só porque preciso pensar numa especialidade cuja nota é alta para ter forças para estudar?"
"Da mesma forma, porque coloco a hipótese de psiquiatria? Porque estou cansada demais para fazer algo cirúrgico?"
"Mas afinal, o que me trouxe a medicina é o mesmo que me faz manter-me cá ou os meus desejos mudaram?"
"Como me parece que serei mais feliz?"

Encontrar respostas não foi fácil. Exigiu da minha parte que me auto-avaliasse de repente, nos momentos em que até eu mesma não sabia que poderia estar a ser observada pelo meu inconsciente. Tentem imaginar um psicólogo dentro da minha cabeça - eu mesma - que me questionava inesperadamente coisas simples como: "porque achas que acabaste de pensar isto?" "porque estás a sentir isto?"

Mas concluí ao final destes dias que estou em medicina porque continuo a querer dedicar a minha vida aos que perderam a sua saúde, ou aos que querem trazer à vida outra vida. Quero Ginecologia/Obstetrícia não para me auto-incentivar mas porque seria realmente realizada. Coloco a hipótese de Psiquiatria porque me fascina esse mundo, aliado ao mundo das neurociências. Porque sei que poderia fazer algo realmente útil - poderia até quem sabe trazer muita gente à felicidade. Continuo aqui porque apesar de muitas vezes dizer "oh, vou é trabalhar para o Pingo Doce", na verdade não é isso que quero para mim.
Cansaço e insegurança - dois inimigos a combater na faculdade, foi isso que concluí!

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Porque devo continuar?

Há dias em que realmente me apetece desistir de Medicina e escolher algo mais simples, mais directo. Algo que não exigisse tirar um curso de 6 anos e na recta final fazer um sprint final com o exame de especialidade. E depois continuar e tirar mais uma especialidade de 5 ou 6 anos... Olhando o panorama futuro de trabalho e horas de sono perdidas, sinto-me cansada por antecipação. Hoje foi um desses dias...
Aliado ao trabalho que o curso exige, por vezes sinto que ando cá há 5 anos e nao sei o básico das coisas! Sinto-me uma má estudante, e uma futura má profissional. Dito isto assim, aqui na internet, arrisco-me a não ter doentes que confiem em mim um dia mais tarde, mas tudo bem...é um risco que prefiro correr ao invés de deixar de escrever o que se passa.
Olha para o calendário e ver que faltam 3 semanas para terminarem as aulas também não é encorajador... Dentro de muito pouco tempo começa o tempo onde é pedida mais força mental, mais confiança, mais garra (a época de exames, que este ano se resolveu encurtar de 1 mês e meio para um mês, ou seja, menor intervalo entre provas).
Normalmente fazem comentários e pedem ajuda sobre algumas questões no curso e até mesmo no secundário. Hoje sou eu que peço ajuda. No final de tanto esforço, será que vou olhar para trás e ver que fiz o percurso certo e serei feliz no meu dia a dia? Isto melhora com a prática clínica? Podemos realmente salvar pessoas? É possível realmente abarcar tanto conhecimento e saber usá-lo no momento certo? E tudo isto não deixará de lado a vida familiar e pessoal que sei que será tão importante para mim?
Porque devo continuar?

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Tese de Mestrado

Hoje estive a fazer a base de dados no SPSS com a minha tutora, estivemos a ver quais os questionários que teriam de ser rejeitados (por incorrecto preenchimento) e, ao contrário do que pensava, só foram colocados de lado 3. Após uma intensiva luta para convencer 400 pessoas a preencher um (grande) questionário, consegui juntar 350. O mínimo seriam os 300, por isso ter 50 extra foi muito bom!
Agora vem a parte 2 do trabalho: fazer o re-teste, que consiste em voltar a aplicar partes do questionário original (cujas escalas não estavam validadas para português) a cerca de 150 das pessoas que participaram inicialmente.
Uma vez que esta amostra, à semelhança da primeira, é uma "amostra por conveniência", isso facilita imenso a distribuição, porque já sei à priori quem está 100% disponível para voltar a participar.
Ter uma irmã grávida em casa tem as suas vantagens: pretendo escravizá-la! Vá, não é bem escravizar, é mais "arranjar um excelente passa tempo" - inserir dados no SPSS!!!! (brincadeira)
Com aproximadamente 300 itens por sujeito, só tenho de inserir 300 x 300 resultados....e acho que prefiro esquecer este cálculo para não desistir já da tarefa!

Em resumo: após algumas pausas e percalços vejo finalmente esta tese a avançar!

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Budismo

"Não se apresse em acreditar em nada, mesmo se estiver escrito nas escrituras sagradas. Não se apresse em acreditar em nada só porque um professor famoso disse. Não acredite em nada apenas porque a maioria concordou que é a verdade. Não acredite em mim. Você deveria testar qualquer coisa que as pessoas dizem através de sua própria experiência antes de aceitar ou rejeitar algo."

(Siddartha Gautama, o Buddha, Kalama Sutra 17:49)

Quando comecei a ganhar algum discernimento espiritual, pouquíssimo diga-se, porque o meu caminho ainda é longo, haviam determinadas coisas que me haviam sido ditas que não conseguia compreender. Acreditava no que tinha sido ensinada a acreditar. E posso dizer sem remorsos ou vergonha que acreditei com taaaanta força...
Não sei como começou a mudança, não sei ao certo quando deixei de ouvir o que me repetiam para passar a ver as coisas com o coração, mas algo aconteceu. Talvez tenha racionalizado o Deus que me queriam impor, e tenho a certeza que passei muito tempo a pensar sobre o assunto. Comecei a ler livros sobre outras visões e iniciei uma caminhada diferente. Fui a algumas sessões de Meditação (Zazen) e um dia, num conversa, um amigo budista que já faz zazen há muito tempo disse-me "oh, estas no ponto sem retorno...a solução é continuar a caminhar." E eu assim fiz. Continuei a ler, a confrontar a minha inteligência.
Todos aqueles medos que me impediam de admitir que não concordava com a maioria dos mistérios do Cristianismo foram desfeitos. Neste contexto, acho que a frase de Buddha se adequa perfeitamente ao que penso que se vive por esse mundo fora: fomos habituados a acreditar em determinadas coisas sem as questionarmos e sem conhecermos o seu autor. Quem conta e reconta um conto, acrescenta sempre um ponto, já se diz há muito e a pessoa que dizem ter criado o Cristianismo, afinal era um dos mais rigorosos Judeus. De onde nasceu o Cristianismo então? 
Percebi que a imagem que criaram de Deus não é a imagem que vejo e hoje.

Aliado a isto começou a aumentar o conhecimento sobre um filosofia de vida tão simples e tão peculiar que me apaixonou e me respondeu a todas as dúvidas.  Hoje, sem qualquer dúvida, posso dizer que me converti ao budismo zen.
E porque isto é um blog de uma pessoa em tudo igual às demais, muito antes de ser estudante de medicina, não pude deixar de escrever o que sentia, fora de um contexto escolar. Perdoem-me se firo susceptibilidades, mas não é esse o objectivo. Como diz Dalai Lama, é importante respeitar todas as religiões porque no fundo todas buscam o mesmo - a felicidade.


Curso de Autismo

Hoje venho escrever como escapatória à minha própria mente.

Hoje estive todo o dia no Pediátrico, a fazer um curso sobre o Autismo. As palestras alongaram-se e não soube lidar de modo correcto com a situação. Acabei por não ouvir metade do que foi dito depois da hora. Como se os meus ouvidos tivessem programados para estar atentos até às 13h; como se esticaram até às 14h eles fecharam. Aliado a isso, uma enorme irritação. Quando me encontrei com os colegas para o almoço e eles me perguntaram se tinha gostado creio que respondi algo tipo: "atrasaram-se! e agora só vou ter 1h de almoço! cortaram meia hora!...ah sim mas gostei"...

Ao início da tarde o momento auge foi termos a presença física de uma família de 5 elementos, em que o filho mais novo tem autismo com défice cognitivo associado. Foi um momento maravilhoso, devo dizer. Eu família perfeitamente unida, feliz dentro das suas limitações. A criança era um encanto de simpatia... E ter ali dois pais a contar como é o dia a dia e quais as dificuldades e alegrias com que lidam fez-me pensar que a vida é incrivelmente simples e bela, se a nossa intenção diária for vê-la desse modo.

Mais pelo final da tarde, a mesma situação e o mesmo sentimento - "mas que raio! não sabem ter horas" porque voltaram a passar da hora. Vim embora a pensar que não estava a gostar daquilo assim e deixei de dar importância e relevo ao que realmente fez sentido hoje - aprender coisas sobre o autismo, entender através de vídeos como são essas crianças e ter a oportunidade de ver uma família real, com rugas e cabelos brancos e dúvidas e medos como todos nós.

Agora, sentada em frente ao computador a escrever-vos isto, percebo que me falta imenso o dom da paciência e da tolerância, e não posso deixar de culpar o ambiente que tenho vivido por isso. Dalai Lama dizia: "Aprimorar a paciência requer que alguém nos faça mal e nos permita praticar a tolerância." mas creio que isto é incrivelmente difícil... Indirectamente, acabei por descarregar as frustrações do quotidiano naqueles atrasos no cumprimento do horário do curso.
Na verdade, tenho-me sentido cansada de partilhar uma casa com tantas meninas. Estava a precisar do meu cantinho, do meu espaço... Como as possibilidades económicas não o permitem, tenho de viver com 19 pessoas completamente diferentes de mim, que não têm a mesma ideia que eu sobre respeito e educação. Não raras vezes me apanho a pensar nos critérios de diagnóstico de uma personalidade dependente ou anti-social e dá-me vontade de voltar às aulas práticas de Psiquiatria onde, por comparação, tínhamos a certeza que somos normais.

E penso: "sou só eu que sinto isto ou toda a gente quer o seu mundo de vez em quando?

Amanhã volto ao Pediátrico para mais um intensivo dia. prometo não me deixar irritar com insignificâncias.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Socorrismo e outras novidades

Alguém que costuma ler o meu blog, ao encontrar-me online no Facebook dizia: "então, já não escreves nada há muito tempo..." e eu respondi "já lá vou"...e entretanto passaram-se quase 2 semanas.
E foram duas semanas bastante intensivas.

Com a "reciclagem" do curso TAT da Cruz Vermelha, passei os últimos dois fins de semana inteiros a ter formação teórica e prática. Voltei a pisar os joelhos e as mãos de tantas compressões cardio-torácicas fazer (se querem ter uma paragem cardio-respiratória à minha frente, agora é o momento ideal), e servi de vítima tantas vezes para o pessoal "novo" que fiquei com os músculos das pernas todos massacrados.
Após duas avaliações práticas e uma teórica, e mais uns turnos de INEM pelo meio, lá consegui terminar o curso e essa etapa esta finalizada.
Meia louca, ou prudente, conforme o ponto de vista, comecei a fazer o "Curso de condução básica" de ambulâncias. E ainda cheguei a ter 3 aulas. O suficiente para perceber as diferenças entre o tamanho de uma carro ligeiro e um veículo de emergência. Entretanto percebi que não tinha absolutamente mais tempo... Chamo-lhe mesmo condução básica, porque o resto do pessoal continuou e já anda a treinar a condução em emergência (coisa, diga-se, que comigo resultaria em mais vítimas do que socorridos)!

Posso partilhar convosco que pensei desistir da Cruz Vermelha. É tudo muito bonito, mas não é fácil arranjar tempo e sobretudo, disposição, para sair de casa para 8h de turno semanais... Com a chegada do tempo frio as coisas pioram substancialmente. E na altura ainda tinha o curso TAT para repetir e isso deixava-me incrivelmente preguiçosa, com vontade de abrandar o ritmo alucinante das minhas semanas...
Depois, num dos turnos que fiz, uma velhinha muito querida que fomos socorrer por dispneia severa, no caminho para o hospital perguntou: "menina, eu vou morrer?". Posso dizer que me senti muito, muito bem  por poder dizer "Não, não vai...estamos a chegar...", enquanto lhe acariciava o rosto e lhe apertava a mão e ver nos seus olhos alguma sensação de alívio. Foi como um relembrar das razões que me levam àquela delegação, semana após semana.

Quanto a tudo o resto, as novidades são as seguintes:
  • a minha sobrinha virou sobrinho na última ecografia. Digamos que era tímido e assim conseguiu enganar a mim e a 2 médicas experientes.
  • tenho uma nova colega de quarto, que gosto muito. Já conhecia, e tem sido tudo óptimo.
  • pretendo realmente fazer ERASMUS no próximo ano; locais e etc ainda está a ser estudado, mas esta é a última oportunidade e não vou voltar a adiar, até porque se adiar, será para sempre.
  • uma vez que o projecto "Interrail" vai mesmo para a frente, pretendo ganhar uns trocos extra na latada, na bilheteira...espero ter sorte e ser seleccionada.
  • iniciei um novo puzzle - um antigo hobby perdido até então - de 2000 peças e montes de bonequinhos engraçados, num hospital de loucos!

domingo, 16 de setembro de 2012

Início diferente!

Chegamos a um certo ponto que pensamos "oh, lá vamos nós para o mesmo...". Na verdade, este ano, o início tem sido bem diferente. A começar cá por casa...
Aquela residência com uma ala super silenciosa, onde havia regras de respeito mútuo e consideração pelas horas de sono das outras pessoas, onde havia listas de limpeza de forma a garantir que tudo andava em bons rumos, já não existe! Encontrei ao chegar uma ala repleta de pessoas estrangeiras, praticamente sem quartos individuais (ou seja, muito  mais pessoas para o mesmo espaço), muita suja e sem ordem.
As coisas que coloquei no meu armário da cozinha iam desaparecendo à minha frente. Pousava um prato e alguém pegava nele como se aquilo fosse do "povo"... Cheguei ao cúmulo de deixar um bilhete dentro do meu próprio armário a dizer em inglês: "não usar estas coisas!" Deixei o pano de fora, pendurado, como sempre... Devia ter colocado o pano da louça lá dentro também, porque não tardou a desaparecer.
Durante a primeira semana acordei várias noites seguidas às 3h da manhã, hora a que "elas" chegavam a casa. Chegar a casa tarde não costumava ser motivo para acordar as restantes colegas, mas isso era "dantes"!

Agora falam-se imensas línguas por aqui, mas o inglês reina, claro, incluindo dentro do meu quarto, que estou a partilhar com uma Italiana. Escusado será dizer que trouxe o meu dicionário para Coimbra... Não posso negar que tem sido um bom treino, mas qualquer que passe no corredor no momento em que estou a falar percebe que a minha colega não deve entender nadinha... (exagero meu, porque temos tido longas conversas... o tempo passa enquanto penso em como se diz as coisas)

Aquelas famosas duas semanas de faculdade que não se faz nada a não ser "apresentação"? Não foi bem assim... O regente de Cardiologia achou por bem alterar o método de avaliação e torná-lo verdadeiramente bolonhês, coisa óptima, na minha perspectiva. A questão é que agora temos de ler semanalmente capítulos de Harrison para conseguir responder a umas perguntas que ele disponibiliza e que são debatidas nas aulas práticas. Como em sorte me calhou, já na próxima semana, responder às questões e apresentar o trabalho, não tive um arrancar de estudo muito tranquilo.
Idem aspas para a regência de Obstetrícia que, com o seu discurso de "vamos lá estudar todo o ano" me fez ter gosto para fotocopiar o livro recomendado (coisa que não deveria dizer aqui, não é verdade?)

Também tive de ir incomodar as aulas de Epidemiologia do 4º ano, apelando ao preenchimento dos questionários para a minha tese de mestrado. Uma estratégia menos agressiva foi usada para o pessoal do 5º ano, mas não sei bem porquê, eles têm levado os questionários para "preencher depois" e não os devolvem! Não posso negar que eles são grandes, provavelemnte um pouco "seca", mas "epah que raio!" - trata-se da tese de mestrado de duas colegas e mais vale dizer que não querem colaborar, do que serem simpáticos e depois não devolverem as coisas! Parecendo que não, são 400x5 folhas que foram impressas e isso custou muito dinheiro!


Outra coisa diferente, embora um pouco insignificante, foi ter carro em Coimbra. E pode dizer-se que faz immmmmmmenso jeito, especialmente com este calor. Não é de todo um bem de primeira necessidade, mas sempre deu para compensar as boleias que vou pedindo aos amigos durante o ano.

E agora, também pouco ortodoxo da minha parte, aventurei-me na compra de mais um livro escrito em ingles (um ingles verdadeiramente complicado para o meu nível) e portanto, vou ler! (Algo que também só costumava fazer em férias).

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

(em resposta aos comentários)

REACÇAO À MORTE

É verdade que sobre morte, sobre assistência ao doente e à família nos últimos momentos de alguém, pouco se fala, quer social quer academicamente. A maioria das pessoas, eu inclusive, prefiro adiar a realidade de que poderemos todos morrer de um momento para o outro.
Li algures nalgum sítio que o cérebro só aceita a ideia de morte se lhe for apresentada como algo que nos foi roubado (um acidente, um assassinato, por exemplo)...
Mesmo quando as pessoas têm doenças terminais e recebem visitas nos últimos dias, ninguem fala o mais óbvio... Ninguém pergunta "estás com medo?", nem ninguém suporta ouvir: "ouve, preciso preparar as coisas...testamento e isso"...

Alguém me perguntou num recente comentário como eu tinha lidado com aquela situação que relatei aqui, em que tive de fazer reanimação cardio-respiratória a um senhor em situação de emergência, que acabou por falecer. É, sem dúvida, uma questão pertinente.

A minha resposta é: por vezes ainda me recordo da face do senhor... Consigo descrever cada pormenor daquele quarto e daquele aparato - marcou-me, certamente. Nunca tinha visto ninguém a ser declarado "morto" ali, à minha frente, com a família na sala do lado, ainda na esperança. Nem nunca tinha feito uma tentativa tão invasiva, tão urgente, tão "médica" para salvar alguém... Não estava sozinha e isso foi um enorme motivo de segurança - embora tivesse treino e conhecimentos para realizar as manobras sozinhas, numa rua, se fosse preciso.
Não posso dizer que isso me afecte hoje em dia, pelo menos directamente, porque a minha vida continuou de forma natural. Ficou uma marca pessoal, como se alguma coisa na minha experiência me lembrasse que não poderei salvar todas as pessoas...

Agora divagando um pouco, eu creio que o sentido de morte e de nascimento varia muito de pessoa para pessoa, consoante as suas ideias, crenças religiosas, etc... E eu, tendo uma filosofia de vida e de morte pouco ortodoxa, creio que consigo entender que tudo não passa de um ciclo...


SOBRE A MINHA TESE DE MESTRADO

Não sei em que ano estás, mas se estiveres nos primeiros creio que não tens de te preocupar com isso agora... Ao longo do curso vão surgindo muitas matérias, muitas áreas de investigação e nasce um interesse natural. Pelo menos comigo foi assim. Eu queria fazer uma tese na área da psiquitria e pensei em algo concreto e até propus a um professor meu que fosse meu tutor. Ele achou que fazer um artigo cientifico sobre o tema do meu interesse seria complicado e ficou tudo em stand by. Passado algum tempo recebi um convite feito por uma amiga para trabalhar exactamente naquilo que tinha imaginado. Creio que mais uma vez, fui dotada de sorte.


Fiquem bem,
Obrigada pelos comentários!

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Uma inspiração para a vida

Há voltas e mudanças na vida que sabem tão bem, que só por sabermos determinadas coisas, até parece que temos mais força, ou vontade de lutar.
Foi isto que me aconteceu na última época de exames - quando não queria estudar, pensava nela; quando estava nervosa pr causa de uma oral, pensava que não podia senão enfrentar a situação, por ela... E creio que os resultados foram claramente melhores, e me senti muito menos cansada, porque tive um apoio extra - a minha sobrinha. Tem pouco mais de 15 semanas, ainda está a viver feliz no útero da minha irmã, mas já me preenche mais um pouco a vida. Na altura nem sabia se seria um menino ou menina...Vivia na ideia que seria um menino. 
Por sorte, por destino, ou por outra coisa qualquer, quando cheguei a santa maria da feira para fazer o meu estágio e fui apresentada às demais colegas, percebi que uma das médicas que estava comigo era a obstetra da minha irmã. A partir daí creio que recebi atenção especial por parte dela e da sua equipa. No final do estágio até me deixou FAZER um amniocentese.
E fui eu, através do ecógrafo, que revelei à minha irmã e cunhado que afinal as minhas suspeitas estavam erradas, e era uma menina...
Creio que o próximo semestre só pode correr bem, porque vou estudar obstetrícia/ginecologia e pediatria a pensar que há alguém na minha família que precisa de todas as informações...

Só queria partilhar que faltam apenas 3 dias para voltar para Coimbra, e que levo uma inspiração comigo!

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Interrail - a aventura que não quero perder!

Este post serve mesmo só para partilhar com todos os leitores os meus planos: fazer um interrail no final do 5ª ano.

Como o objectivo é ir de avião até Roma e começar lá, tive de planear as coisas com alguma antecedência, para ver preços... Acima de tudo, estava interessada em saber se é realizável, se tenho dinheiro suficiente... Ando a juntar dinheiro há 2 anos, com trabalhos de costura que vendo, com responsabilidades que são remuneradas na minha residência universitária (actualmente já não o faço), com o dinheiro que se vai juntando no natal e na páscoa, e até com um part-time na queima das fitas... Defendo a ideia que este tipo de aventura só tem valor se formos nós mesmos a juntar dinheiro para o realizar. Chegar perto dos pais e dizer "pai, mãe, quero conhecer a europa... Quero dinheiro." nunca fez o meu estilo, nem faz parte da minha educação.

Após contas e mais contas, após terem sido traçadas mais de 7 rotas diferentes, consegui uma viagem que me parece barata e cheia de cultura. Roma e Istambul eram as duas cidades que não podiam faltar! Bonús maravilhosos como Liubliana, Viena, Budapeste e Paris parecem-me perfeitos. O objectivo é passar certa de 2 dias em cada cidade, e fazer viagens entre paises em comboios noturnos. Ja pesquisei todas as ligações nas quais estou interessada e até a lista de hostels por cidade... Preferi começar a viagem de avião porque é mais seguro no inicio do que no fim, uma vez que se perder algum comboio ou assim, não haverá problemas. E assim posso visitar Roma em 3 dias, sem gastar dias de Interrail. Pretendo comprar um passe flexi de 10 dias de viagem em 22.



Se conhecerem amigos que já tenham visitado estes países, se vocês mesmos têm informações úteis sobre interrails, por favor não deixem de comentar.

Horário 5º Ano

Como de costume, aqui fica o meu horário do próximo ano...

Tenho aproveitado imenso estas férias de verão. Tem sido óptimo que a minha irmã esteja de férias na mesma altura que eu - fazemos companhia uma à outra nas compras e na praia. Para verem como ando totalmente abstraída do mundo, hoje acordei com a ideia de que seria sábado...

Falta apenas esta semana e mais a próxima para ir para coimbra de novo, mas nem me lembro disso, não me preocupa minimamente... Têm sido as férias mais curtas mas as melhores, desde que entrei na faculdade.

Ah! Aproveito para dizer que já terminei de ler o livro em inglês que tinha comprado! Não achei nada complicado e creio que vou repetir a experiência! Não percebi todas as palavras, mas percebi todo o sentido e aprendi muito vocabulário. 



Como habitualmente, as "opcionais" são ou à quarta ou à quinta, 1 por cada semestre. Irei escolher "Oncologia" e "Medicina Intensiva", provavelmente. E no primeiro semestre, aparece na 3ª feira duas vezes ginecologia, mas na verdade só teremos 3h por semana, ou de manhã, ou de tarde.

Boas férias!


sábado, 4 de agosto de 2012

Exame de Especialidade - as novidades

Saiu o resultado do estudo que andavam a efectuar sobre as mudanças do internato médico. Por tópicos, o que importa é o seguinte:
  • A partir de 2015 a nova prova de seriação será uma adaptada do Nacional Board of Medical Examiners, que engloba Medicina Interna, Cirurgia, Pediatria, Ginecologia/Obstetrícia, Psiquiatria, Medicina Geral e Familiar e Saúde Pública (ou seja, o que damos nos 4º e 5º anos de estudos e no 6º ano de estágio)
  • Essa prova entrará com 75% do nota final de ingresso à especialidade, sendo que os outros 25% serão a nota da média do curso. Como há enormes discrepâncias entre notas das diferentes faculdades, vão ser criado já a partir de Outubro deste ano um sistema que permita fazer a análise estatística das médias de acordo com a média de cada faculdade. Não sei se me fiz entender...
  • Eu portanto vou fazer o famoso "Harrison". Serei a "ultima geração" e para mim este exame ainda contará como actualmente, com 100% da nota para entrar na especialidade..
  • Outra enorme mudança: a partir de 2015 não haverá "ano comum". Eu, que iria em Janeiro de 2015 para o ano comum, vou então directa para a especialidade.
O que não percebo aqui neste ponto é como vão ser as candidaturas nesse ano. Porque para entrar na especialidade em 2015 estaremos então nós, e os colegas mais velhos que passaram 2014 a fazer o ano comum. Será que em vez de concorrer contra 1500 terei 3000? Não faço ideia..é assustador...

Outra coisa que terei de gerir é o seguinte: vai haver a partir deste ano um esforço para reorganizar o 6º ano, melhorando a sua qualidade. Por que se vai deixar de haver ano comum, é fundamental que os alunos saiam bem preparados do ensino pré-graduado. Esse reforço vai sem dúvida ajudar os colegas que irão fazer o novo exame, porque tudo o que virem nos estágios poderá sair. Será um exame muito prático. Nós, desgraçados que temos de estudar o Harrison, de forma geral, estamos sempre ansiosos para vir para casa, para pudermos estudar... Mas também recuso-me a chegar à especialidade sem saber o mínimo das restantes áreas, mesmo que não saiam no exame de especialidade... Vai ter de haver aqui um jogo de cintura muito bem jogado...


Até lá, ando a estagiar na Ginecologia/Obstetrícia do Hospital S. Sebastião e estou a adorar!!! Já vi muitos partos, já quase sei interpretar uma ecografia de forma completa... Acreditem que ver aquilo a preto e branco não é fácil! Mas já vi a fazer muitas..pelo menos já sei distinguir os sexos.
Fui 2ª ajudante numa histerectomia por laparotomia e for genial! Andei lá a aspirar o sangue e a fazer outras coisas! E fui 2ª ajudante ontem, numa anexectomia esquerda por laparoscopia. 
Vi amniocenteses, biópsias de vilosidades coriónicas, fetos não evolutivos, um histerocelo gigante, etc etc etc.
Estou a gostar muito do hospital em si. Creio que entrou para a minha lista de preferências!

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Mudança de Perspectiva


"Nossa sensação de contentamento sofre forte influencia da nossa tendência à comparação. Podemos aumentar nossa sensação de satisfação com a vida comparando-nos com os que são menos afortunados do que nós e refletindo sobre tudo o que temos." (by Dalai Lama e Howard C. Cutler).

Não sei se conhecem o livro escrito pelo psiquiatra Howard Cutler, mas já falei dele aqui antes. "Dalai Lama: um guia para a vida" é uma obra onde este médico conta como foi o confronto entre a realidade ocidental, que levava na bagagem da sua existência, e oriental, que encontrou no Tibete, em conversas com o Dalai Lama. Um dos capítulos é sobre a mudança de perspectiva e de como isso nos pode ajudar a ver o mundo de uma forma que nos faz sofrer menos.
Desde que o li, ficou claro para mim que essa seria a filosofia de vida pela qual me queria guiar e hoje posso dizer que me sinto uma principiante do Budismo Zen, mas não é sobre religiões e sentimentalismos que venho escrever hoje.
Hoje venho apenas partilhar, através de vários exemplos, que consegui, em várias pontos mal esclarecidos e, por isso, incómodos da minha vida, mudei de perspectiva.

Hoje fui ao centro comercial almoçar e ver umas lojas, para ocupar tempo até à hora de um compromisso que tinha às 14h30. Como é hábito, não pude deixar de entrar na Berthand. No meio de tantos livros e lançamentos, encontrei um discreto livro de Nicholas Sparks (e digo discreto porque é um livro de bolso). Já há imenso tempo que não lia nada dele, e gosto muito, por isso decidi sentar-me para ler umas passagens. Surpresa a minha quando descobro que era um livro não traduzido - estava em inglês. Sem pensar propriamente no que isso significava, decidi "Oh, vou tentar ler uma página..." e assim aconteceu. No final da mesma, pensei "Epah, que fixe! Tu até conseguiste ler tudo e entender a grande maioria... Uma ou outra palavra desconhecida, mas o sentido e contexto percebeste!"... Decidi comprá-lo.
Ontem estive 4h a falar no Facebook com uma amigo em Inglês... Lá colocava as palavras que não me lembrava entre parênteses em português e a conversa foi rolando além dos básicos "hello, how are you?". Pedi ao meu grupo de amigos que me fale aqpenas em inglês nas sms, de forma a obrigar-me a perceber e incentivar-me a responder à letra, literalmente falando.
Percebi hoje, em conversa com uma amiga especial, que mudei de perspectiva. Deixei de lutar contra o inglês. Percebi que não adiantava, não ia ganhar esta luta. Pelo contrário, fazia-me sofrer.

O tempo de férias costuma ser stressante para mim. Passo o ano todo em Coimbra e ter de voltar às regras da casa e à companhia constante dos pais perturbava-me sempre a paz de espírito. Sentia-me sem espaço.
Esta semana estive 1h depois de jantar a jogar voleibol com eles e com umas primas (sim, eles sabem jogar volei). Disse a mim mesma na viagem de regresso a casa, faz hoje uma semana, que não iria descontar neles a possível "frustação" que pudesse vir a sentir, e que teria de ter mais paciência para as coisas deles.
Durante esta semana, além dos jogos de voleibol, dediquei-me a ouvi-los, à comunicação. Sentei-me cá fora no jardim com o meu pai a falar sobre a vida num dos dias, partilhei várias coisas num almoço com os dois. Percebi então que o tempo passa mais depressa, mas de forma mais agradável. O sorriso torna-se uma constante e, da mesma forma que me dediquei a à abertura, também eles se dedicaram a respeitar o meu espaço. Deixaram de sentir necessidade de me forçar a dar-lhes atenção. Mudei de perspectiva e fiz com que deixassem de sofrer, coisa que não me agradava também.

Não é a primeira vez que falo aqui de competição e metas altas e sobre tudo o que isso me provoca. Um caso muito particular era o da especialidade. Comecei a desenvolver em mim a ideia que tinha de tirar a especialidade em Coimbra. Só podia ser em Coimbra! De tal forma que cheguei mesmo a pensar que se um dia tivesse que escolher entre entrar em Ginecologia noutra cidade, ou entrar noutra especialidade em Coimbra, optaria pela segunda opção. Os motivos eram fortes, sentimentais, mas não vem ao caso partilhá-los.
Apercebi-me numa conversa esta semana com a minha irmã que nada na vida é garantido e que não me posso prender ao mundo. Acho que só esta semana tive consciencia do seguinte:
- fazer a especialidade em Coimbra é completamente diferente de passar a vida em Coimbra! Nada é garantido, especialmente num centro hospitalar como este, onde raramente abrem vagas para os médicos especialistas passarem a fazer parte do quadro fixo do hospital. Há sempre muita gente, muitos alunos e jovens médicos para fazer o trabalho. E mesmo que abrisse, por coincidência, uma vaga para me fixar em Coimbra no final da minha especialidade, seria muito difícil EU consegui-la, porque certamente, outros médicos mais experientes e com mais curriculo que eu também tentariam a sua sorte...
Além disso, criar a ilusão de que aqui ficar é garantido e eterno pode trazer problemas, com as casas, por exemplo. Posso dar-vos o exemplo de uma médica Hematologista que terminou recentemente a especialidade aqui nos HUC e que foi minha professora das aulas práticas. Ela tem um enorme problema em mãos: precisa de um emprego, de um lugar num hospital público e este ano só abriram vagas em...FARO e GUARDA. Ela, que já tinha cá comprado casa, vai ter de vender tudo (neste tempo de crise acredito que não seja fácil) e comprar outra numa das cidades para onde for trabalhar.
Por isso, mudei de perspectiva e percebi que o importante é ser feliz, estar com as pessoas que se ama ao lado, não propriamente ficar em Coimbra. Se for pra outra cidade qualquer do pais fazer a especialidade, perfeito igual - vou conhecer outras coisas e outras pessoas. Se no final da mesma não puder voltar, se até puder emigrar, perfeito igual, se for para ser feliz.
Este pensamento ajudou ainda a diminuir a minha pressão e competição - já não tenho de tirar 90 no exame de especialidade para garantir um lugar AQUI. Posso tirar só 80 para conseguir apenas UM LUGAR... Já não tenho de ficar preocupada que o vizinho seja melhor que eu e fique com esta vaga AQUI que eu também quero... Tenho só de fazer o meu melhor, para ter UMA VAGA...

Poderia continuar a dar exemplos, mas creio que o post já está grande o suficiente! Deixo apenas este link, para os curiosos:
http://www.unimedlins.com.br/noticias/dalailama.pdf

Até breve!

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Mundo Poliglota

Não é novidade nenhuma dizer que hoje o mundo fala inglês. Os artigos científicos, por muito bons que sejam, se não forem traduzidos e remetidos a uma revista internacional, ficam perdidos, perdem o valor... As conferências são, na maior parte das vezes, em inglês, ainda que o país anfitrião seja conhecido. Os programas internacionais para estudantes de Medicina exigem igualmente nível de conversação razoável.

Neste preciso momento, tenho amigos meus na Sérvia, Turquia, Eslováquia e outros países. Foram fazer um Intercâmbio clínico ou Laboratorial, conforme o gosto. Como é um programa internacional pensado especialmente em nós, o preço é irresistível - 200 euros por um mês, com alojamento em residências universitárias e refeições incluídas. O aluno paga estes tais 200 euros, 40 euros de seguro, e a viagem. O que quer dizer que se for colocado ali na vizinha Espanha, fica bem barato...

Cada país e cada programa tem as suas exigências: a língua de comunicação entre os vários elementos do grupo é o universal inglês, mas depois se formos para Itália pedem um nível básico de italiano, e por aí adiante. 
Eu tenho o nível A2 de Espanhol, por isso pensei em candidatar-me, até que descobri que teria de fazer um exame em inglês, cuja pontuação entraria na pontuação geral do aluno, que é complementada por pontos conforme o ano que frequenta, se faz ou não voluntariado, se participa em algum Pelouro da Faculdade ou não, etc...
Desisti, portanto. Perdi uma oportunidade genial por não saber falar. É ridículo não é? E as pessoas à volta pensam: "Como assim, não sabe falar inglês? Não teve 7 anos na escola? E se entrou em Medicina é porque era boa a tua, não?"
E eu respondo: sempre me esforcei muito nas aulas para que aquilo que não sabia falar, pudesse escrever. Os meus testes sempre foram bons, a oralidade passava despercebida no meio de 25 alunos... Da mesma forma que não gostava de Filosofia e terminei a cadeira com 19, também não gostava daquela língua e terminei-a bem. Não...os alunos de Medicina, salvo raras excepções, não são geniais a tudo...

Mas agora a realidade é completamente diferente. Nos congressos e nos intercâmbios não podemos andar com o dicionário atrás e escrever papeis. A oralidade é a essência da comunicação.
Tinha prometido a mim mesma que algum dia teria de enfrentar esta falha e corrigi-la e pretendia fazê-lo no próximo ano, tirando um curso na Faculdade de Letras, assim como tirei no meu 3º ano o Espanhol. Acontece o seguinte: eu não tenho tempo! É estranho dizer isto, porque sempre batalhei por uma filosofia de vida que diz que as 24h são suficientes para tudo, basta saber geri-las. Mas no próximo ano as cadeiras são todas de extrema importância. Não vai haver nenhuma que nós saibamos que não será muito útil para a nossa vida futura... Para o ano teremos Cardiologia, Pediatria, Pneumologia, Reunatologia, Infecciologia, Ortopedia, Ginecologia, Obstetrícia... E independentemente da área que seguirmos depois, temos que dominá-las, pelo menos  no mínimo. Temos que fazer a Tese de Mestrado, para não deixar trabalho extra para o 6º ano. Temos de começar a olhar para o harrison - não estuda-lo afincadamente, mas olhar para ele à fase que vamos dando a matérias nas aulas... Eu continuarei a ter os meus turnos de 8h/semana na Cruz Vermelha e continuo a precisar de tempo para descansar um pouco e desligar do mundo... 

Não sei se sou eu a adiar de novo o que temo enfrentar, ou se sou eu a ser verdadeiramente racional, mas sinto-me em dificuldades para decidir prioridades. Se quiserem dar uma opinião, agradeço!

quinta-feira, 19 de julho de 2012

"Primeiro dia de Férias"

Quem me acompanha há algum tempo sabe perfeitamente o que sinto hoje: é o chamado "primeiro dia de férias" e isso, por si só, dá-me imensa alegria. Não pelas férias em si, que na maior parte das vezes até nem são grande coisa, mas por isso significar que mais um ano está terminado, com todas as cadeiras "arrumadas", como se diz na gíria universitária.
Ontem fiz o último exame - Endocrinologia, e amanhã as notas já estão cá fora. Mas este foi o "último exame obrigatório", porque regresso a Coimbra na próxima semana para mais 3 dias de algum trabalho. Na 3ª apanho o Alfa Pendular das 8h, passados 45 minutos estou em Coimbra e às 10h faço melhoria de Cirurgia. Não sabemos ao certo o que aconteceu, mas todo o curso tirou entre 10 e 12... Ficamos todos com as bocas abertas de espanto. Eu fiquei incrédula, tinha mesmo corrido bem! Como cirurgia faz média interna com Oftalmologia, e como tive uma boa nota nesta última, não me posso render à preguiça... De 3ª para 4ª faço turno na Cruz Vermelha e nesse dia de manhã vou tratar de arrancar com a minha tese de Mestrado. Fico grata por ter tido a sorte de encontrar uma tutora tão dedicada, que se propõe a trabalhar no verão para que "no próximo ano se possa começar a trabalhar a sério na primeira semana". De 4ª para 5ª de novo turno na CVP e às 8h30 do dia seguinte melhoria a Ética. Só mesmo porque já lá estou, porque a vontade não é muita... E pronto, a bem dizer as minhas férias começam só daqui a uma semana!

Depois o plano é ir estagiar 2 semanas no Hospital S. Sebastião, em Santa Maria da Feira, no serviço de Ginecologia/Obstetrícia durante as manhãs, e ir pra praia à tarde... Aproveitar ao máximo os poucos dias de férias que tenho. Dia 3 de Setembro regresso à faculdade, para enfrentar o ano que sempre quis alcançar - o 5º.

Até breve!

terça-feira, 10 de julho de 2012

Último exame à vista!

Hoje fui à secretaria e vi no horário: "Aberto às 2ªs e 5ªs das 9h30 às..." e bate à porta. Ninguém respondeu. Tudo fechado - "Estranho" - pensei. Fui solicitar ajuda noutro departamento: "Bom dia, desculpe o incómodo... queria só saber se hoje sempre vão abrir a secretaria...Diz na porta que abre às 2ªs e 5ªs mas esta fechado..." 
- "Pois...2ªs e 5ªs..." - olharam para mim com cara de parvos.
- "Hoje não é 2ª?" - perguntei incrédula.
- "Hoje é terça, menina..."

Pois bem, ando em exames há mais de um mês e sinto que me perdi no tempo. Acordo cedo e estudo todo o dia. O dia seguinte é igual. Os intervalos são as horas de refeição (ainda bem que faço 6) e uns 5 ou 10 minutos que vou perdendo de tempos em tempos a olhar para a janela...(vicio maldito que adoro, que me permite perder-me em pensamentos, que costumam ser de tudo, excepto da matéria)...
Este fim de semana foi a verdadeira corrida. Como a minha amiga se foi embora, não pude deixar de sair com ela, de a ajudar nas arrumações, de lhe preparar o jantar... e o tempo de estudo de Epidemiologia ia passando, sem eu estudar...Ontem foi o exame e creio ter sido um desastre. Nada que não tivesse à espera e que não aceite de bom agrado. Como já o disse várias vezes, no topo da minha lista vêm as pessoas, só depois a média e o curso propriamente dito.
Portanto após aquela correria decidi "Hoje nao faço mais nada!" e assim foi. Fui ao cinema e passei a noite a ver tv.
Hoje a boa vida terminou a às 8h30 estava sentada na biblioteca a estudar... Enfim, ossos do ofício... Felizmente a última oral do 4º ano é na próxima 2ª feira, e o exame na 4ª. Depois, é arrumar as tralhas e ir para casa...
(Vou ter de regressar na semana seguinte para prepara a minha tese de Mestrado e para fazer uma melhoria, mas nada como saber que se está ali porque se quer, e não porque se tem uma cadeira para fazer).

E agora? Agora vou estudar Endocrinologia. Era suposto o meu intervalo de jantar ter terminado às 21h. Ligar o computador é sempre sinónimo de asneira. =P

Beijos a todos! E obrigada por todo o apoio e interesse que vão deixando, através dos comentários e do número de visitas ao blog, que não pára de crescer! Obrigada!

domingo, 8 de julho de 2012

Coimbra tem mais encanto na hora da despedida...

Há já algumas gerações que se ouve este fado em Coimbra, e é e será sempre eterno e verdadeiro... Coimbra é de facto uma cidade especial. Tem o tamanho e o ambiente que considero perfeitos. Tão depressa se está na antiga baixa, perto do rio, perdidos pelos ruelas de comércio, como se está na alta, perto das sés, das faculdades, da cabra...
Onde quer que se vá, existem estudantes trajados, existem caloiros perdidos e existe um povo que acolhe e adora quem sabem estar de passagem...
E assim se vai fazendo um curso, anos e anos afio, achando sempre tudo uma eternidade, até que o último dia chega e só nos apetece prolongar por mais um pouco aquilo que sabemos que não voltará atrás... Fica a esperança do que vem depois ser tão bom quanto o que passou...
Esta sexta-feira terminou mais um ano de estágios para os colegas do 6º ano - são médicos! E a minha melhor amiga, felizmente englobada nesse grupo de jovens aquisições médicas de Portugal, foi hoje embora. 
Chorei tanto que creio que o Mondego subiu... Mas à frente dela, sempre o sorriso de um profundo e verdadeiro orgulho... Orgulho por ter feito um curso longo, difícil e cheio de obstáculos com tanto amor...Orgulho por ter tanta sensibilidade para os doentes,para a vida.
Por isso este post hoje é para ela, só para ela... Porque hoje Coimbra ganhou outro sentido para mim... Deixou de ser o nossa cidade para passar a ser o lugar de bonitas lembranças, que eu sei que irão ser frequentemente reavivadas com mais e melhores recordações...

Obrigada, por teres invadido o meu quarto e por me teres feito chorar no início e no fim!

domingo, 24 de junho de 2012

Que comece a bendita época de exames!

Fico meia parada a olhar pela janela: já sei de cor a paisagem. Quando surge uma novidade (alguém a passar, o tempo que muda, a noite a chegar) há uma tentação de dirigir a atenção para lá. Tudo é mais empolgante do que ver os slides de Hematologia pela 13ª vez... Não sei o que é mais estranho: se faltarem algumas horas para o primeiro exame teórico dos últimos do 4º ano, ou se exactamente isso, serem os últimos do 4º ano.

Confesso que não me apetece voltar a falar da época de exames. Para ser sincera, ainda não se me parece que estou numa. Obviamente que já sinto as dores lombares de passar o dia todo a estudar...já sinto a cefaleias de tensão à noite que me pedem para acabar o estudo... Ouço o relógio despertar todos os dias cedo, já depois do meu cérebro se ter encarregado de me acordar, com possíveis perguntas da matéria... Ainda assim, e uma vez que o prognóstico é ficar cá até aos finais de Julho...não me posso cansar já. 
Não, desta vez não me sinto desmotivada, nem sinto inveja das pessoas que se vão embora de malas feitas, para voltarem só no final de Setembro, quando eu já cá andar há 2 ou 3 semanas de novo... Sinto uma total indiferença, e só quero fazer o meu trabalho bem feito (ou tentar, pelo menos).
Desde sempre tive uma regra: em dias de exames não se estuda (pelo menos, com aquele apreço). Nas vésperas resmunga-se e...não se estuda eficazmente. Sai-se de casa com apenas o estritamente necessário, e isso não inclui 25 canetas, porque a 1ª poderá falhar, nem os resumos, nem os slides das aulas... Inclui apenas eu, o meu cérebro, e uma caneta azul. 
Hoje ainda não me parece véspera de nada, no entanto sei que amanhã às 12h30 começa o exame (sim, hora ridícula...não prometo que a minha barriga não resmungue). 

Portanto, que comece a bendita época de exames! Porque só assim chegarão as férias, e o tão desejado 5º ano!

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Reflexões sem Lógica

Pois bem, neste post vou deixar que os dados da direcção geral de ensino superior falem por mim, apenas para que possam reflectir sobre o assunto mais falado e mais polémico da Medicina nos últimos tempos...